"Este país tinha cerca de nove milhões de habitantes e apenas 7,7% da população sabia ler e escrever. Nestes 7,7% incluíam-se também portugueses residentes [...]. Nós éramos um país literalmente de analfabetos", declarou Graça Machel, numa aula aberta promovida pela Universidade Pedagógica de Moçambique para celebrar 40 anos da instituição, em Maputo.

Segundo a ex-governante -- a primeira a ocupar a pasta da Educação -, os poucos que sabiam ler após a proclamação da independência em 25 de junho de 1975 estavam ligados à administração pública e à educação, um grupo que liderou os projetos de alfabetização de que o país precisava.

"Neste país havia apenas uma escola de magistério primário, que estava localizada em Lourenço Marques [atual Maputo]", acrescentou.

Graça Machel lembrou que foi nomeada para o cargo de ministra da Educação pouco depois da proclamação da independência e a informação chegou-lhe através da rádio.

"Não tinha experiência de trabalho e lá estava eu, sentada como ministra. O que é que eu decidi fazer? Fazer-me rodear das poucas pessoas que tinham muito mais formação e muito mais experiência do que eu", declarou a ativista social.

O desafio, contou, era claro: estruturar um Ministério da Educação dentro de um contexto em que apenas 7,7% da população sabia ler e escrever.

A antiga mulher do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, considerou que as bases do sistema de educação no país foram uma "obra coletiva", resultado do envolvimento de todos moçambicanos.

" A origem da educação neste país não foi fruto de pessoas licenciadas e altamente experientes [...], foi uma obra coletiva, de centenas de milhares de moçambicanos que se organizaram e se estruturaram [...]. Assim fizemos da educação um instrumento para afirmação da identidade moçambicana", declarou.

A primeira titular da Educação no país destacou a importância dos grupos de alfabetização que tomaram fábricas e campos agrícolas coletivos, nos esforços para massificação do ensino no país.

"Ficou muito claro que não se tratava de um grupo pequeno que iria transformar a educação em Moçambique. Eram necessários todos", frisou.

Num ano em que o país assinala 50 anos após a proclamação da independência, Graça Machel ressalvou que a noção de que Moçambique é indivisível é a principal conquista deste meio século.

"Houve várias tentativas de nos dividir, mas nós permanecemos um país inteiro, do Rovuma ao Maputo. Para mim esta é a conquista maior", frisou, apontando também o surgimento gradual da "consciência social" como outro aspeto positivo deste meio século.

Em 25 de junho de 1975, o primeiro Presidente de Moçambique e histórico líder da Frelimo, partido no poder e que conduziu a luta de libertação, proclamou a independência nacional, após uma luta contra o regime colonial português que começou em 25 de setembro de 1964.

 

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