![Parlamento indiano suspenso por protestos contra maus-tratos dos EUA a deportados](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Os migrantes foram levados dos Estados Unidos para uma cidade do norte da Índia num avião militar, no âmbito de uma vaga de deportações decidida pelo novo Presidente, Donald Trump, mas o tratamento a que foram sujeitos indignou de tal forma os deputados indianos que hoje, muitos gritaram protestos em pleno parlamento e exigiram um debate sobre as deportações.
De acordo com deputados e meios de comunicação social, os braços e as pernas dos deportados foram algemados enquanto estavam no avião, apesar de a viagem ter demorado mais de oito horas, e só foram libertados no aeroporto de Amritsar, na Índia.
Um tratamento que os deputados consideraram degradante, lembrando que "algemados e com as pernas acorrentadas [os migrantes] tinham até dificuldade em usar a casa de banho".
O presidente do parlamento, Om Birla, tentou acalmar os deputados, dizendo que o transporte dos deportados era uma questão de política externa dos EUA e que os Estados Unidos "também têm as suas próprias regras e regulamentos", mas não impediu as manifestações dentro e fora do hemiciclo a exigir uma resposta do Governo.
Alguns dos deputados que protestaram na rua usaram algemas e empunharam cartazes que diziam: "Humanos, não prisioneiros", enquanto o líder do Congresso, Rahul Gandhi, escreveu na rede social X que "os indianos merecem dignidade e humanidade, NÃO algemas".
A sua mensagem foi acompanhada de um vídeo que mostra um dos deportados, Harvinder Singh, a dizer que todos foram algemados e tiveram os pés acorrentados durante 40 horas.
"Não nos deixaram sair um centímetro dos nossos lugares. Foi pior do que o inferno", contou.
Os EUA geralmente realizam deportações em voos comerciais e fretados, mas a utilização do exército para devolver pessoas ao seu país de origem é um método novo, iniciado na administração Trump.
O ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, Subrahmanyam Jaishankar, avançou hoje à câmara alta do parlamento que os regulamentos dos EUA permitem o uso de restrições desde 2012, tanto em voos militares como civis e garantiu que as autoridades norte-americanas os informaram que as mulheres e as crianças não são algemadas.
Jaishankar defendeu que, embora o Governo esteja a falar com as autoridades norte-americanas para "garantir que os deportados que regressam não são maltratados", o foco da Índia deve estar na repressão da migração ilegal.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, visitará Washington na próxima semana, mas o tema já foi abordado numa conversa telefónica entre Trump e Modi realizada na semana passada.
Durante a conversa sobre migrantes e deportações, Donald Trump sublinhou a importância de a Índia comprar mais equipamento de segurança fabricado nos Estados Unidos e haver um comércio bilateral justo.
O Governo de Nova Deli afirmou que se opõe à imigração ilegal, principalmente porque está ligada a várias formas de crime organizado, e não se opôs à deportação de cidadãos pelos Estados Unidos.
A patrulha de fronteiras dos EUA deteve mais de 14.000 indianos na fronteira canadiana entre o final de setembro de 2023 e o final do mesmo mês do ano passado, o que representou 60% de todas as detenções ao longo da fronteira e um número 10 vezes maior do que o registado há dois anos.
Os relatos dos meios de comunicação social indicam que os indianos que vivem nos EUA sem documentos são principalmente dos estados de Punjab e Gujarat e que os indianos foram responsáveis ??por cerca de 3% de todas as travessias ilegais de fronteiras nos EUA em 2024.
Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, 15.668 cidadãos indianos foram deportados dos EUA desde 2009.
Um relatório do Pew Research Center dizia que, em 2022, a Índia estava em terceiro lugar --- depois do México e de El Salvador --- na lista dos países com o maior número de imigrantes não autorizados --- 725 mil --- a viver nos EUA.
PMC // APN
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