Até determinado momento convinha perguntar, não fossem os leões terem desaparecido em combate: quem são estes tipos de cor de rosa e o que é que fizeram ao Sporting? A hipótese de rapto não podia ser excluída. O histórico de dados vitais do líder do campeonato não batia certo com o corpo presente da equipa que pisou o Estádio de Alvalade.

Era um coma induzido pela linha de seis defesas que o Casa Pia empilhava à frente da grande área. Mas era uma muralha relativa. Veja-se a história dos três porquinhos. Todos tinham uma cabana e só o mais dotado em arquitetura é que se protegeu do lobo. Neste caso, quem soprou as paredes de palha que embrulhavam a baliza dos gansos foi Francisco Trincão.

Se por acaso conhecerem alguém com originalidade para etiquetar a modalidade que se praticou em Alvalade, esta é a hora de identificarem essa pessoa. É que o futebol, tal como o conhecemos, costuma ter duas equipas a querer jogá-lo. Parece até injusto usar o mesmo termo para designar o que aconteceu no dérbi lisboeta e o Brentford-Wolverhampton da Premier League que ao intervalo estava 4-2 e terminou 5-3.

Já dizia o outro: “O mundo é bué cenas”. É verdade, e o futebol também. Mas assistirmos a um jogo em que uma das equipas tinha 14% de posse de bola ao intervalo, como aconteceu com o Casa Pia, é assunto de um universo paralelo. E acrescente-se: o golo sofrido fez mais pelo futebol ofensivo dos gansos do que se possa parecer. Afinal, só assim é que conseguiram chegar ao meio-campo. O que fizeram nessa ocasião? Remataram dali mesmo. Quem não quer, não quer.

RODRIGO ANTUNES

O Sporting era o menos culpado deste encontro desvirtuado. Os jogadores de Rúben Amorim, é certo, foram ligeiramente surpreendidos. A quantidade de gente que o Casa Pia pôs nos últimos 20 metros permitia ter superioridade sobre a maioria das ações atacantes dos homens de verde e branco. Foi um desafio especialmente exigente para Conrad Harder. Embora os centrais (Eduardo Quaresma e Gonçalo Inácio foram titulares mesmo estando em dúvida) e os médios (Daniel Bragança foi titular ao lado de Hjulmand) tivessem vista panorâmica para tudo o que se desenrolava, não estavam a ser capazes de tirar o involucro da defesa contrária, mas houve quem o fizesse.

Para Francisco Trincão, “ser ou não ser” não é uma questão, porque o seu pé esquerdo só sabe ser. E ser com muita força. O seu corpo deixou-se serpentear entre o aparato defensivo. A bola, com graciosidade, seguiu o mesmo caminho. Descobriu então Daniel Bragança, a quem confiou a conclusão do seu lance melífluo. A partir daí, o Sporting deixou de se importar com a beleza (ou falta dela) do jogo.

A primeira impressão causada pelo Casa Pia até foi outra. Logo aos dois minutos, Max Svensson, como é seu apanágio, obrigou Franco Israel a defender. Foi uma exceção, porque na maioria do encontro o pobre avançado espanhol foi obrigado a tentar correr 100 metros barreiras. Obviamente, falhou. Há quem treine para, de quatro em quatro anos, estar num nível perfeito nessa arte. Não é capacidade que surja da noite para o dia.

Gualter Fatia

Tal como no primeiro golo, o segundo também foi consequência natural do Sporting ter assumido residência permanente junto da área do Casa Pia. Viktor Gyökeres aumentou a vantagem, de grande penalidade, depois dele próprio ter sido derrubado por Ruben Kluivert, o descendente de Patrick.

A entrada de Miguel Sousa e Pablo Roberto conseguiu que o Casa Pia chegasse ao último terço em situações episódicas. Como assim existia forma para evitar a subserviência? Os adversários estão de consciência tranquilo sobre as formas inovadoras utilizada para tentarem parar os leões. No entanto, ainda não foi desta que alguém o conseguiu fazer no campeonato. Os casapianos saem de Alvalade com um resultado mais modesto do que o sofrido na temporada anterior, quando perderam por 8-0, mas a sensação de arraso foi semelhante.