Os funcionários das autoridades de saúde pública dos Estados Unidos foram instruídos para parar de trabalhar com a Organização Mundial de Saúde (OMS), com efeitos imediatos.
Um dirigente do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, John Nkengasong, enviou um memorando aos altos funcionários da agência no domingo à noite, informando que todos os elementos que trabalham com a OMS devem interromper imediatamente as suas colaborações e "aguardar novas orientações".
A agência Associated Press (AP) teve acesso a uma cópia do memorando de Nkengasong, que indica que a política de paralisação do trabalho se aplica a "todos os funcionários do CDC que interagem com a OMS através de grupos de trabalho técnicos, centros de coordenação, conselhos consultivos, acordos de cooperação ou outros meios, pessoalmente ou virtualmente".
O documento refere também que as equipas do CDC não têm permissão para visitar os escritórios da OMS.
Segundo a AP, os especialistas argumentam que a paragem repentina foi uma surpresa e atrasará o trabalho de investigação e a tentativa de impedir surtos do vírus Marburg e do mpox em África, bem como outras ameaças emergentes em todo o mundo.
A suspensão da interação entre o CDC e a OMS também acontece numa altura em que as autoridades de saúde de todo o mundo estão a executar medidas de proteção contra a gripe aviária.
Trump quer sair da OMS
Na semana passada, o Presidente norte-americano, Donald Trump, emitiu uma ordem executiva para iniciar o processo de saída da OMS, mas esta não entrou imediatamente em vigor.
"Eles [China] estão a pagar 39 milhões de dólares (37,6 milhões de euros, em contribuições para a OMS). Nós estávamos a pagar 500 milhões (482 milhões de euros). Parece-me um pouco injusto", alegou o político republicano, que regressou no dia 20 de janeiro à Casa Branca.
O abandono da OMS exige a aprovação do Congresso e que os Estados Unidos cumpram com as suas obrigações financeiras para o presente ano fiscal. Washington também deve fornecer um aviso prévio de um ano.
"Interromper as comunicações e as reuniões com a OMS é um grande problema", comentou Jeffrey Klausner, especialista em saúde pública da Universidade do Sul da Califórnia que colabora com a agência da ONU contra infeções sexualmente transmissíveis.
"As pessoas pensaram que haveria uma retirada lenta. Isto realmente apanhou toda a gente de surpresa", observou Klausner, que disse ter tido conhecimento da suspensão imediata através de um membro do CDC. "Falar com a OMS é uma via de dois sentidos", acrescentou, referindo que a organização e as autoridades de saúde dos Estados Unidos beneficiam mutuamente das respetivas experiências.
Uma autoridade de saúde dos Estados Unidos, que não estava autorizada a falar sobre o memorando e falou com a AP sob anonimato, confirmou a suspensão.
Já um porta-voz da OMS encaminhou as perguntas sobre a retirada de Washington para as autoridades norte-americanas.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos não responderam ainda a um pedido de esclarecimentos.