Alvo de sanções iminentes pelos Estados Unidos, Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinianos ocupados, garante que tenciona continuar o seu trabalho. No entanto, alerta que uma medida desta natureza pode criar um precedente “perigoso” para defensores dos direitos humanos em todo o mundo.

“Já não há linhas vermelhas... É assustador”, afirmou, em entrevista à Reuters, a advogada italiana, que se tem destacado por apelar ao fim do que descreve como o “genocídio” levado a cabo por Israel contra os palestinianos em Gaza. Acrescentou que as sanções que venham a ser impostas irão limitar a sua liberdade de circulação e terão um “efeito dissuasor” sobre quem colabora consigo: “Para cidadãos americanos ou titulares de ‘green card’, isto será extremamente problemático.” Ainda assim, foi perentória: “Os meus planos são continuar a fazer o que tenho feito.”

O anúncio das sanções foi feito esta semana por Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, que, nas redes sociais, declarou que a relatora seria incluída na lista de sanções dos EUA. Justificou a decisão com as “ações” de Francesca Albanese, que, segundo afirmou, impulsionaram “acusações ilegítimas contra israelitas” no Tribunal Penal Internacional. “A campanha de guerra política e económica de Albanese contra os Estados Unidos e Israel já não será tolerada”, escreveu o secretário de Estado. “Estaremos sempre ao lado dos nossos parceiros no seu direito à autodefesa.”

Francesca Albanese reagiu ao anúncio das sanções no X (antigo Twitter): “Os poderosos a punirem quem fala pelos que não têm voz não é sinal de força, mas de culpa.” E apelou à atenção da comunidade internacional: “Todos os olhos devem continuar voltados para Gaza, onde crianças morrem de fome nos braços das mães, enquanto pais e irmãos são despedaçados por bombas quando procuram comida.”

A advogada é uma entre dezenas de especialistas independentes nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, composto por 47 Estados-membros, para monitorizar e relatar situações específicas em todo o mundo, como crises ou a situação dos direitos humanos num determinado país. E tem sido "muito crítica do tratamento dado por Israel aos palestinianos", sublinha a Reuters.

Francesca Albanese denunciou “economia do genocídio” em relatório

Recentemente, apresentou ao Conselho de Direitos Humanos da ONU um relatório em que denuncia que a ocupação israelita dos territórios palestinianos não é apenas um projeto político ou militar, mas também um sistema económico estruturado e “lucrativo”

Segundo Francesca Albanese, ao longo dos anos, consolidou-se uma “economia de ocupação” que, com a ofensiva em Gaza, evoluiu para uma verdadeira “economia do genocídio”. Empresas multinacionais e investidores estariam a lucrar com a guerra, fornecendo armamento, tecnologia e infraestruturas que sustentam tanto a destruição física do território como o “apagamento sistemático da vida palestiniana”.

No mesmo relatório, apelava ainda aos Estados-membros da ONU para que imponham um embargo de armas e suspendam os laços comerciais e financeiros com Israel, acusando o país de conduzir uma “campanha genocida” na Faixa de Gaza.

A missão de Israel em Genebra reagiu, classificando o relatório como “sem base legal, difamatório e um flagrante abuso das suas funções”.