
Samuel Dahl chega à Luz enquanto reforço de inverno a título de empréstimo e com opção de compra estabelecida em 10 milhões de euros. Apesar de defesa esquerdo, o sueco tem sido utilizado por Bruno Lage enquanto médio ala, beneficiando da sua capacidade de pensar o jogo com bola e a forma como se consegue associar com os companheiros, oferecendo ainda dinamismo à ala esquerda, podendo atacar ora por fora, ora por dentro.
Por norma, quando Dahl está em campo, o Benfica assume-se em 3-4-3, formando uma linha de três centrais (com Carreras a baixar), Dahl enquanto ala e um extremo à sua frente (Bruma ou Schjelderup).
Se puxarmos a fita atrás, é fácil lembrarmo-nos de que Bruno Lage nunca viu Beste como alternativa a Carreras enquanto lateral esquerdo, mas sim como opção para terrenos mais avançados. A utilização de Carreras enquanto terceiro central não vem de agora, tanto o alemão como Akturkoglu (em missão sem bola) já tinham sido opções para pôr em prática esta ideia. Contudo, Bruno Lage optou quase sempre pelo 4-3-3, oscilando apenas esporadicamente por este 3-4-3. Será Samuel Dahl a peça que faltava para o 3-4-3 de Lage? O sueco oferece algo de diferente ao jogo encarnado?

Em boa verdade, o Benfica teve poucos jogos onde realmente se conseguia assumir enquanto protagonista do jogo, mesmo quando dois criadores exímios como Kökçü e Di María jogavam ao mesmo tempo. Como alternativa, Lage encontrou uma linha de três para construir, muitas vezes, com Beste no papel de médio ala e Carreras enquanto central.
O espanhol sente-se confortável a aparecer em zonas interiores e a lógica de Lage passaria por sobrecarregar o lado esquerdo com três jogadores. No entanto, Beste tinha debilidades técnicas para o nível do Benfica e dava preferência ao jogo exterior e vertical, sendo pouco associativo: onde o objetivo era ter uma ala esquerda imprevisível e dinâmica, Beste tornava-a previsível e redundante.
Samuel Dahl foi testado neste papel frente ao Mónaco, onde colheu frutos, e o Benfica acabou por marcar o golo que ditou a passagem aos oitavos de final da Liga dos Campeões através de uma jogada de entendimento entre Dahl e Carreras, que terminou com o espanhol a atacar zonas interiores e a assistir Kokçu.
A receita foi repetida frente ao Boavista, onde o sueco deixou muito boas impressões e, desde então, tem mantido a titularidade neste papel (excetuando os jogos frente ao Barcelona, afetado pelo contexto). Dahl é, de facto, muito diferente de Beste: ataca ora por fora, ora por dentro e privilegia o associativismo com os colegas, procurando combinações curtas; para Carreras, isto significa que se pode juntar ao ataque tanto pelo corredor esquerdo, como pelo meio, dependendo dos movimentos do sueco. Ainda, o extremo que completar esta ala (Bruma ou Schjelderup) pode aparecer em zonas interiores, usufruindo de um forte 1×1 e formando um triângulo versátil e dinâmico que, por fim, pode ajudar o Benfica a assumir-se enquanto protagonista em mais jogos e desmontar os vários blocos baixos do campeonato português, uma vez que sobrecarrega o lado esquerdo, criando dúvidas nas marcações e pressões adversárias.
O facto deste triângulo se assumir como ponto forte do Benfica ajuda ainda outros jogadores do coletivo de Bruno Lage: Kokçu pode repetir mais vezes a ‘fórmula Mónaco’ e aparecer em zonas de finalização, uma vez que está “livre” de funções criativas, Akturkoglu pode aproveitar diagonais para o meio através do outro corredor e também atacar a baliza e, claro, Pavlidis (de momento, em grande forma) pode ser servido com melhor qualidade.

Ainda Di María (quando regressar de lesão) pode beneficiar de uma ala esquerda encarnada forte: o argentino procura muito servir os companheiros do seu lado contrário através de passes longos; assim, se Dahl-Carreras-Bruma/Schjelderup conseguirem transportar este associativismo para movimentos sem bola, estes jogadores podem aparecer livres em zonas de finalização mais vezes e matar cruzamentos vindos da ala direita.
Pela dinâmica que trouxe ao corredor esquerdo e pelo facto de ser um jogador mais combinativo e melhor tecnicamente, Samuel Dahl é, ao momento, um claro ‘upgrade’ em relação a Jan-Niklas Beste. O alemão era uma opção tática e dava algo que o Benfica não tinha: ataque vertical com o pé do corredor em que o jogador se encontrava, mas o associativismo de Dahl permite um outro conforto tatico e a dinamização de jogadores que já atravessavam bons momentos, desde já, Álvaro Carreras.