
Cinco anos após o final da II Guerra Mundial, o futebol europeu de clubes tinha duas grandes provas internacionais: a Copa Mitroca (entre os campeões dos países do centro da Europa) e a Taça Latina (entre os campeões de França, Espanha, Portugal e Itália). Na primeira edição, em 1949, o Sporting chegara à final, mas perdera-a para o Barcelona (1-2), mesmo com a sua equipa de luxo: Azevedo; Barrosa e Manuel Marques; Juvenal, Canário e Veríssimo; Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano.
A segunda, em junho de 1950, realizou-se no Estádio Nacional e teve o Benfica como representante português. E foi há exatos 75 anos que o Benfica venceu a segunda edição da Taça Latina. A prova realizou-se em Portugal entre 10 e 18 de junho de 1950, dias antes de ter começado, no Brasil, o Campeonato do Mundo.
As meias-finais foram um Benfica-Lazio e um Bordéus-Atlético Madrid. As águias eram campeãs de Portugal, os girondinos eram campeões de França, os colchoneros eram campeões de Espanha e só os laziales não eram campeões de Itália. Tinham sido quartos atrás de Juventus, Milan e Inter. Estes três declinaram participar na Taça Latina em virtude de terem jogadores no Mundial do Brasil. Inter com Amadei, Campatelli, Fattori, Giovannini e Lorenzi; Juventus com Boniperti, Mari, Muccinelli e Parola; Milan com Annovazzi e Tognon. A Lazio tinha Furiassi, Remondini e Sentimenti entre os convocados por Ferruccio Novo para o Mundial 1950, mas, mesmo assim, participou na Taça Latina.
A BOLA, a 5 de junho, falava assim da prova: «A época de 1949-50 vai ter como fecho das suas provas oficiais o torneio da Taça Latina, competição internacional iniciada em Madrid, na época passada, e cuja organização, por turno, cabe desta vez a Portugal. Esta prova, a que podíamos também chamar de torneio das Quatro Cidades — Lisboa, Madrid, Roma e Bordéus — tem uma projeção internacional que se torna desnecessário encarecer e que resulta do grau de desenvolvimento e da enorme popularidade que o futebol desfruta nas quatro nações interessadas.»
«No ano passado, o nosso representante na prova foi o Sporting, cujo comportamento na final, contra o Barcelona, campeão de Espanha, foi brilhantíssimo. A representação portuguesa está, desta vez, confiada ao Benfica. Chegou a recear-se que o popular clube lisboeta não estivesse nesta altura em condições de acautelar devidamente essa representação, porque na fase final de um campeonato muito extenso teve umas jornadas menos convincentes, não obstante a conquista de titulo, pela larga margem de seis pontos de diferença sobre o 2.º classificado, ter sido concludente e absolutamente merecida.»
«Contudo, como que integrados no desejo de afirmação da melhoria de valor do nosso futebol, eloquentemente ilustrada pelos recentes resultados dos jogos internacionais contra os ‘mestres’ britânicos, os rapazes do Benfica, chamados a dirimir, mais uma vez, uma questão de supremacia com Sporting, cujo retorno de forma no final da prova fora justamente assinalado por toda a crítica — capricharam em fazer, no dia da inauguração do Estádio de Braga, uma exibição à altura das responsabilidades do titulo que que tinham conquistado.»
Os campeões de Portugal de 1950, se jogarem no Estádio Nacional como jogaram, em Braga, no Estádio 28 de Maio [3-2 ao Sporting], podem alimentar justificadas esperanças, e o público que acorrer ao Vale do Jamor, para estimular com os incitamentos os jogadores portugueses, pode ter a certeza de que não dará por mal empregado o seu tempo.»
As meias-finais de 1950 qualificaram Bordéus e Benfica. Os girondinos bateram o Atlético Madrid por 4-2 e as águias despacharam a Lazio por 3-0.
Eis a ficha que qualificou a equipa portuguesa para a final de 1950:
BENFICA: Bastos; Jacinto e Joaquim Fernandes; Félix Antunes, Francisco Moreira e José Rosário; José da Costa, Rogério Pipi, Corona, Julinho e Arsénio
Treinador: Ted Smith
LAZIO: Fazio; Sandroni e Piacentini; Antonazzi, Flamini e Magrini; Trevisan, Nyers e Puccinelli, Arce, Montanari
Treinador: Mario Sperone
Golos: 1-0, por José Rosário (7); 2-0, por Rogério Pipi (27); 3-0, por Arsénio (76)
A final entre Benfica e Bordéus estava marcada para 11 de junho de 1950. Os encarnados cedo chegaram à vantagem de dois golos, mas os franceses, com Doyle em grande plano, deram a volta ao resultado ainda antes do intervalo. O golo de Corona ditaria, já na segunda parte, o 3-3 final após 120 minutos. Resultado: finalíssima uma semana depois.
Aqui fica a ficha da final:
Estádio Nacional, em Oeiras
Árbitro: Fombana (Espanha)
BENFICA: Bastos; Jacinto cap. e Joaquim Fernandes; Francisco Moreira, Félix Antunes e José da Costa; Corona, Arsénio, Julinho, Rogério Pipi e Pascoal
Treinador: Ted Smith
BORDÉUS: Astresse; Garriga e Marignac; Barek, Swiatek cap. e Gallice; Persiilon, Treinador: André Gérard
Mustapha, Kargu, Meynteu e Doyle
Golos: 1-0, por Arsénio (3); 2-0, por Corona (20); 2-1, por Doye (23); 2-2, por Doye (37); 2-3, por Kargu (43); 3-3, por Pascoal (57)
Uma semana mais tarde, eis a finalíssima. Kargu, francês de origem polaca, marcou ao minuto 9 e o Benfica só a segundos do final do jogo empatou, por intermédio de Arsénio. Por fim, primeiro prolongamento e o 1-1 manteve-se. A seguir, ganhava quem marcasse um golo. Marcou Julinho ao minuto 146. E o Benfica vencia, há exatos 75 anos, o primeiro troféu internacional do futebol português. Seguir-se-ia o bicampeonato europeu de 1961 e 1962.
Eis a ficha da finalíssima:
Estádio Nacional, em Oeiras
Árbitro: Giacomo Bertolio (Itália)
BENFICA: Bastos; Jacinto e Joaquim Fernandes; Francisco Moreira, Félix Antunes e José da Costa; Corona, Arsénio, Julinho Rogério Pipi e Rosário
Treinador: Ted Smith
BORDÉUS: Astresse; Garriga e Marignac; Barek, Swiatek cap. e Gallice; Persillon, Mustapha, Kargu, Meynteu e Doyle
Treinador: André Gérard
Golos: 0-1, por Kargu (9); 1-1, por Arsénio (89); 2-1, por Julinho (146)