O documentário biográfico “À minha maneira” do tenista espanhol Carlos Alcaraz começa com o mesmo mostrando onde guarda os seus troféus.

Um detalhe bastante curioso e simultaneamente impactante é o de Alcaraz dizer que gostaria de ser o melhor da história, mas que para isso é essencial que consiga desfrutar do seu caminho, para poder ter um rendimento condizente ao seu enorme talento.

Alcaraz contempla o troféu de Wimbledon e repassa os nomes gravados no mítico troféu que representam os vencedores das últimas edições, torneio no qual apenas se sagraram campeões antes dele os membros do Big 4 (Andy Murray, Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic), que é considerada por muitos como a melhor geração de sempre.

Aos 21 anos, já é um dos melhores tenistas mais jovens de todos os tempos, com 18 títulos no seu palmarés, incluindo 4 Grand Slams.

Em Espanha (país muito apaixonado pelo ténis), todos estavam mentalizados de que muito provavelmente iria demorar décadas para poder ter mais um tenista de topo depois de quase duas décadas de excelência do seu melhor atleta de todos os tempos: Rafael Nadal.

Muitos começavam a sentir-se órfãos quando viam que as constantes lesões de Nadal, ofuscava gradualmente o seu brilho dentro do campo, preparando-se de forma dolorosa para a despedida de um dos seus maiores ídolos. Mas eis que no ano de 2021, emerge um miúdo de apenas 17 anos chamado Carlos Alcaraz, e o resto é história.

O seu treinador Juan Carlos Ferrero (ex-tenista profissional e antigo número 1 mundial, tendo inclusive vencido o nosso Estoril Open em 2001), questiona o seu entendimento de trabalho e sacrifício, e que por isso duvida que vá ser o melhor jogador da história, se não se dedicar a 100% ao ténis.

A sua simplicidade e carisma únicos são bem evidentes logo nos primeiros minutos deste documentário. Lidar com a imprensa, compaginar a sua carreira desportiva com compromissos publicitários (todo esse outro lado de ser tenista profissional), gere-o da melhor forma possível e com a habitual graciosidade.

“O meu maior medo é começar a ver o ténis como uma obrigação”. Carlitos (nome carinhoso pelo qual lhe chamam os seus pais, irmãos e amigos) questiona-se inclusive se vale a pena continuar a jogar ténis, se deixar de desfrutar do jogo.

É o próprio Albert Molina, empresário de Carlos Alcaraz, que diz que “se o quiseres enclausurar, se o forçares a trabalhar porque sim, corres o risco de o perder, e quem sabe se dentro de três anos, possa deixar de jogar ténis.”

Depois de ter voltado a sorrir e a encontrar-se com o seu jogo na edição de Indian Wells 2024, Alcaraz contraiu uma lesão no braço direito (fundamental no seu jogo) e ficou em causa a sua participação em Roland Garros, um dos grandes objetivos da sua época.

Imagens de um Alcaraz bastante jovem, e elogios rasgados dos seus primeiros treinadores, destacando o seu talento e a sua rapidez em aprender todas as pancadas, também tem o seu devido tempo de antena neste documentário. E o seu sorriso sempre presente desde que era apenas um miúdo com o sonho de ser tenista profissional e ganhar Roland Garros e Wimbledon. O seu sorriso é a sua imagem de marca.

Quando Rafael Nadal aparece pela primeira vez no documentário, afirma que se “ (…) sentes que estás a sacrificar demasiado da tua vida, dificilmente atingirás esse objetivo de seres o melhor do mundo.”

A influência do pai e a cumplicidade com ele também é fundamental em todo o percurso da ainda curta mas muito exitosa carreira de Carlos Alcaraz. O ténis é um desporto muito dispendioso, o seu pai é um grande apaixonado do desporto e também jogou mas de forma amadora, pois não tinha recursos financeiros para poder entrar no circuito profissional.

O documentário continua com a prestação de Carlos Alcaraz em Roland Garros em 2024, que vindo de lesão e sem jogar o seu melhor ténis, ganhou pela primeira vez no “jardim de Nadal” numa final épica contra o alemão Alexander Zverev, conseguindo reverter uma desvantagem de dois sets a um.

