
Uma campanha de prospeção numa laje jurássica, em Salir do Porto, nas Caldas da Rainha, vai estudar pegadas peculiares a nível nacional e internacional por indicarem que por ali passaram dinossauros a nadar.
A campanha de prospeção, que irá decorrer entre os dias 07 e 25 de julho, vai permitir limpar a laje com cerca de 155 milhões de anos onde foram descobertas "várias dezenas de pegadas de dinossauros", descritas pela geóloga Inês Marques, do Geoparque do Oeste, numa tese de mestrado focada em oito jazidas da região Oeste.
Esta, localizada a sul da Duna de Salir do Porto, no concelho das Caldas da Rainha destacou-se entre elas como uma jazida "muito especial, porque tem um registo muito peculiar em termos nacionais e até internacionais", disse a geóloga à agência Lusa, explicando que a laje calcária "preserva pegadas que testemunham comportamento natatório dos dinossauros, nomeadamente os dinossauros carnívoros, a que os cientistas chamam os dinossauros terópodes".
Na prática, as pegadas descobertas em Salir do Porto "não mostram a zona do calcanhar, a zona posterior do pé, como é habitual vermos em pegadas", disse a investigadora do Geoparque Oeste, explicando que "isso mostra que realmente estes dinossauros estariam, pelo menos em determinadas fases, a flutuar".
Os vestígios apontam para que no local existisse uma coluna de água que os investigadores estimam ter tido " entre meio metro e três metros e que faria com que os dinossauros só tocassem com a zona mais distal, portanto, as pontas dos dedos, nas argilas que existiriam naquela altura", acrescentou.
A laje encontra-se parcialmente coberta por vegetação e por sedimentos que a geóloga acredita poderem estar "a tapar mais material, neste caso provavelmente pegadas", o que levou os investigadores a avançar com a campanha de prospeção.
Numa primeira fase será feita a limpeza da laje, depois o registo fotográfico e as medições de novas pegadas que sejam descobertas, a prospeção de outros materiais (como ossos) que possam existir na zona envolvente e, finalmente "um voo com drone, a uma altitude mais baixa para se conseguir ver em maior pormenor toda a laje e fazer um modelo 3D", explicou Inês Marques.
A importância da jazida "bastante singular e diferente das outras que se encontram em Portugal", levou hoje a Câmara das Caldas da Rainha, no distrito de Leiria, a assinar um protocolo com o Museu da Lourinhã (GEAL) e com a Sociedade de História Natural de Torres Vedras (ambos no distrito de Lisboa), entidades especializadas na investigação, proteção e divulgação do património paleontológico e que vão colaborar na campanha de prospeção.
O protocolo assegura que a descoberta possa ser estudada e exposta ao público por estas duas entidades, mas que a autarquia das Caldas da Rainha possa reclamar a sua posse, no futuro.
A Câmara das Caldas da Rainha irá ainda apoiar a campanha assumindo os custos de transporte e alimentação de voluntários que pretendam inscrever-se para participar nos trabalhos que irão por a descoberto 18.400 metros quadrados dos 22 mais de 22 mil metros quadrados totais da laje.