
A principal causa do apagão de 28 de abril terá sido um "problema sistémico de controlo de tensão", da responsabilidade da Red Eléctrica Española (REE), de acordo com um estudo encomendado pela associação espanhola de empresas do setor Aelec.
Neste trabalho, efetuado pelo português INESC TEC e pela consulta Compass Lexecon, aponta-se "como principal causa do apagão um problema sistémico de controlo da tensão, da responsabilidade da REE, agravado por manobras anteriores - especialmente na Andaluzia - que geraram um excesso de potência reativa superior à capacidade técnica do único grupo de ciclo combinado que estava ligado na zona e, portanto, incompatível com a estabilidade do sistema".
Num comunicado, hoje divulgado, a associação indicou que o estudo deu conta de um "aumento das sobretensões e insuficiência dos mecanismos de controlo da tensão", sendo que "o número de horas de sobretensão na rede de transporte tem aumentado de forma preocupante nos últimos anos".
Segundo o estudo, houve "avisos anteriores" após os quais as anomalias não foram corrigidas. "Já tinham sido detetadas flutuações significativas de tensão nos dias 16, 22 e 24 de abril, especialmente no dia 22 de abril, sem que tivessem sido implementadas medidas corretivas, e as condições de risco repetiram-se no dia 28 de abril", lê-se num comunicado da associação.
Por outro lado, registou-se uma "distribuição inadequada e mal planeada da produção convencional", sendo que, no dia 27 de abril, "o mercado de restrições técnicas não estava concluído e, no dia do apagão, os recursos hídricos disponíveis não foram ativados e a produção convencional no sul não foi reforçada a tempo".
O estudo detetou ainda "desvios não reconhecidos", garantindo que entre as 10:00 e as 12:00 do dia 28 de abril, "houve avisos de desvios de tensão que não foram reconhecidos pela REE, apesar da documentação disponível".
De acordo com o trabalho, foram ainda realizadas "manobras contraproducentes". Assim, "entre as 12:00 e as 12:30, a REE reconetou 11 linhas de transmissão no sul, reduzindo a margem de controlo de tensão imediatamente antes do colapso".
O estudo apontou também "desconexões adequadas por parte das centrais elétricas", assegurando que "o relatório não identifica comportamentos anómalos por parte das centrais elétricas pertencentes a empresas associadas da Aelec", bem como a recuperação do sistema. "Desde o reforço da produção convencional, não se registaram mais problemas de controlo de tensão", salientou.
De acordo com o trabalho, há ainda falta de acesso a dados fundamentais, detidos pela REE.
No comunicado, a associação critica as conclusões do grupo de peritos da Rede Europeia de Operadores de Transporte de Eletricidade (ENTSO-E).
"O relatório técnico da ENTSO-E omite dados técnicos como a não substituição de uma unidade crítica de ciclo combinado na Andaluzia, sinais anteriores de instabilidade no controlo da tensão e confusão sobre os limites de tensão aplicáveis em Espanha, omissões e erros de análise que enfraqueceram a segurança do sistema antes do apagão", salientou.
A Aelec integra a Iberdrola, Endesa e EDP, entre outras.