"O PSD ganhou as eleições e está a procurar [e] encontrou no PS, pelos vistos, alguém que lhe vai dar a mão, em todas as políticas", afirmou o líder comunista.

Em declarações aos jornalistas, em Alcácer do Sal, no distrito de Setúbal, após a sessão de apresentação do cabeça de lista da CDU à câmara deste concelho nas autárquicas deste ano, Arlindo Passos, o secretário-geral do PCP disse não interessar se o novo Governo da AD vai ter mais acordos com o PS ou com o Chega.

"Isso é para nós andarmos iludidos numa aparente discussão entre a fronteira da esquerda e direita. Não é isso que está em jogo", porque a AD (PSD/CDS-PP), que venceu as legislativas de 18 de maio, sem maioria absoluta, já escolheu o PS.

"Ora, o PS, ao fazer isso, fez o mesmo que fez o ano passado, libertou o Chega", quando este "tem que assumir as suas responsabilidades", criticou Paulo Raimundo, numa alusão aos resultados eleitorais destas legislativas.

A AD, liderada por Luís Montenegro, venceu as eleições legislativas com aproximadamente 31% dos votos -- 31,79%, somados os votos da AD no continente e Madeira com os da coligação PSD/CDS/PPM nos Açores.

Segundo o apuramento dos resultados concluído na quarta-feira, os dois partidos coligados elegeram 91 deputados em 230, dos quais 89 são do PSD e dois do CDS-PP.

O Chega passou a ser a segunda maior força parlamentar, com 60 deputados, mais dois do que os 58 eleitos pelo PS.

"Nós vamos andar aqui nesta conversa, desculpem a expressão, 'ai que assinou com o PS', 'ai que não assinou com o Chega', e a gente vai levando a cacetada, assinando com um ou assinando com o outro. Nós temos que combater não é o 'A', 'B' ou 'C', é a política", a qual "é errada, contrapôs o líder do PCP.

E, para a população, continuou, "o que é que vale se o acordo para alterar as leis laborais é feito com o PS em vez de ser feito com o Chega" se o resultado for "aumentar mais a precariedade?".

E, no caso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), se "o caminho for o desmantelamento", não há "nenhuma diferença" com acordos assinados com um ou outro, insistiu. Na prática, frisou, "todos" ficam "sem médicos, sem enfermeiros, sem o SNS".

Questionado também sobre uma revisão constitucional à direita, apesar de o primeiro-ministro indigitado Luís Montenegro a ter afastado de momento, o líder do PCP disse não dar qualquer "valor a essa afirmação", que é "conversa de quem vai iniciar agora a formação de um novo Governo".

Instado ainda a comentar as presidenciais e a candidatura do almirante Gouveia e Melo, Paulo Raimundo disse que essa "não é questão fundamental agora" e ironizou que "Arlindo Passos é o candidato a presidente", mas pela CDU nas autárquicas em Alcácer do Sal.

Mais a sério, afirmou que o assunto "está a ser debatido" no seio do PCP, que "não prescinde da intervenção na batalha dos presidenciais".

O partido tem "momentos diferentes na história" e "nem sempre agiu da mesma maneira", admitiu, rematando, em tom bem-disposto: "Vai ser a grande surpresa do verão".

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