O seu sonho de menino (surge um vídeo de Alcaraz com 10 anos a dizer que o seu sonho era ganhar Roland Garros e Wimbledon) era ali realizado, com 21 anos (!) recém-cumpridos.

E isso que começou o torneio repleto de dúvidas em torno da sua lesão, e se podia competir ao mais alto nível. Sendo fã incondicional de Nadal e tendo crescido a ver o tenista maiorquino ganhando Roland Garros consecutivamente (umas impressionantes 14 vezes), Carlitos tinha a obsessão de ganhar em Paris, no mítico Philippe Chatrier.

Nas meias-finais tinha saído igualmente de uma desvantagem de dois sets a um contra o seu grande rival italiano Jannik Sinner (com quem tem protagonizado batalhas épicas), superando inclusive cãibras, que poderiam tê-lo retirado mentalmente do jogo, pois tinha desistido na edição de 2023 pelo mesmo motivo frente a Djokovic.

O ténis é fascinante e um desporto muito mental. Apesar das suas desconexões e da sua tenra idade, nos momentos-chave, Alcaraz já revela uma grande maturidade em campo e uma fortaleza mental digna de registo.

“Temos que desfrutar de sofrer”, disse na entrevista pós-jogo desse encontro épico contra Jannik Sinner.

Os célebres momentos de desconexão e de quase alheamento nos seus jogos, está muito relacionado com o fato de Carlitos estar perfeitamente consciente de que não tem que jogar sempre a 100% para ganhar à maioria dos seus adversários, o que faz com que relaxe em demasia, dando por vezes uma sensação de desinteresse e de certa indolência.

Sinner tem uma intensidade exibicional muito constante e acima da média, obriga Alcaraz a exibir-se no máximo do seu potencial, mas Carlitos tem um carisma único, e atrai multidões atrás dele, sendo igualmente tão competitivo quanto o italiano, e apresentando um rendimento bastante bom em quase todos os torneios de maior importância do sempre desgastante calendário tenístico.

A sua relação com a sua família e com os seus melhores amigos fica bem expressa nos momentos de comemoração do 21º aniversário. A própria mãe de Alcaraz tenta retirar a pressão do seu filho, e quer que o seu filho seja feliz e que faça o que lhe apetece e lhe faça sentir bem.

O episódio termina com Carlitos no seu habitat natural e na sua zona de conforto. Sendo recebido de forma apoteótica pelos seus familiares e amigos de El Palmar (região de Murcia de onde é oriundo), e podendo ser igual a si mesmo, sem reservas e complexos.

“Não quero que decidam por mim. Se me equivoco, que seja eu a equivocar-me”.

Ferrero é bastante duro e exigente. É seu treinador desde os 15 anos, têm uma relação quase de pai e filho, e foi extremamente importante para que Alcaraz se pudesse adaptar da melhor forma possível a esta nova realidade de querer ser tenista profissional, quando o acolheu na sua academia.

Ferrero (filho de treinador) fala constantemente em sacrifício e em trabalhar 24 horas por dias, mas Alcaraz não pensa dessa forma e discorda dessa maneira de estar no desporto e encarar o ténis.

O treinador espanhol coloca o trabalho acima de qualquer coisa, Alcaraz antepõe desfrutar da vida e dos que ama a dedicar a sua vida ao ténis. E eu também partilho da sua ideia. Ambos podem ser compatíveis, e Carlitos tem-no demonstrado por diversas vezes.

Duvido que à medida que os anos vão passando e com Alcaraz a alcançar tudo aquilo a que se propôs, que seja possível manter esta relação profissional, pois pensam de forma diametralmente oposta.

Ferrero tem um carinho enorme pelo seu pupilo, mas não pode decidir por ele. E também não tem qualquer sentido dizer que só o continuará a treinar se ele trabalhar para ser número um mundial.

A questão é que Alcaraz já o foi e dificilmente não voltará a ser, apesar de toda uma nova fornada de grandes tenistas das novas gerações, casos de Jakub Mensik, João Fonseca, Jannik Sinner, Arthur Fils, Holger Rune, entre outros.

Nem ele, nem o seu empresário, que por mais que Alcaraz lhe tenha uma profunda gratidão por tudo o que tem feito por ele desde os seus 15 anos de idade, terá que abandonar toda a toxicidade que envolve a sua relação com o seu empresário.

