
A paz global continua em declínio, com o aumento das tensões geopolíticas e o maior número de conflitos ativos desde a Segunda Guerra Mundial, avançou hoje um relatório do Instituto para a Economia e Paz (IEP).
O Índice Global de Paz 2025 elaborado pelo IEP, um grupo de reflexão ('think tank') com sede na Austrália, aponta que a paz mundial diminuiu pelo 12.º ano consecutivo, atingindo o seu nível mais baixo desde o final da Segunda Guerra Mundial.
O IEP, que faz esta avaliação com base em vários indicadores, incluindo os níveis de violência, conflito e militarização, alerta que a probabilidade de eclodirem novos conflitos é elevada devido à competição entre grandes potências, às tecnologias de guerra e ao aumento da dívida em economias frágeis.
De acordo com o índice, a paz mundial tem-se deteriorado todos os anos desde 2014, num momento em que existem 59 conflitos militares ativos, o número mais elevado desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O estudo, elaborado desde 2008, destaca que 152 mil pessoas morreram devido a conflitos registados em 2024.
Segundo o índice, os conflitos são cada vez mais internacionais, com 78 países envolvidos até 2024.
De acordo com os cálculos do IEP, 87 países sofreram uma deterioração da paz em 2024, em comparação com 74 que melhoraram.
"O Índice Global da Paz deste ano mostra que o mundo se encontra num ponto de viragem crítico, com a fragmentação global a aumentar drasticamente", destacou o fundador e diretor executivo do IEP, Steve Killelea, citado pelas agências internacionais.
"Isto deve-se à ascensão de potências médias, à concorrência entre grandes potências e a níveis insustentáveis de dívida nos países mais frágeis do mundo. Esta situação está a conduzir a um realinhamento fundamental e a um possível ponto de viragem para uma nova ordem internacional", argumentou.
O impacto económico global deste cenário de violência atingiu os 19,97 mil milhões de dólares (cerca de 17 mil milhões de euros) em 2024, o equivalente a 11,6% do Produto Interno Bruto (PIB) global, aponta o índice, alertando que os conflitos estão a tornar-se cada vez mais caros e difíceis de vencer.
A par do sofrimento humano, os conflitos representam um fardo económico substancial devido à deslocação, ao impacto no comércio, à incerteza nos negócios e à destruição de infraestruturas, destaca o relatório.
A concentração da influência e do poder globais está a mudar, com 34 países a terem agora uma influência geopolítica significativa sobre pelo menos um outro país, em comparação com apenas 13 no final da Guerra Fria.
Num retrato geográfico abrangente, países como a Arábia Saudita, Turquia, Índia, Emirados Árabes Unidos, Israel, África do Sul, Brasil e Indonésia tornaram-se potências regionais influentes; a América do Sul foi a única região a melhorar em termos de paz, com o Peru a registar a maior melhoria, impulsionada pela redução da agitação civil; e a Europa Ocidental e Central, continua a ser a região mais pacífica.
A França e o Reino Unido sofreram os maiores declínios de influência, observa o relatório, acrescentando que, pela primeira vez, a Rússia é o país menos pacífico do mundo, seguida pela Ucrânia, Sudão, República Democrática do Congo e Iémen.
A região MENA (Médio Oriente e Norte de África) é a menos pacífica do mundo, especialmente o Sudão, o Iémen, a Síria e Israel, enquanto a África Subsariana é a região com mais países em conflito, com 35 das 43 nações envolvidas num conflito nos últimos cinco anos.
O Sahel continua a ser o epicentro global do terrorismo, enquanto o sul da Ásia tem assistido à maior deterioração da paz, cenário impulsionado pelas medidas repressivas no Bangladesh e pela agitação civil e conflito no Paquistão.