
São milhares os estudantes universitários no Reino Unido apanhados a utilizar indevidamente o ChatGPT e outras ferramentas de Inteligência Artificial (IA) nos últimos anos, revela uma investigação do Guardian.
Um inquérito sobre violações da integridade académica detetou quase 7 mil casos comprovados de batota em testes e trabalhos académicos com recurso a ferramentas de IA em 2023-24, o equivalente a 5,1 por cada mil estudantes. Este dado representa um aumento de 1,6 casos por mil estudantes em relação ano ano letivo anterior de 2022-23.
E há um dado considerado alarmante: os dados até maio sugerem que esse número aumentará novamente neste ano letivo para cerca de 7,5 casos comprovados por mil alunos.
Especialistas ouvidos pelo jornal britânico não têm dúvidas de que os casos detetados representam apenas a "ponta do icebergue". Ou seja, o número de estudantes que recorrem de forma indevida a ferramentas de Inteligência Artificial deverá ser muito superior.
O jornal recorda que muitos mais casos deste género podem estar a passar despercebidos. Um inquérito realizado pelo Higher Education Policy Institute em fevereiro revelou que 88% dos estudantes utilizaram a IA nas avaliações. No ano passado, investigadores da Universidade de Reading testaram os seus próprios sistemas de avaliação e conseguiram apresentar trabalhos gerados por IA sem serem detetados em 94% das vezes.
O The Guardian encontrou dezenas de vídeos no TikTok que publicitam ferramentas de redação de ensaios com IA para os estudantes. Estas ferramentas ajudam os estudantes a contornar os detetores de IA comuns usados nas universidades, “humanizando” o texto gerado pelo ChatGPT.
As universidades têm como desafio o de tentar adaptar os métodos de avaliação ao crescimento deste tipo de tecnologias, concluem os especialistas contactados. Numa altura em que os gigantes tecnológicos seduzem os estudantes universitários para usarem as suas ferramentas de AI, oferecendo generosos descontos.
Plágio tradicional em queda
Em sentido inverso, as 'cábulas' clássicas parecem estar a perder terreno para estas novas ferramentas digitais no meio académico britânico.
O plágio académico tradicional, revela o mesmo estudo do The Guardian, representava quase dois terços de toda a má conduta académica dos alunos. Durante a pandemia, este tipo de plágio intensificou-se. Mas à medida que as ferramentas de IA se tornaram mais sofisticadas e acessíveis, começou a perder força.
Esta pesquisa descobriu que os casos confirmados de plágio tradicional desceram de 19 por mil alunos no ano letivo de 2022-23 para 15,2 em 2023-24 e devem cair novamente para cerca de 8,5 por mil estudantes no atual ano letivo.
Uma fonte do Governo britânico garantiu ao jornal que o Executivo está a investir quase duas centenas de milhões de libras em programas nacionais de competências sobre o uso correto de IA nas escolas.