Com a guerra comercial, o apelo do Presidente norte-americano para "perfurar como um louco" e o aumento das quotas da OPEP+ anunciado no sábado o petróleo estagnou no nível mais baixo desde a pandemia.

Uma situação positiva para os consumidores, menos para os produtores.

O petróleo Brent está agora a ser negociado abaixo dos 65 dólares por barril, muito longe do nível que atingiu em 2022, após a invasão russa da Ucrânia.

Nessa altura, estava bem acima dos 100 dólares e chegou mesmo a ultrapassar os 120 dólares.

Eis um olhar sobre as repercussões, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

Um aliado contra a inflação?

A queda dos preços do petróleo está a ajudar a abrandar a inflação e a impulsionar o crescimento nos países importadores de petróleo, como a Europa.

"Os consumidores vão ser os vencedores" desta queda, disse Pushpin Singh, economista da Cebr, uma empresa britânica de consultoria e análise económica.

Em 2024, por esta altura, o petróleo Brent estava a ser negociado entre 75 e 80 dólares por barril.

A perda de mais de 10 dólares tem impacto nos cálculos da inflação, que incluem as despesas energéticas, muito dependentes do petróleo a nível mundial, nomeadamente com a utilização de combustíveis e outros produtos derivados diretamente do petróleo.

Em abril, o índice de preços no consumidor (IPC) abrandou ligeiramente nos Estados Unidos graças à descida dos preços dos combustíveis (menos 11,8% desde abril de 2024).

Em termos concretos, o petróleo mais barato "aumenta o nível de rendimento disponível que os consumidores podem gastar em artigos" como a alimentação, o vestuário, o lazer ou o turismo, disse o economista.

Ou seja, o poder de compra dos consumidores.

A médio prazo, a descida dos custos de transporte e de produção dos bens de consumo pode também ter um impacto nos preços dos produtos acabados.

"É provável que, no futuro, as vendas a retalho sofram uma certa pressão no sentido da baixa, devido à diminuição dos custos dos fatores de produção", afirmou Singh.

Uma vez que a queda do preço do "ouro negro" é, em parte, uma consequência da política comercial do Presidente Donald Trump, o resultado líquido sobre a inflação continua a ser difícil de prever.

No entanto, o economista mostrou-se moderado, uma vez que a guerra aduaneira "representa intrinsecamente um enorme custo adicional" sobre as importações.

Inimigo das companhias petrolíferas?

Os produtores de energia são os claros perdedores da queda dos preços do petróleo.

"Sobretudo os produtores de alto custo que, aos preços atuais e aos preços mais baixos, são obrigados a fazer cortes nos próximos meses", explicou o analista do Saxo Bank Ole Hansen.

"Um preço do petróleo abaixo ou próximo dos 60 dólares não será, obviamente, o ideal para os produtores de xisto", confirmou Jorge Leon, analista da Rystad Energy.

Algumas empresas de xisto já anunciaram que estão a reduzir os investimentos na Bacia do Permiano, uma região produtora de gás natural situada entre o Texas e o Novo México.

"O petróleo mais barato também torna as fontes de energia renováveis menos competitivas e pode abrandar o investimento em tecnologias verdes", alertou Pushpin Singh.

Para os países da OPEP+, que têm vindo a abrir as comportas desde abril e a fazer baixar os preços do petróleo, a tolerância aos preços baixos é muito variável.

Quem ganha e quem perde?

A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait dispõem de reservas de divisas e podem facilmente contrair dívidas para financiar projetos de desenvolvimento e de diversificação económica, segundo Leon.

Estes países serão mesmo "vencedores a longo prazo", porque estão a "recuperar a quota de mercado perdida desde 2022, quando começaram a reduzir voluntariamente a produção", segundo Ole Hansen.

No sábado, Riade, Moscovo e seis outros membros da OPEP+ decidiram aumentar a produção em mais 411 mil barris por dia em julho.

A situação parece mais delicada para países como o Irão e a Venezuela, cujas economias menos diversificadas dependem fortemente das receitas do petróleo, ou a Nigéria, cuja capacidade de endividamento é menor.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) 'per capita' da Guiana, que disparou nos últimos anos graças à descoberta de grandes reservas de petróleo, poderá também abrandar fortemente.

"A descida dos preços do petróleo será prejudicial para o seu desenvolvimento", confirmou Singh.