Há uma certa dificuldade em nos habituarmos à versão speed up do hino português que a organização do Mundial resolveu pedir ao DJ que passasse. Mas é bom que o façamos, porque esta seleção veio mesmo para ficar.

Mais do que qualquer outra equipa do grupo E, Portugal vai para a main round numa posição favorável a alcançar os quartos de final (objetivo estabelecido pelo grupo), o que corresponderia a uma participação histórica. Com o terceiro triunfo em três jogos, a equipa de Paulo Pereira segue para a próxima etapa com quatro pontos e uma confiança que só uma vitória contra a poderosa Noruega pode dar.

Na prática, o jogo contra os nórdicos dizia respeito à fase de grupos. Acontece que, uma vez que Portugal tinha já assegurado um lugar na main round, o importante era moldar as condições de chegada a esse momento. Tudo porque os pontos amealhados na fase de grupos contam para a main round podendo ser uma vantagem preciosa. Fruto do cruzamento entre os três primeiros classificados do grupo E com os do grupo F, na main round, Portugal vai encontrar-se com Suécia, Espanha e uma terceira seleção (Chile ou Japão).

Beate Oma Dahle

O jogo diante da Noruega começou por ser disputado taco a taco e deu a Portugal a estabilidade de que precisava para voltar a ganhar a uma equipa que bateu no último Europeu. A equipa de Paulo Pereira estava a demonstrar uma boa paleta de soluções, conseguindo ligações com os pivôs, sobretudo Luís Frade, e remates de primeira linha. Eram bons sinais face a um adversário que, em ataque organizado, demonstrou dependência de Simen Lyse (nove golos em 12 remates).

Os gestos à aranhiço de Gustavo Capdeville na baliza deixaram a Noruega presa na teia. As valiosas ações entre os postes entrançavam na eficácia de Kiko Costa que, ora aos 10 metros, ora aos 6, mantinha a mão quente. A julgar pelo desempenho do irmão mais velho Martim na vitória frente ao Brasil (30-26), bem podemos acreditar que é qualidade que lhe foi passada como alguns brinquedos. Enquanto isso, Pedro Portela chegou à meia tonelada de golos por Portugal e se quisesse ir além dos 500, bem que os Heróis do Mar agradeciam já que ganhavam por uma margem insignificante ao intervalo (13-14).

Cinco minutos depois da segunda parte ter começado, Sander Sagosen fez o 16-15 e, pouco depois, a Noruega já tinha três golos de vantagem com o público afeto à seleção anfitriã galvanizado. Foi apenas um desconto de tempo, mas caiu como uma botija de oxigénio para, no pior momento no encontro, Portugal voltar a reentrar na discussão.

Durante alguns momentos, Kiko Costa ocupou a posição de central, ou seja, a zona encefálica da equipa. Por estar suspenso preventivamente devido a um alegado caso de doping, Miguel Martins desfalcou a seleção. Sendo Rui Silva o único central de origem disponível, Paulo Pereira chamou inclusivamente André Sousa, jogador do ABC, para compor a posição.

Beate Oma Dahle

Gustavo Capdeville manteve o nível de início ao fim e na maniqueísta cadência que tem um jogo de andebol, em que o que é feito na defesa tem que ser confirmado no ataque e vice-versa, Salvador Salvador foi alvo de uma rara aposta para servir de referência no esquema ofensivo e alavancou a recuperação. De igual modo, João Gomes, outra solução menos óbvia, também correspondeu.

Salvador Salvador deixou Portugal a ganhar por dois golos a um minuto e uns pozinhos do final. Gustavo Capdeville carimbou o seu heróico desempenho (15 defesas em 41 remates) com mais uma defesa em que a probabilidade de travar o remate era baixíssima. A Noruega ousou tentar um milagre e acabou por ser ainda mais penalizada (28-31).