Consegue imaginar o seu clube a sagrar-se campeão e, seis meses volvidos, ocupar o último lugar da tabela?

Para o comum adepto de futebol, este cenário dantesco não passa de uma miragem, produto de uma imaginação fértil, ou uma distopia distante e impossível de representar a realidade.

Os festejos dos jogadores do LA Galaxy após conquistarem, em 2024, o sexto título da MLS @Getty /

No entanto, o desporto rei é uma autêntica caixinha de surpresas e casos destes, ainda que sejam raros, existem. O mais recente exemplo chega-nos da MLS e tem como surpreendente protagonista o poderoso LA Galaxy - o maior vencedor da competição.

Do céu ao inferno em 16 longos atos. Esta premissa podia ser o título de um enredo teatral, mas representa, na verdade, o estado atual dos Galaxy, visto que conquistaram, em dezembro de 2024, o título norte-americano - triunfo por 2-1 na final, frente aos NY Red Bulls - e ocupam, agora, o último posto da classificação.

LA Galaxy
Major League Soccer 2025
17J
1V
4E
12D
15-36G

Com quatro empates e 12 derrotas em 16 partidas, o conjunto de Los Angeles rubricou o pior arranque de um campeão na época a seguir ao título na história da MLS. A primeira vitória surgiu somente na madrugada do passado domingo (1 de junho), à 17.ª jornada, diante do Real Salt Lake.

Mas, afinal, quais são os motivos para este momento e arranque atípicos do LA Galaxy na época de defesa do título? Falta de planeamento, problemas táticos ou simplesmente... azar? O zerozero foi atrás das (possíveis) respostas.

Lesões, permeabilidade defensiva e um goleador de saída

Esta quebra de rendimento do LA Galaxy está associada a vários fatores, desde lesões que afastaram elementos cruciais do plantel a longo prazo até à saída do principal goleador da época transata, passando ainda pelas exibições aquém do esperado dos senhores da baliza.

O desfalque de maior relevo prende-se com a ausência da Riqui Puig, o maestro que costuma pautar a música produzida pela orquestra galáctica. O criativo, de 25 anos, sofreu uma lesão grave - rotura do ligamento cruzado anterior do joelho- e foi alvo de uma intervenção cirúrgica, pelo que ainda não disputou qualquer partida em 2025.

Na época anterior, o médio foi peça fundamental no conjunto orientado por Greg Vanney, tendo participado em 36 partidas e anotado 17 golos e 14 assistências. Recorde-se que o ex-Barcelona jogou 30 minutos lesionado, nas meias da MLS, e ainda assistiu para o golo da vitória.

Outro reforço de peso que esteve nas sidelines na reta inicial da época é Marco Reus. Contratado em agosto de 2024 ao Borussia Dortmund, o germânico ainda só disputou 22 partidas na MLS pelo novo clube. Além da falta de ritmo, o experiente avançado tem sido assombrado, nos últimos anos, por sucessivas lesões.

Esta temporada, Reus participou apenas em 12 dos 21 encontros disputados pelo atual campeão norte-americano. Uma lesão no joelho - um problema que o incomoda «desde o ano passado» - afastou-o dos relvados durante pouco mais de um mês, tendo recuperado recentemente a titularidade. Ainda assim, a sua importância no miolo dos Galaxy é inquestionável.

Ainda no campo das ausências, destaque para as saídas no mercado de transferências de Dejan Joveljic e de Mark Delgado. O avançado sérvio foi o melhor marcador do conjunto de Los Angeles em 2024, com 21 tentos apontados. Já o experiente médio de 30 anos, por seu turno, participou em 40 partidas na época transata e era um autêntico pilar no meio-campo dos campeões.

Em termos coletivos, a permeabilidade defensiva tem sido um dos aspetos mais criticados por parte dos adeptos. Em 17 jogos, o Galaxy sofreu 36 tentos, o que representa uma média de 2,11 golos sofridos por jogo. Greg Vanney precisa, ainda, de decidir qual é o seu guardião titular, uma vez que tem alternado entre Novak Micovic e John McCarthy.

Ora, esta rotatividade numa posição tão crucial, aliada às várias mexidas no setor defensivo, levam a falta de rotinas, entrosamento e, acima de tudo, falta de confiança. Aliás, alguns dos golos sofridos resultaram de lances caricatos, onde foi visível a falta de comunicação. Apesar do clean sheet frente ao combalido Real Salt Lake, o conjunto de LA permitiu que os forasteiros anotassem 19 remates. Demasiados para um jogo (supostamente) controlado desde o minuto 13.

