
Os motoristas de autocarros iniciaram hoje um período de greve de 48 horas, na Madeira, e o balanço é, para já, “francamente positivo”. Convidado a apresentar um primeiro impacto desta paralisação convocada pelo Sindicato Nacional de Motoristas (SNMOT), Manuel Oliveira fala numa adesão “bastante significativa”, não só na Horários do Funchal, mas também no sector privado, como é o caso da CAM e Siga Rodoeste.
“A paralisação é bastante significativa - posso dizer que é tremenda - nomeadamente na Rodoeste. Praticamente toda a Rodoeste está parada. E nós esperamos que esta seja a última paralisação, a última greve. Nós não fazemos greves só porque sim. Obviamente, a população - os madeirenses - está a ser prejudicada com estas birras. É disso que estamos a falar, porque há aqui actores que se comportam como se fossem garotos. E desculpe a brutalidade das palavras, mas elas têm de ser ditas”, afirmou o dirigente sindical, esta manhã, em declarações à TSF-Madeira.

Manuel Oliveira que não apresenta, por agora, qualquer percentagem. “Não avançamos com percentagens. E não o fazemos por uma razão simples: acho que a retórica e o foco não devem ser consumidos com esse tema. Aquilo que realmente interessa, do meu ponto de vista, naturalmente, são os motivos pelos quais estes trabalhadores estão aqui parados”, defendeu.
Os utentes dos transportes públicos não podem ficar privados deste serviço só porque as partes não conseguem chegar a um entendimento, porque não conseguem sequer falar uma com a outra. Podemos estar em desacordo, sim, mas isto não pode acontecer. As partes têm de fazer um esforço para chegar a um entendimento. Nós estamos dispostos a fazê-lo, porque acreditamos que é nosso dever. E é isso que também esperamos da outra parte. Manuel Oliveira
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O sindicalista que também critica os serviços mínimos decretados pelo Governo Regional – e que abrangem 136 motoristas, com o executivo a alegar a necessidade de transportar trabalhadores e alunos que vão realizar os exames nacionais como forma de mitigar os efeitos da greve.
“Se a memória não me falha, julgo saber que o Dr. Miguel Albuquerque é, salvo erro, formado em Direito. Acho que é advogado. Ora, isto só prova uma coisa: o Governo não conhece a lei e não a cumpre. E, ao não cumprir a lei, ou é por negligência - julgo eu que seja por negligência, na medida em que a desconhece - ou então, conhecendo-a, só pode ser por dolo. Porque os serviços mínimos, tal como foram decretados, são simplesmente ilegais. Portanto, não são para cumprir”, atirou.
Obviamente, houve colegas que saíram com algum receio, devido às pressões que, entretanto, lhes foram feitas. Mas, no que diz respeito à formalidade da coisa, os serviços mínimos, da forma como foram decretados, são ilegais. São ilegais e não são para cumprir. Manuel Oliveira

"Tem uma boa solução: emigre"
O presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas (SNMOT), Manuel Oliveira, teceu duras críticas ao presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, acusando-o de faltar à palavra dada e de ter adoptado uma postura autoritária nas negociações com os motoristas – no caso específico da Horários do Funchal.
Segundo Manuel Oliveira, a actual paralisação dos trabalhadores da empresa pública de transportes deve-se directamente ao incumprimento de compromissos por parte de Albuquerque. "Esta situação toda que nós estamos a viver actualmente, no que diz respeito aos Horários do Funchal, deve-se ao incumprimento por parte do Dr. Miguel Albuquerque relativamente à palavra que deu. E esta é a consequência", declarou o líder sindical.
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A indignação dos trabalhadores, segundo Oliveira, foi agravada pelas declarações públicas de Albuquerque. "Ficaram ainda mais indignados por causa das ameaças e das ofensas que fez", afirmou.
Em tom contundente, o presidente do SNMOT contra-atacou: "Permita-me dizer: o Sr. Miguel Albuquerque será naturalmente corrido da Quinta Vigia com maior facilidade do que nós seremos corridos da Região."
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A crítica subiu de tom com considerações sobre a postura institucional de Albuquerque. "O Sr. Miguel Albuquerque, exercendo um cargo de tremenda responsabilidade como exerce, deve estar à altura desse mesmo cargo", defendeu.
Sublinhou ainda que, apesar de Albuquerque ter sido eleito por uma parte do eleitorado, "a partir do momento em que foi eleito, passou a ser o presidente de todos os madeirenses - e não apenas daqueles que votaram nele. E tem de se comportar à altura." E, a esse propósito, Manuel Oliveira acusou o presidente de não estar à altura do cargo, apelando a mais respeito. "
A primeira coisa que ele tem de fazer, para honrar o trabalho, o compromisso e o cargo que representa, é ter tento na língua e ser uma pessoa elegante e educada. Como esse senhor, aparentemente, não conhece esses valores, os trabalhadores dos Horários do Funchal estão a mostrar-lhe o que são, de facto, valores. Manuel Oliveira
Num dos momentos mais incisivos das suas declarações, Manuel Oliveira acusou ainda Albuquerque de ter tiques autoritários: "Que esse senhor não julgue que está num Estado totalitário. Isto é um Estado democrático. E se ele convive mal com a democracia, tem uma boa solução: emigre. Emigre e vá viver para um Estado totalitário.”