
Mais de 100 mil pessoas manifestaram-se este sábado no centro de Belgrado contra o governo e a corrupção na Sérvia. O protesto juntou estudantes e trabalhadores de vários setores. Os manifestantes acusam ainda o Presidente da Sérvia de ter laços com o crime organizado, de silenciar os órgãos de comunicação social e de oprimir os oponentes políticos.
Com bandeiras, apitos e 'pins' com a figura de uma mão ensanguentada - o símbolo do movimento que adotou o 'slogan' "A corrupção mata" - os manifestantes vieram de diversos arredores da capital sérvia.
Grupos de motociclistas, veteranos e o serviço de segurança estudantil, que assegura a segurança do movimento desde o início, já se encontravam no centro da cidade ao meio-dia, para evitar qualquer agitação.
Presidente deverá falar este sábado à noite
Dezenas de agricultores com os seus tratores chegaram também para apoiar os estudantes. Outros tratores, trazidos por apoiantes do governo, estão instalados perto da presidência já desde sexta-feira de manhã.
As janelas dos edifícios oficiais foram protegidas este sábado de manhã, enquanto veículos da polícia de choque e do exército são visíveis em vários locais.
Desde sexta-feira à noite, dezenas de milhares de pessoas - 31.000, segundo o Ministério do Interior - acolheram, num ambiente festivo, os manifestantes, que chegaram a pé, de bicicleta ou de trator, vindos de toda a Sérvia.
"Toda a Sérvia se levantou e isso não acontece todos os dias. Penso que é o fim" do regime, disse, entusiasmado, Slobodan Horvat, citado pela agência francesa AFP, ao final da noite de sexta-feira.
Desde o acidente ocorrido na estação de Novi Sad, a 01 de novembro, que matou 15 pessoas quando a cobertura de betão do edifício recentemente renovado se desmoronou, tem havido manifestações sucessivas no país.
Para os manifestantes, o acidente é uma prova da corrupção que, na sua opinião, mancha as instituições e as obras públicas. De semana para semana, o movimento tornou-se um dos maiores da história recente da Sérvia, com manifestações diárias.
As concentrações tornaram-se, contudo, mais tensas desde que o Governo acusou os manifestantes de serem pagos por agências estrangeiras e de prepararem ações violentas ou mesmo uma revolução.
A situação suscitou uma reação da ONU, que apelou às autoridades sérvias para que não interferissem indevidamente na manifestação deste sábado e respeitassem o pleno exercício dos direitos à liberdade de reunião pacífica e à liberdade de expressão.
"Somos um país extremamente democrático", respondeu o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, num discurso proferido na sexta-feira à noite, acrescentando: "Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir a segurança da manifestação. Para ser claro, sou o Presidente deste país e não vou deixar que a rua dite as regras".
Numa declaração publicada nas redes sociais, os estudantes apelaram a uma manifestação "calma e responsável". "O objetivo deste movimento não é assaltar as instituições, nem atacar aqueles que não pensam como nós (...) Este movimento não deve ser mal utilizado", escreveram.
- Com Lusa