Enquanto os ataques israelitas prosseguem no Líbano e na Faixa de Gaza, os principais diplomatas norte-americanos viajaram até Israel para procurar um acordo de cessar-fogo entre os israelitas e o Hezbollah. Após o encontro entre oficiais dos Estados Unidos e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, durante o dia desta quinta-feira, o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken disse que houve “bom progresso” nas negociações entre ambas as partes.
À Associated Press, Blinken afirmou que os EUA estão “a trabalhar muito” para conseguir um acordo que inclua a retirada de tropas do Hezbollah da fronteira com Israel. “Com base na minha recente visita à região e com o trabalho que foi feito até agora, fizemos bom progresso nesses entendimentos. Ainda temos muito para fazer”, sublinhou o chefe da diplomacia norte-americana, reiterando o pedido por uma “resolução diplomática” no Médio Oriente.
Blinken reiterou ainda que gostaria de ver uma “implementação efetiva” das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que têm sido largamente ignoradas por Israel, especialmente no que diz respeito à proteção de vidas civis. E apelou a que fossem também respeitadas as resoluções que exigem o desarmamento de milícias não-governamentais do Líbano e a retirada das tropas israelitas.
“Estamos com esperança que possamos ver as coisas a mudar no Líbano num futuro não muito distante”, acrescentou o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, citado pelo The Guardian, falando em “oportunidade”.
Mas a atitude positiva não se refletiu nas partes envolvidas no conflito na região. O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, apontou que espera um cessar-fogo “nas próximas horas ou dias”, e o novo líder do Hezbollah, Naim Qassem, mostrou-se recetivo a uma trégua “com condições”. Já o Governo israelita continua favorável a uma continuação dos ataques no Líbano, que já mataram milhares de civis.
“Os acordos, papeis, propostas, as resoluções, tudo tem o seu lugar, mas não o principal. O principal é manter a nossa capacidade e determinação de reforçar a segurança, de afastar os ataques contra nós e de agir contra o armamento dos nossos inimigos, tanto quanto for necessário, apesar de todas as pressões e constrangimentos”, defendeu Netanyahu, numa declaração país.
O líder israelita garantiu que está a trabalhar para que os restantes reféns do Hamas sejam libertados (embora uma grande maioria da população tenha protestado contra a falta de flexibilidade de Netanyahu em conseguir um acordo). E apontou o dedo ao Irão, dizendo que “as palavras dos líderes do regime” do país “não escondem o facto de Israel ter maior liberdade de ação do que o Irão nos dias de hoje”. “Podemos atingir qualquer ponto do Irão se precisarmos”, ameaçou.
Quanto ao Hamas, o grupo está à procura de um cessar-fogo na Faixa de Gaza - incluindo no norte, onde as tropas israelitas têm travado a entrada de ajuda humanitária e bombardeado várias unidades hospitalares -, mas avisou que rejeita uma ideia de uma pausa a curto prazo. “A ideia de uma pausa temporária na guerra, para depois retomar a agressão, é algo ao qual já expressamos oposição. O Hamas apoia um fim permanente da guerra, não um fim temporário”, afirmou à agência France-Presse o representante do grupo Taher al-Nunu.
Irão avisa que a sua resposta aos ataques israelitas será “brutal”
O Irão prometeu esta quinta-feira uma resposta “brutal” ao ataque israelita de sábado contra as instalações militares iranianas, afirmando que Israel vai “arrepender-se”, noticiaram os meios de comunicação locais.
“A recente ação do regime sionista, que atacou partes do nosso país, foi um ato desesperado e a República Islâmica do Irão vai responder de uma forma brutal que fará com que Israel se arrependa”, disse Mohammad Mohammadi Golpayegani, chefe de gabinete do líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, segundo a agência noticiosa iraniana Tasnim.
Khamenei elogiou o desempenho da defesa aérea iraniana que “impediu a entrada de aviões de combate do regime sionista no Irão” e afirmou que os danos causados pelos ataques foram “mínimos”. O comandante-chefe da Guarda Revolucionária do Irão, o general Hossein Salami, avisou que estaria reservada a Israel uma resposta “inimaginável”.
“Israel atingiu a fase de colapso e está agora a agir cegamente, sem respeitar quaisquer regras, e a cometer todos os tipos de crimes”, acrescentou, segundo a agência Tasnim.
As declarações dos líderes surgem após as Forças de Defesa de Israel (FDI) terem levado a cabo um ataque maciço às infraestruturas militares essenciais do Irão durante o fim de semana, em resposta ao anterior ataque do exército iraniano no início de outubro, que também visou instalações militares israelitas.
O principal objetivo deste ataque, disse Netanyahu, foi reduzir as capacidades de armamento nucleares do Irão. “Não tirámos nem tiraremos os olhos desse objetivo. Por razões óbvias, não posso detalhar os nossos planos para atingir este objetivo primordial”, reiterou o líder israelita, segundo o The Times of Israel.
Outras notícias:
⇒ Dois ataques com ‘rockets’ do Hezbollah mataram esta quinta-feira pelo menos sete pessoas no norte de Israel, com a BBC a avançar que este é a ação que fez mais mortos por parte do grupo libanês. Segundo confirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, o ataque matou cinco civis na localidade de Metula, perto da fronteira. A barragem de ‘rockets’ teve como alvo as forças israelitas a sul da localidade libanesa de Khiam, que fica a norte de Metula, tendo acabado por atingir os civis durante a madrugada;
O Exército israelita anunciou a morte de Muhammad Jalil Alian, comandante da unidade de mísseis antitanque do grupo xiita libanês Hezbollah, no sul do Líbano, a cerca de 11 quilómetros da fronteira com Israel. Alian morreu na segunda-feira num bombardeamento da Força Aérea israelita contra a zona de Qalaouiyeh, de acordo com um comunicado divulgado esta manhã pelas Forças de Defesa de Israel;
⇒ Pelo menos uma criança por dia foi morta no Líbano desde o início da invasão do exército israelita, a 01 de outubro, para combater o grupo xiita Hezbollah, avançou esta quinta-feira o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Além disso, todos os dias ficam feridas pelo menos 10 crianças, adiantou a organização, em comunicado divulgado, acrescentando que o conflito está a causar “profundas cicatrizes emocionais” aos menores libaneses;
⇒ Uma base da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL) foi atingida por um ‘rocket’ na noite de quarta-feira, disseram esta quinta-feira as forças armadas irlandesas, cujos capacetes azuis comandam esta instalação militar. A base atacada, Camp Shamrock, situa-se a cerca de sete quilómetros da fronteira com Israel. O chefe do Estado-Maior conjunto irlandês, Sean Clancy, afirmou que o projétil se movia alegadamente “de norte para sul”, o que em princípio apontaria para um lançamento realizado pelas milícias libanesas;
⇒ Três palestinianos foram mortos durante uma operação militar israelita em Tulkarem, no norte da Cisjordânia ocupada, anunciaram o Ministério da Saúde palestiniano e um comité local. Pelo menos 749 palestinianos foram mortos pelo exército israelita ou por colonos desde o dia 7 de outubro de 2023;
⇒ A Alemanha decidiu encerrar os três consulados iranianos no seu território em reação à execução em Teerão do dissidente iraniano naturalizado alemão Jamshid Sharmahd, anunciou a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã. Annalena Baerbock declarou, durante um discurso, que “decidiu encerrar os três consulados-gerais iranianos em Frankfurt, Munique e Hamburgo” após o “assassínio” do dissidente Jamshid Sharmahd por “um regime ditatorial e injusto”.