As relações entre o Irão e a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) têm vindo a piorar desde o ataque dos Estados Unidos às instalações nucleares iranianas.

No domingo, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, revelou ameaças de autoridades iranianas contra o líder da agência nuclear da ONU, Rafael Grossi, atualmente banido da República Islâmica que alega manipulação dos dados sobre o seu programa nuclear.

Rubio referiu-se, em particular, a um editorial publicado pelo jornal iraniano ultraconservador Kayhan, intimamente ligado ao regime iraniano, que chegou a pedir a execução de Grossi caso volte ao país por espionagem a favor de Israel no "assassínio do povo oprimido" do Irão.

O Irão negou, no próprio dia, ter ameaçado o diretor da agência e os inspetores da instituição das Nações Unidas.

Amir Saeid Iravani, numa entrevista ao canal americano CBS, quando questionado sobre as ameaças de morte feitas pelo jornal conservador Kayhan, disse que não existe qualquer ameaça.

Esta segunda-feira, França condenou veementemente as ameaças do Irão contra o chefe da Agência Internacional da Energia Atómica, sublinhando a responsabilidade do governo iraniano nas garantias de segurança dos funcionários da organização no Irão.

Irão poderá voltar a enriquecer urânio dentro de "alguns meses"

O chefe da Agência Internacional da Energia Atómica, Rafael Grossi, considera que o Irão tem capacidade técnica para voltar a enriquecer urânio dentro de "alguns meses".

"Houve danos significativos, mas não completos (...) Eles podem ter, dentro de alguns meses, eu diria, centrífugas em ação para produzir urânio enriquecido", disse Grossi na sexta-feira, numa entrevista ao canal americano CBS transmitida no domingo.

Quase uma semana após o bombardeamento americano das instalações nucleares de Fordow, Natanz e Isfahan, no Irão, todos os envolvidos - incluindo Teerão - concordam que estas instalações sofreram danos consideráveis, mas subsistem dúvidas sobre a eficácia real destes ataques.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu que o programa nuclear do Irão tinha sido adiado por "várias décadas".

Outra questão fundamental é o destino das reservas de mais de 400 quilos de urânio enriquecido a 60%, que teoricamente poderia ser utilizado para fabricar mais de nove bombas atómicas se o nível fosse aumentado para 90%.

Numa entrevista do canal norte-americano Fox News, no programa "Sunday Morning Futures", Donald Trump garantiu que as reservas de urânio iranianas não foram deslocadas antes dos ataques dos EUA: "É uma coisa muito difícil de fazer e não avisámos [antes do bombardeamento]", disse, segundo extratos da entrevista.

"Eles não mexeram em nada", assegurou.

AIEA insiste em entrar nas instalações nucleares, Irão nega por "questões de segurança"

Mas os inspetores da AIEA não veem estas reservas desde 10 de junho, daí os pedidos de acesso da agência da ONU às instalações e reservas iranianas.

No entanto, o parlamento iraniano votou a favor da suspensão da cooperação com a AIEA e o Conselho dos Guardiães, responsável pela análise da legislação no Irão, aprovou na quinta-feira o texto da lei, que deverá ser enviado à presidência para ratificação.

"É a lei deles, o parlamento deles, mas há implicações legais aqui. Um tratado internacional deve, naturalmente, ter precedência. Não se pode invocar uma lei nacional para evitar o respeito por um tratado internacional", afirmou Grossi.

A diplomacia iraniana criticou a agência da ONU por ter adotado uma resolução a 12 de junho, acusando o Irão de não cumprir as suas obrigações nucleares.

Teerão considera que esta decisão serviu de "desculpa" para Israel e os Estados Unidos atacarem as suas instalações nucleares.

"Quem pode realmente acreditar que este conflito surgiu por causa de um relatório da AIEA? Não havia nada de novo nesse relatório (...) pode ser fácil culpar uma organização internacional ou um diretor-geral, não sei, mas não é razoável", defendeu-se Grossi.

Esta segunda-feira, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Esmaeil Baghaei, disse que "não se pode esperar que o Irão mantenha a cooperação habitual com a Agência Internacional de Energia Atómica quando a segurança dos inspetores não pode ser assegurada, dias após as instalações terem sido atingidas por ataques de Israel e dos EUA".

Com Lusa