
O antigo primeiro-ministro José Sócrates negou, esta quinta-feira, no julgamento da Operação Marquês, ter recebido dinheiro a si destinado através do primo José Paulo Pinto de Sousa, considerado pelo Ministério Público um dos testas-de-ferro do ex-governante."
“Nunca recebi nenhum dinheiro através do meu primo José Paulo. É absolutamente abusivo que faça perguntas sobre a vida dos outros”, atirou José Sócrates, em resposta ao procurador Rui Real sobre alegadas entregas em numerário em 2006 e 2007, em 'tranches', de um total de dois milhões de euros, com origem na esfera do Grupo Espírito Santo (GES).
E reforçou:
"Tudo isso é falso."
O montante terá sido originalmente transferido por um outro arguido, o empresário Helder Bataglia, para contas na Suíça e, no esquema, terá ainda participado Francisco Canas, que morreu em 2017 e era, à data da morte, um dos principais arguidos no processo "Monte Branco", por suspeita de ter usado uma casa de câmbio em Lisboa para ajudar a branquear milhões de euros no estrangeiro.
No entanto, as questões mais precisas sobre os presumíveis subornos relacionados com esta e outras questões foram, atendendo à estratégia adotada pelo tribunal para a condução do interrogatório ao ex-governante, remetidas para momento posterior.
José Sócrates foi questionado sobre o alegado recebimento de dinheiro no âmbito do bloco sobre a estratégia da ex-Portugal Telecom (PT) no Brasil, um dos dossiês nos quais terá, no entender do Ministério Público, sido corrompido, para beneficiar os interesses do GES.
Sócrates novamente repreendido
Como já tem sido habitual, o antigo primeiro-ministro foi, novamente, chamado à atenção. Desta vez, elevou a voz com o procurador e adjetivou as perguntas do procurador Rui Real.
" Estou a fazer o máximo esforço… Os meus instintos de simpatia devem estar ao máximo nesta sessão", ironizou Sócrates.
O Ministério Público pediu esclarecimentos sobre os negócios relacionados com a PT, como a compra da Vivo, ou a venda da brasileira Oi.
José Sócrates, por seu lado, acusou o procurador de lhe estar a fazer oposição política em tribunal.
"Não sei se estamos num julgamento ou num Parlamento. Aqui tratamos de crime, não de mérito das decisões do Governo. Mas já que o senhor procurador quer fazer oposição ao Governo da altura, eu vou responder como se estivesse a falar no Parlamento", referiu Sócrates.
A juíza, logo de seguida, intervém:
"O que é relevante ou não, o tribunal depois faz essa avaliação".
"Posso dizer que a pergunta é idiota?" Juíza explica a Sócrates como não desrespeitar o tribunal