Milhares de pessoas, católicos, crentes de outras religiões e não crentes, juntaram-se nas bermas das ruas de Roma para aplaudir, fotografar e filmar o cortejo fúnebre final do Papa Francisco, um "homem de todos".

Delgindear Singh distinguia-se entre a multidão, pelo lenço azul 'sikh' e as barbas longas, mas não arredou pé da ponte próxima da Santa Sé, por onde passou o cortejo.

"Era o líder dos católicos e dos cristãos, mas fez muito pelo mundo. De certa maneira, o seu discurso de tolerância tem muito a ver com a nossa religião, porque somos todos a mesma família humana", disse Singh, acompanhado pela mulher, num dos passeios da ponte Príncipe Amadeo de Saboia e Aosa, conhecida pelos romanos pela sigla Pasa.

Francisco "era um homem de todos e isso também é importante para quem não é católico", acrescentou.

Depois da missa exequial de hoje, o corpo de Francisco foi transportado para a Basílica de Santa Maria Maior, a quatro quilómetros de São Pedro, onde será sepultado numa cerimónia privada.

Na rua Acciaoli era a vez de muitos peregrinos portugueses se concentrarem, vindos das paróquias da Ericeira e do Carvoeiro, para o Jubileu dos Adolescentes.

À passagem, telemóveis levantados e palmas sempre que possível marcaram a passagem do papamóvel.

Antes disso, depois de horas na berma para assegurarem a primeira fila, as monitoras dos jovens pediram para que retirassem os chapéus em sinal de respeito

Sofia Pedroso, 32 anos, integra um grupo de 130 peregrinos da Ericeira que chegou a Roma na quinta-feira. Alguns ainda conseguiram aceder à Basílica de São Pedro e ver o Papa, outros não tiveram essa oportunidade.

Por isso, o grupo esperou ali a passagem do cortejo fúnebre, "principalmente para os jovens que não conseguiram vê-lo em São Pedro, terem aqui um momento significativo".

A peregrina, de 't-shirt' azul onde se lia o mote do Jubileu de 2025, disse à Lusa que o Papa representa esperança numa "tentativa de amor ao próximo e algum aspeto de luz para o mundo".

A cidade de Roma estava cheia de polícia e elementos da proteção civil, controlando entradas e saídas, mas também o percurso do papamóvel, circundado por baias e grades, que também serviu de saída às autoridades oficiais que participaram na missa.

Um evento com tantos milhares de pessoas pode ser também uma oportunidade de negócio e nas margens do rio Tibre a Lusa encontrou pessoas a tentar vender 't-shirts' com imagens do Papa Francisco e a referência ao ano do seu nascimento e da sua morte.

Ainda na ponte Pasa, o argentino e ateu Gonzalo Velez quis vir ver o seu compatriota.

"Ele foi muito importante, porque falou as coisas que todos defendemos. E falou sem complexos e sem palavras suaves", explicou o imigrante em Roma há quatro anos.

A viver a poucos quarteirões de São Pedro, Gonzalo percebeu a simplicidade de Bergoglio e a forma como, pelo exemplo, mudou a prática do próprio Vaticano.

"Havia cardeais e freiras a saírem em grandes carros e ele saía no seu 'cinquecento'. Andava a pé, ia ao café, insistia em pagar mesmo que lhe dessem, ficava na fila. Isto é um exemplo e mudou também, com isso, a própria Igreja", explicou.

Vestido com a 't-shirt' da seleção argentina de futebol, Gonzalo minimiza a importância de Francisco ser seu compatriota.

"Não tem nada a ver. Há tantos lá que são tudo menos santos. Olhe o nosso Presidente", disse, numa referência a o líder de extrema-direita que teve lugar de destaque nas celebrações.

"Ele não nos representa e é uma vergonha que se diga católico", disse. Ao seu lado, o namorado italiano, Fabrizio, concorda e estende a crítica à chefe de Governo de Itália, Geórgia Meloni.

"Os dois [Meloni e Millei] não nos representam nem representam o Papa Francisco nem os católicos do mundo inteiro", resumiu o romano.

A alguns metros de distância, Delgindear Singh lamenta os problemas dos países, entre os quais a pátria dos 'sikhs', a Índia, onde a sua minoria é perseguida pelo regime de Narendra Modi.

"O amor é que nos salva a todos. E é por isso que viemos aqui: manifestar o nosso amor e a nossa gratidão", concluiu.