A Liga Árabe classificou este domingo como "limpeza étnica" a proposta do presidente norte-americano, Donald Trump, de deslocar a população da Faixa de Gaza para outros países árabes.
"A deslocação forçada e a expulsão de pessoas das suas terras não podem ser descritas senão como limpeza étnica", defende o secretariado-geral daquela organização, fundada em 1945 e que junta 22 países, num comunicado citado pela Agência France Presse.
Donald Trump disse no sábado aos jornalistas, a bordo do avião presidencial, que as nações árabes deveriam receber mais refugiados da Faixa de Gaza, retirando potencialmente uma parte suficiente da população para "simplesmente limpar" o território, referindo que mencionou o plano num telefonema com o rei Abdullah II da Jordânia e que falaria hoje com o Presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sissi.
A Jordânia e o Egito recusaram hoje a proposta de Trump.
"A nossa posição sobre a solução de dois estados é firme, nunca muda. A nossa rejeição da expulsão (dos palestinianos) é firme, nunca muda", afirmou hoje o ministro jordano dos Negócios Estrangeiros.
O chefe da diplomacia da Jordânia referiu que o país "nunca se desviará" desta posição, que considera necessária para "alcançar a estabilidade, a segurança e a Paz" naquela região.
O Egito reagiu inicialmente à proposta do governante norte-americano através da embaixada nos Estados Unidos.
"O Egito não pode ser parte de nenhuma solução que envolva a transferência de palestinianos para [a província egípcia de] Sinai", lê-se numa publicação de hoje na rede social X, na página oficial da embaixada.
A publicação remete para um texto de opinião do embaixador egípcio nos Estados Unidos, Motaz Zahran, publicado em outubro de 2023.
No artigo, o embaixador defende, por exemplo, que "despojar cidadãos da sua terra natal e torná-los refugiados perpétuos não faz aproximar de uma solução política permanente, em vez disso repele e alimenta sentimentos atormentados de angústia e reações sob a forma de violência por vingança".
Entretanto, o ministério egípcio dos Negócios Estrangeiros rejeitou qualquer deslocação forçada de palestinianos.
Num comunicado, citado pela France Presse, o ministério reafirma "o apoio contínuo do Egito à resiliência do povo palestiniano na sua terra", rejeitando "qualquer violação destes direitos inalienáveis, seja a colonização, a anexação de terras, o despovoamento dessas terras através da deslocação dos seus habitantes, o incentivo à transferência ou o desenraizamento dos palestinianos do seu território, seja de forma temporária ou permanente".
Também o Presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmud Abbas, reagiu hoje à proposta de Donald Trump, garantindo que os palestinianos não deixarão o território.
Mahmud Abbas instou Trump a concentrar-se em manter e consolidar o cessar-fogo em Gaza, que entrou em vigor em 19 de janeiro, em garantir a retirada total do exército de Israel e em permitir que a Autoridade Nacional Palestiniana se responsabilize por uma Gaza pós-guerra "num estado palestiniano independente".
Em 05 de dezembro, o ministro da Segurança Nacional de Israel, o ultranacionalista Itamar Ben Gvir, anunciou que apresentaria a Trump um plano para promover a entrada de judeus colonos e a emigração da população palestiniana de Gaza.
Numa entrevista publicada pelo jornal Maariv, o segundo mais lido em Israel, Ben Gvir, que vive num colonato israelita no território palestiniano da Cisjordânia, garantiu que o apoio de Trump seria uma decisão "lógica" e "moral".
"Também será bom para os residentes de Gaza que emigram, voluntariamente, é claro", disse o ministro.
Durante o seu primeiro mandato (2017-2021), o atual Presidente dos Estados Unidos apresentou um plano que previa a anexação por parte de Israel de quase 30% da Cisjordânia ocupada.
Israel e o Hamas acordaram em 19 de janeiro um cessar-fogo de seis semanas, durante o qual deverá haver uma troca gradual de 33 reféns israelitas em troca de mais de 1.900 prisioneiros palestinianos.
O cessar-fogo, que entrou em vigor no domingo passado, após 15 meses de intensificação do conflito que dura desde 1948, foi conseguido com a moderação do Qatar e dos Estados Unidos com o objetivo de pôr fim à guerra mais mortífera e destrutiva alguma vez travada entre Israel e o Hamas.
Durante estas seis semanas decorrerão também negociações para uma segunda fase da trégua, na qual deverá estar concluída a libertação de todos os reféns israelitas em Gaza e lançadas as bases para o fim da guerra.