O diretor desportivo do Barcelona, Deco, foi um dos ilustres convidados do Congresso de dirigentes para celebrar o 30.º aniversário da ANDIF e, num painel sobre a gestão desportiva em clubes de elite, abordou a forma como o seu trajeto no clube blaugrana se iniciou, embora tenha salientando assuntos específicos, como a chegada de João Félix ao clube, em 2024, por empréstimo do Atlético Madrid. 

"O João fez um ano muito bom, mas nós não podíamos ficar com ele, o clube dele não o queria vender e ele acabou por tomar uma decisão. Acabou por tomar a decisão de ir para o Chelsea", realçou o ex-médio, admitindo que o emblema catalão tentou contratar o internacional português mais cedo, esbarrando nas decisões do Atléti. 

E prosseguiu com alguns reparos sobre o trajeto do criativo no Barcelona. "Ele não vai só viver momentos bons, vai viver momentos difíceis. Por mais que acredites que és o melhor, há momentos em que não vais jogar. O João é um miúdo maravilhoso, mas às vezes parece que dá a sensação que desiste demasiado cedo porque quer procurar sempre um lugar no onze. As decisões nem sempre são justas. Se o Barcelona tivesse dinheiro, ficaria com ele? Ele fez um ano muito bom, mas não tínhamos condições", referiu. 

Chegada ao Barcelona e projeto: "Desde que o presidente Joan Laporta venceu as eleições, há quatro anos, o clube estava numa situação complicada, em que tínhamos que fazer uma equipa e não era uma tarefa fácil. Esta época acho que é fruto do que estávamos a fazer há uns anos. Na época passada houve crescimento, mas o resto não aconteceu, por várias razões. Havia muitos problemas e houve sempre referências para o que queríamos melhorar, como preparação física, trabalho de força e trazer pessoas dedicadas para isso. Nós começamos ao contrário. Faltava staff, o treinador teve um staff novo, gente de qualidade fora do clube. Tentámos melhorar a parte da força e da condição física, porque a parte técnica já estava no clube, era uma especialidade."

Conviver com o treinador: "O clube não tinha uma estrutura própria, não tínhamos nos últimos anos. O clube era uma referência. Eu vi que faltava chegar ao nível que o Barcelona deve estar. A ideia é melhorar tudo o que era a base. Foi algo que fizemos, recuperar o que o Barça tinha, porque os clubes têm de ter estruturas próprias, isto, os clubes que têm capacidade, e que não podem viver em função dos treinadores. Uma coisa é teres uma estrutura, mas o treinador é que a aceita ou não a aceita. Uma coisa é definir o staff com o treinador, mas acho que a estrutura básica é ter o que os treinadores precisam. O treinador, com uma boa base, acaba sempre por se adaptar. Essa época foi muito boa em termos de staff, trabalhar bem é muito difícil, o staff do clube e o treinador foram as chaves deste ano." 

Identidade: "Acho mais que a cultura de jogo e de os adeptos prende-se por gostarem de futebol ofensivo. O futebol traz felicidade e os adeptos do Barcelona querem ganhar e isso cria ilusão. Nós queríamos uma forma de jogar que, para quem é adepto, o atraísse."