
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, criticou hoje a criação do novo Ministério da Reforma do Estado, considerando tratar-se de uma "boa ação de propaganda" que visa servir os interesses dos grandes grupos económicos.
Em declarações aos jornalistas durante uma visita à Feira Nacional da Agricultura, em Santarém, Paulo Raimundo alertou que o verdadeiro propósito da nova estrutura governativa não é resolver "os principais problemas do país".
"Não é para responder às questões da habitação, da saúde ou da segurança social. É para que o Estado sirva ainda mais os interesses daqueles que se acham donos do país, nomeadamente os 19 grupos económicos de quem ninguém fala e para quem há sempre benesses, benefícios fiscais e ajudas", afirmou o dirigente comunista.
Paulo Raimundo defendeu que a reforma do Estado deve assumir um papel ativo na resolução de problemas estruturais, como a precariedade laboral, os baixos salários, a falta de habitação e a necessidade de reforçar a rede pública de creches, afirmando que com este governo "não é isso que está em causa".
"Vamos continuar a bater-nos por uma reforma do Estado que responda à vida da maioria", garantiu.
Durante a visita à feira, que coincidiu com o Dia de Portugal, 10 de junho, o secretário-geral do PCP destacou ainda a importância do setor agrícola para a soberania alimentar e para o desenvolvimento do país, apontando críticas à política da União Europeia.
"Há uma pressão injustificada e profundamente injusta sobre a nossa agricultura (...) Esta feira mostra que o país pode e deve produzir mais alimentos", afirmou.
Paulo Raimundo criticou também o aumento da despesa previsto para a área da Defesa, defendendo que os recursos do Estado devem ser canalizados para outras áreas.
"Portugal não precisa gastar dinheiro que não tem na guerra. Precisa de investimento na habitação, na saúde, na agricultura, nas infraestruturas", afirmou, argumentando que, no setor da Defesa, as prioridades devem ser a recuperação do Arsenal do Alfeite e a valorização das carreiras dos militares.
O dirigente comunista alertou ainda para a realidade social do país, marcada por "dois milhões de pessoas na pobreza, incluindo 300 mil crianças", considerando que, perante este cenário, "gastar dinheiro na guerra" é uma opção que o PCP não acompanha.
"Se for preciso retificar o orçamento para investir nos salários, nas pensões, na saúde, na habitação, para tirar as crianças da pobreza, estamos disponíveis para todos esses esforços. Tudo o resto é mandar areia para os olhos", declarou.
Questionado sobre o futuro do partido, após a perda de um deputado nas últimas eleições, Paulo Raimundo garantiu que o PCP continuará a intervir "sobre aquilo que interessa na vida das pessoas".
"Isso não se resolve com conversa, resolve-se com medidas concretas. E é isso que vamos continuar a fazer", concluiu.