
"Vim extremamente preocupado com a linguagem da parte de alguns países, mas, sobretudo, dos Estados Unidos com as relações com a China", disse Ramos-Horta aos jornalistas no aeroporto internacional de Díli, após ter regressado, mais cedo do que o previsto, de Singapura, onde decorreu o encontro.
"Em vez de se procurar uma linguagem mais suavizadora, de serenidade, de diálogo, o discurso do secretário de Estado da Defesa [Pete Hegseth] mencionou a China 20 vezes. Muitos países ficam desconfortáveis com isso", salientou o chefe de Estado timorense.
Durante a sua intervenção no Diálogo de Shangri-La, Pete Hegseth acusou a China de se preparar "clara e credivelmente para utilizar potencialmente a força militar para alterar o equilíbrio de poder" na região Ásia-Pacífico.
Hegseth denunciou ainda o número crescente de incidentes com navios chineses no mar do Sul da China, acusando Pequim de se "apoderar ilegalmente e militarizar" ilhas e ilhéus reivindicados, nomeadamente, pelas Filipinas.
Alegando argumentos históricos, Pequim reivindica a quase totalidade das ilhotas do mar do Sul da China, contestando nomeadamente as conclusões de um tribunal internacional de arbitragem, segundo as quais as suas reivindicações não têm base jurídica.
A China avisou hoje os Estados Unidos que "não devem brincar com o fogo" em relação a Taiwan e acusou também os norte-americanos de transformarem a região num "barril de pólvora" ao colocarem armas no mar do Sul da China.
Ainda em relação aquele assunto, José Ramos-Horta destacou que o secretário de Estado norte-americano "faz a política do seu Presidente", mas salientou que Donald Trump "não quer guerra" e quer resolver a questão da Palestina e da Ucrânia.
Na sua intervenção sábado no Diálogo de Shangri-La, o Presidente timorense alertou que as "armas se estão a espalhar demasiado depressa pelos países da Ásia-Pacífico, criando vários perigos para a região.
O também prémio Nobel da Paz afirmou que Timor-Leste está a observar aquele desenvolvimento com "crescente preocupação" e apelou aos países para colaborarem e dialogarem sobre segurança.
Nas declarações aos jornalistas, no aeroporto, Ramos-Horta disse também ter recebido o convite para participar a Conferência Internacional para a Solução dos Dois Estados no Médio Oriente, a realizar este mês em Nova Iorque.
"É uma reunião muito importante para discutir os dois estados, Palestina e Israel, o ambiente não favorece nada este fórum, do que se vê, mas felicito o secretário-geral [da ONU, António Guterres] que em parceria com a Arábia Saudita e outros países decidiram fazer esta cimeira", afirmou.
O Presidente timorense disse que a razão pela qual veio mais cedo de Singapura, o seu regresso a Timor-Leste estava apenas previsto para quarta-feira, foi precisamente para realizar consultas com as autoridades timorenses para fazer um pequeno documento que articula a posição do país.
Timor-Leste defende a solução de dois estados.
"Uma posição que a comunidade internacional já tem há 30 ou 40 anos, com a criação de um Estado palestino que viva pacificamente com as fronteiras de 1967 e Israel, com todo o seu direito de viver também sem ameaças à sua existência, que o povo israelita possa viver em tranquilidade", afirmou.
A Conferência Internacional para a Solução dos Dois Estados no Médio Oriente (Israel e Palestina), vai decorrer entre 17 e 20 de junho na sede da ONU, em Nova Iorque, e será copresidida pela França e pela Arábia Saudita.
MSE (EL) // ACL
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