O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.

Um dos muitos países pelos quais Gustavo Ribeiro passou enquanto profissional de futebol foi Espanha. O antigo atacante passou por SD Compostela [2006/07] e Lalín [2007/08], sendo que as histórias marcantes multiplicaram-se nos anos em que esteve do lado de lá da fronteira.

«A zona de Vigo é muito conhecida pelo polvo, então lembro-me perfeitamente que o Caneda, histórico presidente do Compostela, só me oferecia polvo quando estávamos no processo de assinar o contrato. Ele dizia-me que podia ir a qualquer restaurante da cidade e tinha polvo à minha disposição [risos]. Era uma pessoa controversa, mas comigo sempre foi 'cinco estrelas'. Num dos primeiros jogos que fiz, ele saiu a correr pelo estádio, saiu da poltrona na zona presidencial e veio até ao relvado porque queria bater no árbitro com um guarda-chuva», começou por recordar Guti, que foi ainda mais fundo no baú das memórias com o histórico presidente:

«Depois do último jogo da época, eu já sabia que não ia continuar e convidei os estrangeiros todos para um jantar de despedida. Disse-lhes para pedirem o que quisessem, que ficava por minha conta. Pedimos polvo, tortilhas, camarão, sangria... Quando fomos ver a conta no final só pensei 'Como é que vou pagar a conta?'. Como eu já tinha bebido um copito a mais, lembrei-me de ligar ao presidente e só lhe disse que não conseguia pagar [risos]. Ele apareceu pouco depois e pagou-nos praticamente tudo, eu só meti 200/300 euros.»

No ano seguinte, no Lalín, o também antigo internacional de futebol de praia teve um arranque... impactante.

«Na primeira vez que me reuni com o presidente ficou tudo alinhavado, mas ficou combinado que nos encontraríamos mais tarde nesse mesmo dia para limarmos arestas e assinar em definitivo. Ele deu-me um endereço e, perto da hora combinada, chamei um táxi. O taxista viu o endereço e só me disse "Tu não és o Guti que vem para o Lalín? E já queres ir para aqui?". Eu só respondi "Quem me indicou isto foi o meu presidente, vou lá ter com ele". Cheguei e dei de caras com um casarão enorme, sendo que subi logo ao escritório dele e assinei os papéis que faltavam do contrato. Depois de o fazer, o presidente disse-me para descermos até ao bar que tinha no piso inferior e sentámo-nos lá a conversar um pouco.

Quando me apercebo, tenho duas mulheres a chegar junto a mim, uma de cada lado. Perguntei ao presidente quem eram e ele disse-me que eram amigas deles. Quando o questionei sobre o local onde estávamos, ele só me respondeu "Oh Guti, é um dos negócios que tenho"- era um bordel e ele tinha mais cinco! Elas ficaram lá um bocado, mas entretanto pedi ao presidente para ficarmos os dois sozinhos a beber o nosso copo [risos]», rematou.

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