
Setenta e um dias depois do último jogo como visitado, triunfo, por 3-0, sobre o Nacional, a 17 de maio, ponto final no campeonato e numa temporada para esquecer que se prolongou em tons igualmente sombrios no Mundial de Clubes, exceção à conquista da Supertaça, o FC Porto voltou ao Dragão. Um estádio remodelado por obras de pintura e outras recebeu também uma equipa renovada, transfigurada para melhor — nem era difícil, tal a pobreza evidenciada no passado recente... — a avaliar pela exibição que se traduziu no 2-1 selado com reviravolta frente ao Twente.
No primeiro aperitivo da época à porta aberta — após vitórias sobre Trofense (4-0), a 19 de julho, e Feirense (2-1), ontem de manhã, longe de olhares indiscretos — percebeu-se que não ficou pedra sobre pedra nos conceitos de Martín Anselmi. O 3x4x3 que o argentino trouxe do México em janeiro, quando substituiu Vítor Bruno, caiu no esquecimento a favor do 4x3x3 de Francesco Farioli.
O treinador italiano, em estreia na nova casa, de pé ativo nas indicações para o relvado, apostou em quatro reforços no onze. Dominik Prpic, central à esquerda, Victor Froholdt, interior direito, Gabri Veiga, no lado contrário mas a pressionar mais próximo de Samu, e Borja Sainz, extremo-esquerdo, foram os escolhidos. Com bola, os azuis brancos procuraram sair a jogar desde o guarda-redes, tiro de partida para o ataque dado na pequena área por Diogo Costa. As qualidades a construir de Prpic, o raio de ação alargadíssimo de Froholdt, passada larga que deixa água na boca aos adeptos, o toque de bola de Gabri Veiga e a verticalidade de Borja Sainz valeram nota positiva aos estreantes.
A defender, pressão alta logo na área do adversário e uma marcação baseada em referências individuais em toda a extenção do campo, diante do sexto classificado da Eredivisie, um Twente a honrar o tradicional futebol neerlandês de bons executantes e preocupação permanente em tratar a bola com carinho.
Em absoluto contraste com o ocaso de 2024/25, o FC Porto mostrou ser uma equipa organizada e com um plano, embora ainda não seja capaz de o colocar em prática na plenitude. Boas notícias para os portistas, portanto.
Apelidar de amigável o encontro de ontem no Dragão não corresponde à realidade do que se assistiu na primeira parte. Demasiadas picardias, iniciadas nos duelos de fazer faísca entre Van Wolfswinkel — ponta de lança representou o Sporting entre 2011 e 2013 — e Prpic, separados por 15 anos (36/21), foram rastilho que contribuiu para várias explosões. À beira do intervalo (43'), Carlos Macedo perdeu a paciência e expulsou, sem margem para contestação, Gabri Veiga e Unuvar, que se envolveram na sequência de uma primeira falta do espanhol que não justificava a reação tempestuosa do turco e a contra-reação desnecessária do ex-Al Ahli.
Gabri Veiga, diga-se, que protagonizara a oportunidade mais flagrante dos dragões nos 45 minutos iniciais, remate ao poste antecedido de receção exímia a indiciar que é mesmo reforço. O Twente, esse, assustara apenas num desvio de Nehuén Pérez para a própria baliza que afortunadamente para o central argentino bateu no poste.
Dez para dez na segunda metade, equilíbrio de forças em inferioridade numérica que tanto Francesco Farioli como Joseph Oosting dispensariam sobretudo nesta fase preparatória das batalhas que se aproximam. Van Bergen, numa boa jogada, inaugurou o marcador, disparo de pé esquerdo desferido sobre a direita, à entrada da área, aos 52'.
Nove minutos mais tarde, Eustáquio, Rodrigo Mora e William Gomes substituíram Froholdt, Pepê e Borja Sainz. Como encaixar Mora neste 4x3x3? Esta é pergunta que se fará quando o jovem de 18 anos começar no banco, mas o talento encontra sempre espaço para aparecer em cena. E por falar em talento, nota de destaque para William Gomes. O extremo canhoto brasileiro, encostado à direita, atirou à trave antes de Samu fazer a recarga e empatar (65'). Ao cair do pano, sofreu falta na área que transformou em golo na marcação do penálti (90+1'). Um reforço de janeiro que promete...