
Uma juíza federal libertou, esta quarta-feira, uma cientista russa e investigadora da Universidade de Harvard que havia sido detida pelas autoridades de imigração norte-americana sob acusação criminal de contrabando de embriões de sapo. Colegas e académicos testemunharam em nome de Kseniia Petrova, advogando que a cientista está a realizar investigações valiosas para promover curas para o cancro.
"É ciência de excelência", declarou Michael West, cientista e empreendedor da indústria da biotecnologia, sobre os artigos científicos de Petrova.
O empreendedor admitiu não conhecê-la, mas disse estar familiarizado com os trabalhos publicados pela russa, referindo um em que explica que "ao mapear o desenvolvimento embrionário, novas maneiras de intervir na biologia da regeneração e do envelhecimento" podem ser encontradas.
West afirmou que as habilidades de investigação médica de Petrova são muito procuradas e que ele próprio a contrataria "num piscar de olhos".
Kseniia Petrova, de 30 anos, está atualmente sob custódia do Serviço de Delegados dos Estados Unidos - uma agência de aplicação da lei e um órgão de polícia federal norte-americana -, no estado do Luisiana.
"Satisfeitos" com audiência, diz advogado
A cientista deve ser levada para Massachusetts já na sexta-feira, em preparação para uma audiência de fiança na próxima semana sobre a acusação de contrabando, disseram os advogados no tribunal.
"Estamos satisfeitos que a audiência de hoje nos tenha dado a oportunidade de apresentar provas claras e convincentes de que Kseniia Petrova não transportava nada perigoso ou ilegal , e que os agentes da alfândega do Aeroporto Internacional Logan não tinham autoridade legal para revogar o seu visto ou detê-la", disse o advogado de Petrova, Gregory Romanovsky, em comunicado.
"Na audiência de hoje, demonstramos que Kseniia não representa perigo para a comunidade nem risco de fuga, e não deveria estar detida em centros de detenção para imigrantes", acrescentou.
Amostras de embriões de sapo para investigação
Petrova estava de férias em França, onde parou num laboratório especializado em emendar secções superfinas de embriões de sapo e obteve um pacote de amostras para serem utilizadas em investigação.
Ao passar num posto de controlo da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos no Aeroporto Internacional Logan, em Boston, em fevereiro, Petrova foi questionada sobre as amostras.
A cientista disse à agência Associated Press, numa entrevista no mês passado, que não sabia que os itens em causa precisavam de ser declarados e que não estava a tentar fazê-los entrar clandestinamente no país.
Após um interrogatório, Petrova foi informada de que o seu visto seria cancelado.
Juíza decide que Petrova não representava perigo
Depois de ser detida por agentes de imigração, a cidadã russa entrou com uma petição no Vermont pedindo a sua libertação, tendo ficado brevemente detida nesse estado norte-americano antes de ser levada para Luisiana.
A juíza Christina Reiss decidiu esta quarta-feira que as ações dos agentes de imigração foram ilegais, que Petrova não representava perigo e que os embriões não eram vivos, não eram perigosos e "não representavam ameaça para ninguém".
O advogado de Petrova, Gregory Romanovsky, pediu a Reiss que emitisse uma ordem para impedir a possibilidade de os agentes de imigração a deterem novamente.
A magistrada indicou que estava relutante em "impedir uma agência executiva de tomar ações futuras que são incertas" e que confiaria nos comentários do advogado do Departamento de Justiça, Jeffrey Hartman, de que o Governo não tem intenção, neste momento, de prender Petrova novamente.
Romanovsky afirmou que as autoridades da Alfândega e Proteção de Fronteiras não tinham base legal para cancelar o visto de Petrova e detê-la.
O Departamento de Segurança Interna afirmou em comunicado na plataforma X que Petrova foi detida após "mentir a agentes federais sobre o transporte de substâncias para o país"
O Departamento alega que mensagens no telemóvel da cientista "revelaram que ela planeava contrabandear os materiais pela alfândega sem declará-los".
Harvard disse em comunicado que a universidade "continua a monitorizar a situação".