O seu colega de seleção Roberto Bautista-Agut afirmou recentemente que “Não me acredito que se possa continuar a ganhar Grand Slam deitando-se às sete da manhã”. Mas certamente que o tenista espanhol não viu todo o documentário.

Os fatos contradizem as críticas. Sim, não é compatível com a carreira e a vida de um tenista profissional, deitar-se a altas horas da madrugada para se ir divertir com amigos, contudo temos que analisar tudo na devida perspetiva.

Se desfrutar quatro dias (algo que já tinha feito anteriormente em 2023 com evidentes resultados ganhando Queen’s e Wimbledon) com os amigos no cenário idílico de Ibiza e nesses dias não tiver que pensar em ténis e em tudo o que engloba todas as diversas exigências de um tenista profissional, pois terá encontrado o melhor dos dois mundos, e o seu rendimento aumentará exponencialmente.

Sim, perdeu na ronda inicial do torneio ATP 500 de Queen’s (que serve de preparação para Wimbledon), mas ganhou onde realmente importava: em Wimbledon, numa final em que literalmente varreu da pista um tal de Novak Djokovic (sete vezes vencedor do torneio), ganhando por três sets a 0, com os parciais contundentes de 6-2, 6-2 e 7-6 (4) em apenas duas horas e meia de jogo.

Nesse jogo, Alcaraz ainda serviu com 5-4 para um parcial mais contundente no terceiro set, desperdiçou três match points e Djokovic conseguiu quebrar o serviço do sérvio, mas isso não o descentrou e manteve-se focado no que tinha que fazer, subindo novamente o seu nível de jogo jogando um tie-break perfeito, tendo conseguido o tão ambicionado título de Wimbledon, segundo da sua carreira.

Parece-me totalmente descabido que se destaque as declarações do empresário “Eu tenho uma mulher, uma filha de 16 anos e abdico disso tudo para atender às necessidades de Carlos”. Pois, Alcaraz também fica isolado da sua família e amigos durante quase um ano e apesar de um empresário ser importantíssimo na carreira de um tenista, quem sai ao campo e tem de tomar decisões e aguentar a pressão competitiva, é o tenistal.

Não é de todo colocar o ónus de viver essa vida em Alcaraz. Vivem-na por decisão própria e por quererem ajudar Alcaraz a ser o melhor tenista da história. Foi a escolha e a decisão dessas pessoas.

A meu ver, é tremendamente injusto que coloquem essa pressão adicional ao fabuloso tenista espanhol, que já conquistou tanto e que inclusive foi elogiado recentemente por Novak Djokovic, dizendo que “Ele já ganhou muito mais do que cada membro do Big 4 com a sua idade. Há que deixá-lo desfrutar”.

Se Alcaraz consegue ser igualmente competitivo e ganhar a Djokovic, fazendo-o “à sua maneira”, qual é o problema? O que importa é o resultado final, e esse tem sido simplesmente brilhante com apenas 21 anos.

Poderia ser melhor? Sim. Mas o que já conseguiu, tem de ser enaltecido.

Carlitos quer construir esse caminho de ser o melhor da história, mas à sua maneira. Só o tempo dirá se irá conseguir. Condições tenísticas tem em quantidades astronómicas, ambição também. Se as lesões não o acompanharem, estamos perante um predestinado que baterá vários recordes, e está chamado a ser um dos melhores de sempre.

Carlitos expressou taxativamente neste episódio “Não sou o Rafa”.

Nem tem que ser. As comparações são inevitáveis, mas Alcaraz não tem porque se comportar de forma idêntica a Nadal. Com 21 anos, já tem um palmarés digno de todos os registos. 4 Grand Slams (faltando-lhe apenas o título do Open da Austrália para completar o Grand Slam de carreira), vice-campeão olímpico, vários Masters 1000, etc….

Essa excessiva comparação com Nadal pode começar a ser sufocante. Aos seus 21 anos, o campeoníssimo espanhol já tinha ganho 17 títulos (um menos do que Alcaraz), mas o jovem de Murcia já ganhou Roland Garros Wimbledon duas vezes e ganhou o Open dos Estados Unidos, algo que o tenista espanhol conseguiu apenas com 24 anos.

Do Big 4, Andy Murray nunca ganhou um Grand Slam em terra batida, e em toda a sua carreira, ganhou menos Grand Slams do que Alcaraz já ganhou com apenas 21 anos.

