
Imagens que exploram a intimidade de inúmeras mulheres foram partilhadas em grupos de Telegram, com centenas de milhares de utilizadores espalhados por todo o mundo. As vítimas são mulheres chineses, fotografadas e filmadas sem o seu consentimento.
São frequentes as imagens captadas, sem que as mulheres se apercebam, em espaços como casas de banho públicas. Há também partilha, por parte dos utilizadores destes grupos, de imagens privadas das atuais ou ex-namoradas e de outras mulheres suas familiares.
O caso foi denunciado, na última semana, pelo jornal chinês Southern Daily e ganhou eco nos meios de comunicação internacionais.
Uma das vítimas contou ao jornal chinês que revelou o caso que o ex-namorado a fotografou secretamente durante as relações sexuais e que publicou as suas fotos privadas no grupo sem autorização. Diz que só descobriu o que se passava depois de ter recebido um alerta anónimo.
Em muitos casos, estas imagens privadas são mesmo colocadas à venda nos grupos. E há até utilizadores que põem mais combustível na máquina e aproveitam o Telegram para venderem câmaras escondidas em objetos do dia a dia, para que os outros utilizadores possam fotografar mulheres às escondidas e perpetuar a prática.
Utilizadores usavam VPN para escapar a controlo chinês
A situação está a escandalizar a China. Tem sido o assunto do momento, com mais de 250 milhões de visualizações na plataforma chinesa Weibo, de acordo com a Reuters.
O país tem leis muito duras no que toca à obscenidade e os conteúdos na internet considerados pornográficos são altamente controlados – além de que, para aceder a redes como o Telegram, que está bloqueado na China, é necessário o uso de uma VPN (uma rede virtual privada). Por isso, o facto de estas imagens terem atingido tal nível de propagação está ser considerado chocante.
O grupo de Telegram que espoletou a investigação do jornal chinês já foi, entretanto, desativado, mas muitos outros sub-fóruns do mesmo tipo mantêm-se ativos na rede.
A resposta do Telegram e o caso que chocou Portugal
O Telegram – rede de mensagens instantâneas que foi fundada por dois irmãos russos e que está, atualmente, sediada no Dubai – garante que a partilha de conteúdos pornográficos não consentidos está “explicitamente proibida” e que esses conteúdos são removidos sempre que são descobertos.
No entanto, casos semelhantes, com a partilha não consentida de imagens de mulheres, não são raros.
Em Portugal, foi, no ano passado, trazida a público a existência de um grupo com cerca de 120 mil utilizadores onde eram divulgadas imagens contra a vontade das vítimas.
Crime pode dar prisão, mas autores são difíceis de identificar
Na China, nota a agência Reuters, estes utilizadores podem ser condenados por “produzir, vender e divulgar materiais obscenos com fins lucrativos” e por “utilizar ilegalmente equipamento especial para escutas e tirar fotografias sem consentimento”. As penas, contudo, não deverão ir além de meras multas ou dez dias de detenção administrativa, nos casos considerados mais graves.
Também em Portugal este tipo de ações são crime – nomeadamente de gravação ilícita ou devassa por meios de difusão pública - podendo ser punidas com pena de prisão até cinco anos.
No entanto, é muito difícil descobrir quem está por trás destes grupos, já que o Telegram não permite identificar os autores das publicações. Os utilizadores não são obrigados a usar a identidade real e podem, em muitos casos, recorrer a números de telemóveis falsos para utilizar a plataforma.
Em território português, as vítimas deste tipo de crimes podem pedir ajuda através de associações como a Não Partilhes e a Linha Internet Segura da APAV, que denunciam e combatem estes crimes.