
O Presidente da República falou por telefone com a atriz Maria do Céu Guerra e condena o ataque feito ontem à noite a membros da companhia de teatro A Barraca. Segundo nota da Presidência, Marcelo, "transmitiu a sua solidariedade, extensiva a toda a Companhia e seus atores".
Na mesma nota, o chefe de Estado faz uma defesa da democracia, da liberdade e do pluralismo. "Vivemos em Democracia e não queremos voltar a viver em ditadura", escreve Marcelo, sublinhando que "em democracia há e tem de haver liberdade de pensar e exprimir o pensamento, de forma plural e sem censuras. E que essa liberdade e esse pluralismo não podem ser calados, nem sovados, por quem discorda".
A nota do PR seguiu-se à condenação feita também pela ministra da Cultura, Margarida Balseiro Lopes, que repudiou a "ação cobarde" contra os atores, um dos quais teve de levar pontos na cara devido à agressão por elementos de um grupo neonazi.
O candidato à liderança do PS, José Luís Carneiro, pede esclarecimentos públicos ao Governo tanto sobre o caso de A Barraca como sobre o ataque a uma viatura com adeptos do FC Porto, em que dois deles ficaram feridos com gravidade. Trata-se de questões de "interesse e tranquilidade pública" e o Executivo tem de explicar o que é que as autoridades estão a fazer para garantir a segurança e bem-estar das pessoas, disse à Renascença José Luís Carneiro, deputado e ex-ministro da Administração Interna.
A primeira condenação política da agressão ocorrida na noite de terça-feira e que cancelou a apresentação de uma peça de homenagem a Camões foi o Bloco de Esquerda, com Mariana Mortágua logo ao fim da noite a manifestar a sua solidariedade com os atores através das redes sociais. “Os neofascistas atacam os livros, o teatro e quem faz a cultura. Fazem-no porque acham que podem. O Governo do PSD retirou do relatório de segurança interna a ameaça da extrema-direita. É o maior risco à nossa democracia. Solidariedade com o teatro d’A Barraca. Vamos à luta”, escreveu a deputada única do Bloco de Esquerda na rede social X. Já esta quarta-feira, Mortágua, agora deputada única, pediu que a próxima conferência de líderes agende um debate sobre o Relatório Anual de Segurança Interna 2024 com a presença do Governo, depois de um ator ter sido agredido por um grupo de extrema-direita.
Num pedido dirigido ao presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, a bloquista recorda que em abril o partido já tinha questionado o Governo sobre a eliminação de um capítulo dedicado a organizações extremistas na versão final do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) e nota que “ainda hoje continua por explicar por que razão esse capítulo não aparece na versão oficial que chegou ao parlamento”.
Também a líder parlamentar do PCP, Paula Santos fez essa relação com o RASI. “Não ouvimos até ao momento qualquer justificação por parte do Governo relativamente a esta matéria. Não se pode, naturalmente, ignorar, quando falamos de segurança interna, os riscos que estão presentes com grupos fascistas de extrema-direita. Naturalmente, esse é um elemento de preocupação”, disse Paula Santos, que condenou o ato praticado por “grupos fascistas, neonazis”, considerando-o “intolerável” e defendendo que “não pode haver complacência” em Portugal com “a violência e o discurso de ódio”.
Já o Livre apresentou no parlamento uma pergunta ao governo e um voto de condenação pelas agressões, manifestando “profundo repúdio”, e Rui Tavares exigiu uma investigação que “castigue os responsáveis”. “A agressão de que foi alvo o ator Adérito Lopes merece a mais veemente condenação e uma investigação que castigue os responsáveis. É inaceitável que uma peça seja cancelada por causa de um grupo neofascista. É o resultado de não haver clareza na rejeição do discurso de ódio”, criticou o porta-voz do Livre Rui Tavares, na rede social ‘X’, antigo Twitter.