Em relação ao mágico suíço Roger Federer (outro dos melhores de sempre), “só” tinha ganho um Grand Slam aos 21 anos de idade e não tinha ainda uma dezena de títulos. Acabou a sua carreira com 103 (!) títulos.

Novak Djokovic ganhou o seu primeiro Grand Slam no Open da Austrália de 2008, quando tinha 21 anos, e também ainda não tinha chegado a 10 títulos na sua carreira, e está neste momento a apenas um de chegar ao título número 100.

Claro que é ingrato e até despropositado comparar gerações, mas fatos são indesmentíveis.

Carlitos já ganhou 4 Grand Slams em 4 finais jogadas (100% de aproveitamento), e em superfícies totalmente distintas (piso rápido, terra batida e relva).

Muito poucos conseguiram-no e grande parte de outros grandes campeões, nem chegaram a alcançar tal desiderato, casos de Bjorn Borg, Pete Sampras, Boris Becker, Mats Wilander, etc..

Garbiñe Muguruza (ex-número um mundial e vencedora de dois Grand Slam), afirmou que para chegar aos números de Rafa, “tem de se ser escravo. Essa dificuldade de se querer ser constantemente o melhor naquilo que se faz, é dificílimo de manter. Deixarás de ter vida.”.

Eu não o afirmo de forma tão drástica e peremptória como a ex-tenista espanhola, mas é preciso sacrificar bastante para chegar a esse nível e manter-se no topo por quase 20 anos, tal como fez Rafael Nadal.

“As pessoas esperam que seja como o Rafa, que seja uma lenda. Mas o que eu quero é que não convertam o meu filho num brinquedo partido”, disse a mãe de Alcaraz no fim do episódio número 2. E eu estou mais do lado desta opinião, até porque se há pessoa que o conhece bem, é a sua mãe.

Deixem-se de comparações estapafúrdias.

Nadal é Nadal. Carlitos é Carlitos. Sou um fã confesso do Nadal, mas jamais caí na esparrela de compará-lo com Alcaraz.

Desfrutei muito de Nadal, é o meu maior ídolo desportivo de todos os tempo e proporcionou-me dos momentos mais felizes da minha vida como adepto do desporto.

Mas Alcaraz é muitíssimo bom, tem uma qualidade absurda, e Carlitos começa a cansar-se das constantes comparações com o seu ídolo tenístico. “Não quero que me digam que sou o sucessor de Rafa, mas sim que me chamem Carlos Alcaraz Garfia”.

O terceiro e último episódio deste documentário traz-nos a aventura olímpica de “Nadalcaraz” (nome que apelidaram a dupla histórica de pares ao serviço da Espanha nos Jogos Olímpicos), começando por Alcaraz mostrar o quarto que partilhou com Nadal na vila olímpica, longe das mordomias e dos luxos dos hotéis onde Alcaraz costuma ficar hospedado, dando um exemplo do verdadeiro espírito olímpico.

Esta experiência de jogar pares ao lado do seu ídolo de infância, era algo com que Alcaraz sonhava, e queria poder ajudar Nadal a ganhar a medalha de ouro olímpica na sua última participação.

Nadal e Alcaraz são muitíssimo bons a nível individual (apesar de Rafa ter ganho igualmente a medalha de ouro olímpica em pares), mas depois de vitórias nas rondas iniciais, sucumbiram nos quartos-de-final uma dupla muito mais rodada (Krajicek-Ram) e que jogou um jogo quase perfeito, despedindo-se do sonho de poder lutar por uma medalha olímpica, que fecharia com chave de ouro a lendária e espetacular carreira de Rafael Nadal.

Essa derrota no torneio de pares foi bastante dolorosa a nível mental para Alcaraz, que certamente pagou a fatura e o esforço físico de horas extra em campo no seu jogo de disputa pela medalha de ouro olímpica, falhando o objetivo de ganhar Roland Garros, Wimbledon e o ouro olímpico, algo que Nadal conseguiu em 2008.

A humildade de Alcaraz fica bem expressa quando este decidiu voluntariamente aumentar a sua carga de jogos no torneio olímpico, para poder viver a experiência única de jogar pares ao lado de Nadal.