Situação equiparada? Só em 2006 pelo... LA Galaxy

Tal como a moda, também a história tende a ser cíclica. Apesar deste arranque ser o pior de um campeão em toda a história da MLS, existem também dois casos de temporadas em que o emblema titulado teve um início de época bastante atribulado.

LA Galaxy
Major League Soccer 2006
32J
11V
6E
15D
37-37G

Dois cenários ligeiramente semelhantes, protagonizados pelo suspeito do costume: LA Galaxy. O anterior pior registo pertencia já ao conjunto de Los Angeles e remonta ao longínquo ano 2006, quando os galáticos somaram três vitórias, três empates e dez derrotas nos primeiros 16 jogos do campeonato.

Antes disso, a reta inicial da turma de LA em 2003, após conquistar o título da MLS na temporada anterior, foi também algo atribulada, com um registo de três vitórias, sete empates e seis derrotas em 16 partidas, somando, entremeio, uma sequência de oito jogos consecutivos sem conhecer o sabor da vitória.

SJ Earthquakes
Major League Soccer 2014
34J
6V
12E
16D
35-50G

Outro dado curioso prende-se com a reta final de temporada dos SJ Earthquakes em 2014, após terem sido campeões na época transata. Os Quakes findaram a temporada 2013/14 com uma sequência de 15 jogos consecutivos sem vencer - sete empates e oito derrotas para fechar a temporada.

Ainda assim, os LA Galaxy igualaram o pior feito em termos de partidas sem triunfar, com um total de 16 encontros sem alcançar a vitória. Esta negativa marca pertencia aos Houston Dynamo e à sua sequência de duelos sem vencer - no total, registaram oito empates e oito derrotas em 16 jogos.

Nas ligas dos 16 melhores países, este é o pior arranque de um campeão

O tenebroso início de época em LA levantou uma grande dúvida durante a análise realizada pelo nosso portal. Então, este é, ou não, o pior arranque de um campeão nos últimos tempos?

Com a preciosa ajuda do nosso PlaymakerStats, e atendendo somente às principais ligas das 16 melhores nações - segundo o ranking da FIFA -, a senda negativa do Galaxy representa, de facto, o pior arranque de um campeão no século XXI.

O técnico Gustavo Quinteros a erguer o troféu do campeonato argentino @Vélez Sarsfield/ Divulgação

Esta marca - iniciar a época com 16 jogos sem conhecer o sabor da vitória no campeonato - isola-se de forma contundente na liderança de uma restrita lista, composta também por Vélez Sarsfield e Nantes.

O emblema argentino foi campeão em 2024 e arrancou a temporada da defesa do título, em 2025, com oito jogos sem conhecer o sabor da vitória. Já o conjunto francês só alcançou a primeiro triunfo na época 2001/02 - após ter sido campeão no início do século - à 12.ª jornada - quatro empates e sete derrotas.

«Se chegarem aos playoffs rapo o cabelo, pinto de loiro e tiro o bigode»

Face ao momento dos atuais campeões da MLS, as críticas não são o único aspeto que se multiplica. Também as promessas dos adeptos, em caso de um milagre, começam a ganhar força e algumas são, no mínimo, inusitadas.

Sacha Kljestan, antigo médio da turma de Los Angeles e atual comentador do programa MLS on AIR, da AppleTV, acredita ser «impossível» os galáticos alcançarem os playoffs esta temporada.

Ainda assim, caso esse cenário se venha a confirmar, o ex-jogador de 39 anos admite «rapar o cabelo, pintar de loiro e tirar o bigode», sendo este último um traço característico de Sacha há largos anos.

Dax McCarty, experiente médio de 38 anos, estava também presente no painel de comentadores e mostrou-se cético quando questionado sobre as hipóteses dos Galaxy alcançarem a fase decisiva da MLS.

«É altamente improvável, precisam de protagonizar uma reta final histórica. Se continuarem a defender assim, não vão conquistar triunfos a jogar fora de portas. [Rapar o cabelo?] Não o faço, mas pinto de loiro e deixo crescer o bigode», confessou, entre risos.

Conseguirá o LA Galaxy aproveitar a pausa internacional para recarregar baterias, afastar os fantasmas e apontar a uma segunda volta quase perfeita, mantendo o sonho dos playoffs vivo?