
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou que Portugal tem “ambição e predisposição” para continuar o “caminho conjunto e partilhado” com Angola que, mais do que “um parceiro de todas as horas”, é “um país irmão”.
Numa conferência de imprensa conjunta do chefe do Governo português e do Presidente angolano, João Lourenço, após um encontro com empresários dos dois países, Luís Montenegro realçou “o contributo inestimável que a comunidade angolana dá ao tecido económico de Portugal” e o ambiente de negócios “positivo” entre os dois países, sendo Portugal “o segundo maior parceiro comercial de Angola”.
Na cerimónia de assinatura de acordos bilaterais entre os dois países, que decorreu esta sexta-feira no Palácio das Necessidades, em Lisboa, também houve espaço para uma menção aos 50 anos de independência de Angola – data que se vai celebrar a 11 de novembro. Montenegro falou de “uma relação umbilical” entre países e foi convidado pelo Presidente angolano a comparecer nas celebrações, onde se vai condecorar alguns portugueses.
“Os 50 anos de Angola não são para serem comemorados apenas por Angola, mas também por Portugal, por termos cortado com uma relação que era injusta, uma relação em que um subjugava o outro”, disse João Lourenço, referindo-se à colonização do Estado português no território africano.
O Presidente angolano agradeceu o reforço da linha de crédito em 750 milhões de euros para investimento público e disse estar “muito satisfeito” com a visita de Estado a Portugal.
De resto, dirigiu-se ao Presidente da República português, que não estava presente, para dizer que se sentia na “obrigação” de pisar território português “antes de o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa cessar funções enquanto chefe de Estado”, para “agradecer pela atenção que ele sempre demonstrou por Angola, nos bons e nos maus momentos”.
“A amizade deve continuar a ser permanentemente alimentada”
Falou das “muito boas” relações entre os dois países, mas deixou um aviso: “a amizade deve continuar a ser permanentemente alimentada”, disse. “É como uma flor bonita que, pelo simples facto de ser bonita, não devemos deixar de regá-la, sob pena de ela deixar de ser linda. Com a amizade é a mesma coisa. Temos de tudo fazer para que ela permaneça e se fortaleça.”
Por isso mesmo, João Lourenço sublinhou que a existência de tantos voos de ligação entre as capitais, Luanda e Lisboa – “pelo menos 14 voos por semana” – não acontece por “mero acaso”.
O Presidente de Angola fez estas declarações numa altura em que se discute em Portugal a nova Lei dos Estrangeiros, recentemente aprovada na Assembleia da República, e criticada por uma minoria parlamentar de esquerda por restringir a entrada e permanência de imigrantes no país. Marcelo Rebelo de Sousa enviou o diploma para o Tribunal Constitucional para fiscalização preventiva da sua constitucionalidade.
No que toca aos cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (exceto Brasil e Timor-Leste), estes deixam de poder entrar com visto de curta duração e pedir residência em Portugal. Agora, têm de pedir um visto de residência ainda no país de origem.
O Presidente angolano mencionou que “Angola facilitou a aquisição de vistos a pelo menos 90 países do mundo”, como sinal “de que queremos atrair investimento privado”.
Mas não quis tocar em “assuntos polémicos”.
“Vamo-nos cingir a tudo quanto possa fortalecer a nossa relação e não a questões pontuais que, às vezes, são ampliadas e podem não jogar a favor do reforço das nossas relações”, afirmou João Lourenço, provocando um sorriso no primeiro-ministro português.
João Lourenço já tinha assumido haver “algum incómodo” relativamente às novas disposições da lei da nacionalidade, numa entrevista à TVI/CNN Portugal.
“De facto, existe algum incómodo. O Brasil teve a coragem de manifestar já esse mesmo incómodo. Nós até aqui não dissemos nada, mas é evidente que estamos a seguir a evolução da situação com muita atenção”, disse.