A final olímpica foi jogada a um ritmo e a uma intensidade muitíssimo altas. Djokovic jogou o melhor jogo da sua temporada de 2024 e exibiu-se a um nível estratosférico para poder alcançar o que lhe faltava no seu brilhante palmarés: o ouro olímpico.

Djokovic tem um sentimento muito forte pela sua pátria (Sérvia), já tinha ganho a Taça Davis, e jogou um jogo praticamente perfeito para levar de vencida um fantástico Alcaraz, por duplo tie-break, com os parciais de 7-6 (3) e 7-6 (2).

No fim do jogo, Alcaraz não conseguiu conter as lágrimas em entrevista com o ex-tenista espanhol e agora comentador da Eurosport, Alex Corretja, que carinhosamente lhe deu um abraço e percebeu que aquele não era o momento para continuar a espremer e explorar emocionalmente o jovem tenista espanhol.

Essa derrota foi um duro golpe para Alcaraz, apenas ganhou mais um título nesse ano de 2024 numa final de contornos épicos contra Sinner no ATP 500 de Pequim, em mais de três horas num torneio disputado a três sets.

Alcaraz foi eliminado precocemente nas rondas iniciais pelo holandês Botic Van de Zandschulp, e anteriormente chegou a partir uma raquete num ataque de ira no torneio Masters 1000 de Cincinnati, algo nunca visto anteriormente no tenista espanhol.

Toda a pressão competitiva e o fato de não ter atingido o ouro olímpico pela sua amada Espanha, atingiram o seu auge nesse torneio, e Alcaraz necessitou de descarregar as suas frustrações na raquete.

Talvez Alcaraz devesse ter parado por uns momentos depois da final olímpica, provavelmente viu-se forçado e pressionado a jogar pelos suspeitos do costume (o treinador Juan Carlos Ferrero e o empresário Albert Molina).

A ideia de escravidão volta a ser remarcada por Juan Carlos Ferrero, afirmando que tem que se ser escravo para se ser o maior da história.

Alcaraz não está de acordo com essa visão (e eu tão pouco comparto da mesma, apesar de nunca ter sido desportista de alta competição) de quem o treina e de quem gere a sua carreira e continuará a fazer as coisas à sua maneira.

Alcaraz tem uma excelente conversa com Ferrero no fim do seu documentário, e demonstra toda a sua maturidade e humildade, perguntando como pode conciliar as duas coisas: desfrutar dos prazeres da vida e ser um tenista profissional.

Nadal também regressava à sua ilha de Manacor depois de competir em vários torneios de forma consecutiva, e ia pescar com os seus amigos, ou passava horas a jogar golfe. É erróneo dizer que Nadal viveu 365 dias, 24 horas por dia para o ténis. E mesmo que assim fosse, isso não quer dizer que Alcaraz tenha que decidir esse caminho.

Só no fim da sua carreira é que poderemos julgar se essa sua maneira foi a mais correta e a que lhe permitiu ser o melhor jogador da história. Admiro imenso a sua personalidade, o seu descaramento e a sua irreverência.

O documentário termina com o empresário Albert Molina tentando-se com a tentativa falhada de redimir das suas declarações bombásticas, afirmando que apenas quer que Carlitos desfrute e seja feliz, e que se assim for, já será missão cumprida para ele.

A sua maneira tem-lhe dado resultados fantásticos e contrapõe aquela verdade absoluta de que só se pode ganhar Grand Slams e se ser um dos melhores tenistas do mundo, se se for escravo do ténis.

Portanto, que Alcaraz continue a desfrutar do caminho e delicie os adeptos do ténis com os seus amorties, com a sua potente direita, com a sua esquerda paralela, com os seus volleys, com a sua magia.

“Se na minha cabeça está fazer todos os possíveis para ser o melhor da história? Agora mesmo, não sei. Se me quero sentar na mesa do Big 3? Sim. (…) Vivi pouco e tenho muito por viver, mas do que já vivi, vou pôr sempre em primeiro lugar a felicidade. A felicidade também é sucesso e não é fácil encontrá-la”.

Que Carlitos nunca perca a sua alegria em jogar (que destaca Roger Federer) e que nunca deixe de ser como é e que não apaguem o seu sorriso, porque é isso que o diferencia dos demais, e que faz com que neste momento, seja o grande ídolo do ténis mundial.