
"A associação tem conhecimento que o Governo quer tentar mascarar a realidade nas unidades sanitárias, informando alguns profissionais que devem escrever qualquer tipo de medicamentos não compatíveis com a patologia do paciente caso estes não existam, e assim fazer perceber que as unidades têm medicamentos", disse o presidente da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), Anselmo Muchave.
Em causa está a greve dos profissionais de saúde moçambicanos que começou em 17 de abril e que se tem estendido por falta de entendimento com o Governo.
A APSUSM exige há três anos que o Governo providencie medicamentos aos hospitais, face às necessidades - com os fármacos, em alguns casos, a serem adquiridos pelos próprios pacientes -, assim como a compra de camas hospitalares.
Outras reivindicações passam pela resolução da "falta de alimentação", pelo equipamento de ambulâncias com materiais de emergência e equipamentos de proteção individual não descartáveis - cuja falta vai "obrigando os funcionários a comprarem do seu próprio bolso" - e pelo pagamento de horas extraordinárias, além de exigirem um melhor enquadramento no âmbito da Tabela Salarial Única (TSU).
Em conferência de imprensa, a APSUSM voltou a acusar o Governo de ameaçar os profissionais do setor que estão a aderir à greve, avançando que a nova fase, a durar 15 dias a partir de hoje, vai consistir no cumprimento de oito horas de serviço e sem a presença dos profissionais nas unidades sanitárias aos fins de semanas.
"Vamos também reduzir o ritmo do trabalho, oferecendo assistência mínima aos pacientes", acrescentou Anselmo Muchave, avançando que as negociações com o executivo continuam, mas sem consensos.
A APSUSM tinha avançado na semana passada, numa outra fase da contestação, com uma paralisação total das atividades entre 01 e 04 de maio, acusando igualmente ao Governo de "manipular" a opinião pública, ao minimizar a greve e seus impactos.
O ministro da Saúde de Moçambique voltou a criticar em 25 de abril a greve no setor e pediu diálogo.
"Uma greve na saúde é um desastre. [...] A minha recomendação e o meu pedido aos meus colegas é que vamos discutir o assunto, por um lado, mas não podemos deixar de atender os nossos pacientes", pediu o ministro da Saúde, Ussene Isse.
O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrentou, nos últimos dois anos, diversos momentos de pressão, provocados por greves de funcionários, convocadas, primeiro, pela Associação Médica de Moçambique (AMM) e, depois, pela APSUSM, que abrange cerca de 65.000 profissionais de saúde de diferentes departamentos e que exigem, sobretudo, melhorias das condições de trabalho.
O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.
PME (LYCE) // JMC
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