
O Presidente da República defendeu hoje que o papel do PSD no combate aos extremismos deve ser "afirmar a diferença da moderação", tal como o do PS, alertando que será sempre mais fácil encontrar consensos ao centro.
Marcelo Rebelo de Sousa participou hoje na Universidade de Verão do PSD, uma iniciativa de formação de jovens quadros que decorre até domingo em Castelo de Vide (Portalegre), tendo aparecido de surpresa presencialmente, quando estava prevista uma intervenção por videoconferência.
Num painel intitulado "As respostas do Presidente", o chefe de Estado foi questionado qual deve ser o papel do PSD numa altura em que crescem as forças populistas e admitiu que os sociais-democratas têm "uma tarefa difícil" no centro-direita, equiparando este desafio ao do PS no centro-esquerda.
Ainda assim, Marcelo Rebelo de Sousa apontou um caminho: "Se não conseguir - eu acho que tem condições para conseguir, assim como o PS - afirmar a diferença da moderação que distingue o centro-direita da direita mais radical, que resolva os problemas dos portugueses, então torna-se muito difícil a função dos partidos desta natureza e isso não é boa notícia para a democracia", disse.
"Não é que não haja espaço em democracia para todas as formações e todos os posicionamentos políticos. Agora, é evidente que é mais fácil fazer acordos de regime, fazer consensos, fazer encontrar soluções ao centro, se um partido centro-direita for um partido centro-direita e não de direita que é direita radical", afirmou.
Na sua intervenção inicial, em que abordou a situação do mundo, da Europa e de Portugal, o Presidente da República já tinha deixado um alerta.
"Este não é o tempo dos moderados com que tradicionalmente se faziam as democracias, ao centro-esquerda, ao centro-direita. Este é o tempo dos radicais com os quais as democracias se fazem de outra maneira, mas estamos a descobrir todos como é que se vão fazer, com que instituições e de que modo", alertou.
O Presidente recordou que há vários anos alertava para a fragmentação do sistema político nacional, nomeadamente à direita, o que acabou por se verificar, sem nunca se referir aos partidos Chega ou IL.
"É esse reequilíbrio que está neste momento em equação, genericamente em vários países da Europa e também em Portugal (...) E chegamos à primeira pergunta que foi formulada: O que é que um partido centro-direita pode fazer se não tem maioria absoluta? Tem que fazer opções relativamente às áreas onde é possível um entendimento com quem viabilize soluções maioritárias", afirmou.
O chefe de Estado salientou que, quando era líder da oposição, optou por dar ao executivo minoritário liderado pelo socialista António Guterres condições "para poder governar como se tivesse maioria absoluta", à beira de Portugal entrar no Euro e viabilizando três Orçamentos.
"Nem sequer se pode dizer que era possível repetir essa fórmula agora. Porque essa fórmula era possível com o número menor de partidos e com o PSD com uma força enorme", disse.
E, por isso, considerou que o atual PSD tem uma "tarefa difícil" de concretizar, "por muito que as pessoas tenham a noção de que devem governar como se houvesse maioria absoluta".
Na sua intervenção inicial, o Presidente da República enquadrou as mudanças no sistema político nacional com o que se passa também na Europa e no mundo, admitindo que se está "a iniciar um novo ciclo", dominado por quem não viveu a transição da ditadura para a democracia.
"Com alguma racionalidade tem de se olhar para estas realidades, mesmo quando são muito emocionais, e fazer nascer uma outra realidade - é una realidade de Abril, porque é democrática, mas é noutros termos", considerou.
Para o Presidente da República, se tal não acontecer, poderá repetir-se, quer na Europa, quer em Portugal, o que sucedeu em relação à liderança dos Estados Unidos de Donald Trump: "Aquilo que, para muitos é a estupefação perante o trumpismo, vai ser a estupefação perante um mini-trumpismo, ou um neo-trumpismo", alertou.