Na intervenção de abertura nas jornadas parlamentares do PSD/CDS-PP, em Évora, Hugo Soares lamentou ter ouvido, nos últimos dias, alguns comentadores acusá-lo de ser "o coveiro do não é não", após negociações parlamentares com o Chega, sobretudo nas leis da imigração.

"Quanto ao não é não, eu não perderei muito tempo a repetir aquilo que nós dissemos vezes sem conta em campanha eleitoral ou fora da campanha eleitoral: nós dissemos e repetimos que não faríamos um governo de coligação pré-eleitoral com o Chega e dissemos 'não é não', nós não governaremos numa coligação pós-eleitoral com o Chega", afirmou.

“O 'não é não' já caiu foi há dois anos”

Mas depois deu outro exemplo. Quanto ao diálogo parlamentar com o partido liderado por André Ventura, Hugo Soares salientou que existiu na anterior legislatura: "Então o 'não é não' já caiu foi há dois anos, também na anterior legislatura disse publicamente que falei e negociei várias vezes com o Chega, falei e negociei várias vezes com o Partido Socialista", contrapôs.

O líder parlamentar do PSD defendeu que "uma coisa são maiorias parlamentares formais" às quais a AD continuou a dizer "não é não" ao Chega. "Outra coisa, bem diferente, é nós conversarmos democraticamente com todos os partidos com expressão parlamentar. E como sempre dissemos que era isso que nós íamos fazer", afirmou.

Hugo Soares referiu que, quer ele quer o primeiro-ministro, quando questionados - antes das eleições ou mesmo depois - com quem iam governar, sempre responderam "com todos". "Eu disse várias vezes: nós vamos falar com o PS, que é um partido fundador histórico da nossa democracia, nós vamos falar com o Chega, como segunda maior força política com representação parlamentar", afirmou, estendendo essa disponibilidade à IL e "até à extrema-esquerda", se esses partidos tivessem interesse.

Para o líder parlamentar do PSD, as últimas semanas "foram lapidares" quanto a esse diálogo com vários partidos.

"Nós viabilizámos uma descida de impostos para as pessoas que trabalham com o PS e com o Chega a viabilizar. Nós criamos uma polícia de Unidade de Estrangeiras e Fronteiras com o PS e o Chega a viabilizar", exemplificou, cumprimentando esses dois partidos por terem "aderido às ideias da AD" que há um ano rejeitaram, no caso da nova unidade especial.

“Apertar e regular” a imigração é “puro humanismo”

No tema que tem dominado o primeiro mês desde que o segundo Governo de Luís Montenegro iniciou funções, a imigração, o líder parlamentar do PSD reivindicou que as alterações introduzidas não se devem nem "a complexos ideológicos, nem a razões de segurança absurdas ou de posicionamento político".

"São razões de puro humanismo as primeiras que nos fazem regular as questões da imigração em Portugal (...) Nós não podemos aceitar que Portugal deixe entrar quem quer vir para cá e que venha para cá a viver na miséria ou sem condições", afirmou.

Hugo Soares admitiu que PSD e CDS-PP querem mesmo "apertar e regular a entrada em Portugal de imigrantes", apesar de ser claro que a economia portuguesa "precisa do fluxo imigratório, seja nas profissões mais qualificadas ou nas menos qualificadas".

"É bom que o país saiba que nós precisamos continuar a deixar entrar imigrantes. Mas o país sabe, nós sabemos, só alguns é que ainda não perceberam, que nós temos que saber quem são, como vêm, onde estão e como estão em território nacional", afirmou.

O líder parlamentar do PSD rejeitou ainda as críticas de que a atual maioria seja "uma força de bloqueio", contrapondo com os 18 requerimentos aprovados já para a audição de ministros no parlamento neste primeiro mês e que se o PSD fosse como a oposição não haveria tantos ministros a serem chamados ao parlamento.

Hugo Soares deixou ainda o compromisso de continuar a realizar jornadas parlamentares descentralizadas pelo país, nos Açores (depois de já ter havido umas na Madeira), e até, como novidade, fora do país, "junto das comunidades portuguesas".

PS é que “quebrou consenso” na nacionalidade

Reforçando sempre que o seu partido irá procurar "o maior consenso possível" para aprovar as alterações à Lei da Nacionalidade, Hugo Soares disse que serão discutidas em setembro no parlamento as novas medidas, e devolveu as críticas do PS, que tem acusado o Governo de cair nas mãos da extrema-direita nesta matéria.

"Quem acabou com os consensos em matéria de Lei da Nacionalidade em Portugal foi o PS, não fomos nós agora. As últimas revisões da Lei da Nacionalidade o PS ou fez sozinho ou fez com a extrema-esquerda em Portugal e abandonou o consenso histórico que tinha com o PSD", acusou.

Farpas sobre a TAP

Hugo Soares deixou ainda outra crítica dura ao secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, que defendeu que o Estado deveria devolver aos contribuintes os 3,2 mil milhões de euros injetados na TAP, após o anúncio da reprivatização de 49,9% da companhia por parte do atual executivo PSD/CDS-PP.

"Ouvir o secretário-geral do PS apelar a que na privatização de 49,9% do capital social da TAP nós pudéssemos recuperar os 3,2 mil milhões de euros que eles lá injetaram é, no mínimo, trágico-cómico", acusou.

Por um lado, o líder parlamentar do PSD defendeu que o PS deveria começar por pedir desculpa aos portugueses. "Porque a decisão de investir, de colocar, de despejar 3,2 mil milhões de euros na TAP foi do PS e com a mão toda do ex-secretário-geral do PS, que o atual apoiou", disse, numa referência a Pedro Nuno Santos.

Por outro lado, considerou esta afirmação de José Luís Carneiro também cómica.

"Exigir que nesta privatização se pudesse recuperar os 3,2 mil milhões de euros que eles lá depositaram significava dizer que, grosso modo, o PS avaliava a TAP na sua totalidade em cerca de 6,4 mil milhões de euros, ou seja, valia uma, duas ou três vezes mais do que a Air France", criticou.

"Das duas, uma: ou é o combate político pelo combate político, sem critério, sem rigor, ou então é mesmo uma manifesta incompetência do secretário-geral do Partido Socialista", acusou.

Numas jornadas parlamentares que decorrem na semana do debate do estado da nação, Hugo Soares fez um balanço do que considera estar melhor no país do que há um ano, em que incluiu a situação da escola pública, das forças e serviços de segurança, mas também da saúde, entre outras.

Saúde melhor

"Há um ano, por muito que custe a muitos admitir, nós tínhamos mais urgências encerradas, nós tínhamos pior Serviço Nacional de Saúde, mais tempo de espera nas urgências (...) Também há mais notícias sobre urgências fechadas porque elas passaram a ser publicadas com tempo e horas para que as pessoas não esbarrem às portas dos hospitais. É só por isso que há mais notícias sobre urgências fechadas", defendeu.

Hugo Soares apontou ainda alguns compromissos que considera que o Governo PSD/CDS-PP já cumpriu após apenas um mês de investidura, em que incluiu, além da privatização parcial da TAP, a redução do IRS, mas também a proibição de telemóveis para os alunos mais novos e a revisão do programa da disciplina da cidadania.

"Nós não temos complexos ideológicos. O que não aceitamos é que a escola pública seja para determinar ideologias específicas e uma orientação específica. Nós somos pela liberdade", afirmou.