Dois dias após a final do Festival Eurovisão da Canção, a RTVE — televisão pública espanhola — decidiu solicitar uma auditoria para apurar eventuais irregularidades relacionadas com o televoto em Espanha, que no passado sábado atribuiu a pontuação máxima (12 pontos) à canção de Israel, New Day Will Rise, interpretada pela jovem Yuval Raphael.

Segundo o jornal El País, a investigação pedida à União Europeia de Radiodifusão (UER) foi motivada pelo facto de Israel ter recebido a pontuação máxima do televoto espanhol (12 pontos), apesar de não ter obtido qualquer ponto do júri profissional.

Na final da Eurovisão, realizada no sábado, 17 de maio, a RTVE recebeu um total de 142.688 votos: 7.283 por chamada telefónica, 23.840 por SMS e 111.565 online. Já na primeira semifinal, a 13 de maio, em que Israel não participou, foram registadas 774 chamadas, 2.377 SMS e 11.310 votos online.

A RTVE considera que os dados fornecidos pela organização não são claros o suficiente e, por isso, decidiu dar início ao pedido de auditoria.

Israel ficou em segundo lugar, com 357 pontos, dos quais 297 vieram do televoto. Já o júri profissional atribuiu apenas 60 pontos à atuação israelita, colocando-a na 15.ª posição entre os países avaliados pelos jurados.

A Áustria foi a grande vencedora da noite com a canção "Wasted Love", um tema que combina ópera, música eletrónica e drama, somando um total de 436 pontos.

RTP está a preparar um posicionamento oficial

Para além de Espanha e Portugal, a canção israelita recebeu ainda a pontuação máxima através do televoto em mais 11 países: Suíça, Suécia, Reino Unido, Países Baixos, Luxemburgo, Alemanha, França, Bélgica, Azerbaijão, Austrália e na votação global.

Já na votação dos júris profissionais, apenas o Azerbaijão atribuiu os 12 pontos ao tema de Yuval Raphael.

Em declarações à Blitz, o diretor de programas da RTP, Gonçalo Madail, a estação também está a preparar uma resposta oficial, uma vez que Portugal se encontra numa situação semelhante.

RTVE emite mensagem de apoio à Palestina

No sábado, a RTVE emitiu uma mensagem de apoio à Palestina, momentos antes de iniciar a transmissão da final da Eurovisão. No ecrã, num fundo preto, podia ler-se: “No que toca a direitos humanos, o silêncio não é uma opção. Paz e justiça para a Palestina”.

Foi a resposta da RTVE à União Europeia da Radiodifusão (UER), organizadora da Eurovisão, que havia ameaçado multar a televisão espanhola caso os comentadores do festival voltassem a falar no número de mortos em Gaza.

Numa carta, dirigida à chefe da delegação espanhola, a UER recordou que as regras da Eurovisão "proíbem declarações políticas que podem comprometer a neutralidade do concurso".

Tensão aumenta entre Espanha e Israel

No domingo, o ministro israelita da Diáspora e da Luta contra o Antissemitismo considerou que a pontuação do televoto espanhol recolhida pela canção de Israel no Festival da Eurovisão foi uma "bofetada" na cara do primeiro-ministro de Espanha.

Pedro Sánchez, defendeu, esta segunda-feira, a exclusão de Israel do Festival Eurovisão da Canção e de outras competições internacionais, tal como aconteceu com a Rússia após a invasão da Ucrânia, em 2022.

"Também não deveria estar Israel. Não podemos permitir duplos 'standards', incluindo na cultura", afirmou Sánchez, antes de enviar "um abraço solidário ao povo ucraniano e ao da Palestina, que estão a viver a irracionalidade da guerra e dos bombardeamentos".

- Com Lusa