
Em 2023 houve uma diminuição do número de crianças vítimas de afogamentos, mas a verdade é que nos últimos 4 anos mais de meia centena de crianças e jovens perderam a vida nessas circunstâncias, com 2022 a registar o maior número de situações desde 2011.
O alerta é dado pela APSI - Associação para a Promoção da Segurança Infantil, entidade que há 23 anos "desenvolve a Campanha de Prevenção de Afogamentos de Crianças e Jovens em Portugal, sendo que, há quatro edições, conta com a parceria da Guarda Nacional Republicana (GNR) neste esforço que se continua a afigurar muito relevante e atual", realça em nota de imprensa divulgada hoje.
"Hoje, como antes, a finalidade máxima da Campanha é a sensibilização das famílias para a forma como o afogamento infantil ocorre - de forma rápida, silenciosa e em pouca água - e relembrar as medidas de segurança a respeitar junto da água, nomeadamente, nas piscinas e tanques, praias, rios, barragens e qualquer ambiente com água, independentemente da quantidade desta", recorda. "No sentido de reforçar a consciencialização da sociedade para a problemática do afogamento de crianças e jovens, de forma mais direta e abrangente, os militares da GNR encontram-se no terreno desde o dia 16 de Junho e até 30 de Setembro, à semelhança dos últimos anos, empenhados na sensibilização das famílias - residentes ou não - para a adoção de medidas de prevenção, por forma a que todos tenham um verão e umas férias em segurança".
Assim, "tendo em consideração a análise dos últimos números dos casos de Afogamentos de Crianças e Jovens em Portugal", cujo relatório foi divulgado, "este ano acompanhado de uma novidade - uma infografia - consideramos e esperamos que os mesmos ajudem na compreensão e percepção desta problemática, no que respeita a este tipo de acidentes no nosso país", refere.
Em resumo, estas são as principais conclusões do relatório:
- Na década passada, o valor médio do número de mortes situava-se abaixo das dezenas, na maioria dos anos (8,9/ano), sendo que, na década atual, estes números estão a revelar-se absolutamente devastadores — A média anual ascendeu aos 14 mortos e também as chamadas para o 112 (incluindo acidentes de mergulho) não têm parado de aumentar.
- De uma maneira geral, o número de mortes e internamentos em crianças e jovens na sequência de um afogamento tem diminuído nas últimas décadas – de 28 para 10 no caso das mortes e de 49 para 10 no caso dos internamentos (anos 2002 e 2023 respetivamente). Não será com certeza alheia a este facto a Campanha de Prevenção dos Afogamentos da APSI, que foi lançada pela 1ª vez em 2003.
- No entanto, entre 2020 e 2023 o número médio de mortes por afogamento, por ano, subiu para 14 (quando 7,3 foi a média do triénio antecessor). Este facto, associado ao maior número de casos de afogamentos fatais e não fatais registados na imprensa nos últimos 5 anos, parece indiciar, ao contrário do que vinha acontecendo, uma tendência de aumento no número de mortes por afogamento. De notar que também nos casos reencaminhados pelo 112 para o CODU/INEM, que incluem os acidentes de mergulho, se verificou um aumento em 2020, 2021, 2022 e 2023.
- Em 2023, houve 10 mortes por afogamento até aos 19 anos. o Nos últimos 13 anos analisados, em média, por ano, 10 crianças morreram na sequência de um afogamento e 21 foram internadas.
- O maior número de mortes por afogamento ocorre na faixa etária dos 15 aos 19 anos e o maior número de internamentos na faixa etária dos 0 aos 4 anos. No geral, os afogamentos verificam-se mais até aos 4 anos de idade, fator corroborado pela análise dos estudos de caso relatados na imprensa e analisados pela APSI.
- Nos últimos 4 anos, para os quais existem dados disponíveis, 55 crianças e jovens morreram por afogamento (14 em 2020, 12 em 2021,19 em 2022 e 10 em 2023, de acordo com dados do INE): 19 crianças até aos 4 anos, 4 crianças entre os 5 e os 9 anos, 8 adolescentes entre os 10 e os 14 anos e 24 jovens entre os 15 e os 19 anos.
- Em termos de padrões de ocorrência dos afogamentos com crianças e jovens: (Fonte: casos imprensa) - é nos rapazes que se verifica o maior número; - as piscinas são o local onde acontecem mais; - a tipologia de piscinas onde acontecem mais são as de uso particular; - nos últimos anos tem havido poucos casos em poços e tanques e aumentado os casos em planos de água naturais (ex.: rio, praia); - a maior parte dos afogamentos em piscinas foi com crianças dos 0 aos 4 anos; - nos rios/ribeiras/lagoas aconteceram mais no grupo dos 10 aos 14 anos; - nas praias verificaram-se mais no grupo dos 10 aos 14 anos; - aconteceram mais em julho, agosto e junho.
Ou seja, entre 2002 e 2023 ocorreram 315 afogamentos com desfecho fatal em crianças e jovens. "Para além das mortes por afogamento, existem ainda a registar 650 internamentos na sequência de um afogamento, o que significa que, por cada criança que morre, aproximadamente 2 são internadas (total dos 22 anos)", destaca a APSI, que destaca que "o número de mortes por afogamento diminuiu nas últimas décadas e até 2020: de 27 (média/ano 2002-2004) para 16,5 (média/ano 2005-2010) e mais recentemente para 8,9 (média/ano 2011-2019). No entanto, no quadriénio 2020-2023 o número médio de mortes por afogamento, por ano, subiu para 14. Em 2023, houve 10 mortes por afogamento até aos 19 anos".