
"Eu acho que, neste momento, o que o presidente do PSD [Luís Montenegro] tem de fazer, dado o ambiente de suspeição generalizado em que se vive, é esclarecer o que tem para esclarecer. Mais nada", afirmou.
Miguel Albuquerque, que falava aos jornalistas à margem da apresentação de um projeto de construção de um novo nó rodoviário, no Funchal, considerou que o caso da empresa detida pela família de Montenegro não é motivo para este se demitir do cargo de primeiro-ministro.
"Mas porquê? Ele roubou alguma coisa a alguém?", questionou, para logo acrescentar: "Ele esteve fora da política. Quando esteve fora da política, exerceu as suas atividades. As atividades no privado correm bem, ou correm mal."
O presidente do Governo Regional em gestão manifestou-se também contra a lei das incompatibilidades de titulares de cargos políticos e públicos.
"Eu sou totalmente contra a lei das incompatibilidades, não tenham dúvida sobre isso", declarou, vincando que a lei "está a funcionalizar os políticos e está a pôr na política pessoas que nunca fizeram nada."
"Quem é que vai para a política? Vão recrutar santos? Santos não existem", advertiu, em tom irónico.
O primeiro-ministro faz hoje uma comunicação ao país para anunciar as suas "decisões pessoais e políticas" após ter sido revelado que a empresa detida pela sua mulher e filhos recebe uma avença mensal de 4.500 euros do grupo Solverde.
A declaração de Montenegro ao país está marcada para as 20:00, na residência oficial de São Bento, após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministro, no mesmo local.
Montenegro decidiu convocar o Conselho de Ministros na sexta-feira de manhã, depois de o jornal Expresso ter noticiado que o grupo de casinos e hotéis Solverde, sediado em Espinho, paga à empresa detida pela sua mulher e os filhos, a Spinumviva, uma avença mensal de 4.500 euros desde julho de 2021, por "serviços especializados de 'compliance' e definição de procedimentos no domínio da proteção de dados pessoais".
Na Madeira, o presidente do Governo Regional considerou que a situação nacional não terá impacto nas eleições regionais antecipadas de 23 de março, que decorrem da queda do executivo social-democrata minoritário, após a aprovação da moção de censura apresentada pelo Chega, em 17 de dezembro de 2024.
"Eu acho que não [terá influência], porque as pessoas já se habituaram", disse Miguel Albuquerque, para logo reforçar: "Hoje em dia, a forma como a política está a ser feita na Europa, no nosso país e aqui também na região já não é discutir os assuntos, nem as alternativas, nem as soluções, mas é levantar suspeições."
Albuquerque avisou que esta circunstância vai gerar, no futuro, problemas ao nível do exercício dos cargos políticos e públicos.
"Com esta história das denúncias anónimas e de toda a gente estar a injuriar e a difamar toda a gente e a levantar suspeições, quem é que a sociedade vai recrutar para o exercício de cargos políticos?", disse.
"Se nós queremos recrutar as pessoas competentes para o exercício de cargos públicos, é bom que essas pessoas tenham um currículo de vida privada, que tenham tido empresas, que tenham desempenhado funções na sociedade, tenham sido empresários, tenham sido bons arquitetos, bons advogados, tenham sido bons investidores", defendeu.
DC (TA) // CSJ
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