A primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni, defendeu hoje que que o plano nazi antissemita contou com a cumplicidade do regime fascista em Itália, numa mensagem divulgada para assinalar o Dia Internacional da Memória do Holocausto.
No 80º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz, Meloni defendeu na sua mensagem o governo vai elaborar uma estratégia nacional de luta contra o antissemitismo.
"Um compromisso que nunca falhou e que pretendemos promover com força e determinação, também através da elaboração de uma nova estratégia nacional de luta contra o antissemitismo, um documento articulado" que estabelece "objetivos e ações concretas para combater um fenómeno vil que não tem direito de cidadania nas nossas sociedades", anunciou a primeira-ministra na mensagem.
O antissemitismo "é uma praga que sobreviveu ao Holocausto, assumiu diferentes formas e propaga-se através de novos instrumentos e canais", disse Giorgia Meloni, líder do partido de extrema-direita Irmãos de Itália (FdI, na sigla italiana).
"A luta contra o antissemitismo, em todas as formas em que se manifesta, antigas e modernas, é uma prioridade deste governo", afirmou na sua mensagem a primeira-ministra, cujo partido tem as suas raízes no partido conservador e extinto Aliança Nacional (AN), sucessor do neofascista Movimento Social Italiano (MSI).
"Em janeiro de 1945, os portões de Auschwitz foram derrubados e, juntamente com eles, caiu também o muro que impedia que se visse claramente a abominação do plano nazi de perseguição e extermínio do povo judeu", acrescentou.
Um plano, conduzido pelo regime de Hitler, que em Itália encontrou também a cumplicidade do regime "fascista", através da "infâmia das leis raciais e do envolvimento em rusgas e deportações", lembrou a primeira-ministra. "Homens, mulheres, crianças e idosos foram retirados das suas casas, obrigados a deixar tudo, levados para campos de extermínio e mortos apenas por causa da sua religião judaica", adiantou.
O Presidente Sergio Mattarella juntou-se aos líderes internacionais, incluindo o Chanceler alemão Olaf Scholz, o Presidente alemão Frank-Walter Steinmeier, o Rei Carlos do Reino Unido, o Presidente francês Emmanuel Macron, o Presidente polaco Andrzej Duda e o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, numa cerimónia em Auschwitz.
Também o Papa Francisco apelou ao fim do antissemitismo e, através da rede social X, escreveu que "reafirmamos hoje com força que as sementes do antissemitismo não devem voltar a enraizar-se no coração humano".
Este ano, o Dia da Memória em Itália foi marcado por controvérsia, especialmente entre os judeus do país e a Associação Nacional dos Partisans da Itália (ANPI), uma associação antifascista que surgiu em 1944.
A comunidade judaica de Milão não compareceu a um evento do Dia da Memória na cidade devido ao facto de a ANPI ter descrito a guerra em Gaza como um genocídio.
"O desafio da memória diz respeito ao conteúdo e à coerência, uma coerência que apela à dignidade e ao respeito dos sobreviventes, em relação aos quais, por um lado, expressam grande afeto e proximidade, com lágrimas e emoção, e, por outro lado, acusam Israel e os judeus de um genocídio paralelo", afirmou a presidente das comunidades judaicas italianas, Noemi Di Segni.
"Genocídio, campo de concentração, matar à fome e nazi são palavras que têm significados muito precisos gravados nas nossas feridas e não podem ser usadas para exprimir discordância política e denunciar fenómenos que nunca existiram", acrescentou.
Um cartaz exibido na noite de domingo para segunda-feira numa parede da Pirâmide de Cestius e do edifício da FAO, em Roma, acusava a ANPI e as ONG, incluindo a Amnistia Internacional - incorretamente grafada como "Amnesy" - e a instituição de caridade médica Emergency, de hipocrisia, afirmando que, se Israel tivesse bombardeado comboios que iam para Auschwitz, teriam "ficado do lado de Hitler".
Assinalado desde 2005, o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto visa recordar o genocídio em massa de milhões de judeus pelos nazis alemães, um dos maiores crimes contra a Humanidade, sensibilizando para a tolerância e a paz.
Este ano, a celebração assenta na educação para a dignidade e os direitos humanos, quando se assinalam 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto.
Para assinalar a data, António Costa, presidente do Conselho Europeu, participa hoje, na Polónia, na cerimónia de 80º aniversário da libertação do campo de concentração Auschwitz-Birkenau.