
O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros defendeu hoje a aplicação de um "embargo" à venda de armas a Israel para travar a guerra em Gaza, e a suspensão imediata do Acordo de Associação entre a União Europeia e aquele país.
José Manuel Albares apresentou esta proposta no início da cimeira do Grupo de Madrid, que reúne na capital espanhola representantes de 20 países europeus - entre eles Portugal - e árabes que promovem a solução de dois Estados como forma de ultrapassar o conflito no Médio Oriente.
"Todos temos de implementar um embargo de armas. Não pode haver venda de armas a Israel", defendeu o chefe da diplomacia espanhola, que apelou a uma revisão da lista nacional de sanções individuais que cada país e a UE têm.
Lembrou que a Espanha aplica sanções individuais há já algum tempo e, sem excluir "quaisquer" sanções adicionais, encorajou os outros países a trabalharem em conjunto para serem mais eficazes e aplicaram medidas específicas.
Albares indicou ainda que irá pedir aos participantes na reunião para a Conferência das Nações Unidas de 17 de junho que constituam "um grande movimento" de reconhecimento do Estado palestiniano, para que os países que ainda não o fizeram deem o passo que a Espanha deu há um ano.
Além disso, o chefe da diplomacia espanhola explicou que pretende incentivar o apoio à proposta de resolução das Nações Unidas que a Espanha está a promover em conjunto com a Palestina para que a ajuda humanitária possa entrar na zona em grande escala e sem obstáculos.
"O único interesse de todos nós, que estamos aqui reunidos hoje, é pôr termo a esta guerra injusta, cruel e desumana de Israel em Gaza, romper o bloqueio à ajuda humanitária e avançar definitivamente para uma solução de dois Estados", declarou Albares.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países que participam na segunda reunião do "Grupo de Madrid" sobre a situação em Gaza defenderam a urgência, em conjunto, de romper o "círculo virtuoso" de violência entre palestinianos e israelitas com uma paz duradoura que passe pelo reconhecimento da Palestina.
Em declarações aos jornalistas antes do início desta reunião na capital espanhola, que junta representantes de cerca de vinte países que promovem a solução de dois Estados, o ministro dos Negócios Estrangeiros norueguês, Espen Barth Eide, afirmou que "acabar com o conflito é muito mais do que acabar com a guerra [atual], porque há muitos anos que [se constata] a violência a matar pessoas, dá-se uma pausa, e depois volta novamente".
A Noruega, um dos países que, juntamente com a Espanha, reconheceu a Palestina como um Estado - uma declaração que celebra o seu primeiro aniversário na quarta-feira - disse que a situação "dramática" que Gaza está a viver após o fim do cessar-fogo provocou um "novo impulso", com vários países "dispostos a dizer abertamente que isto tem de acabar".
Por seu turno, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, afirmou que a situação em Gaza é uma "catástrofe total" e descreveu a reunião de Madrid como "crucial" para preparar a conferência agendada para 18 de junho, em Nova Iorque, sobre a solução de dois Estados, que considera ser "um momento transformador da situação".
Tanto o ministro norueguês como a sua homóloga islandesa, Katrín Gunnarsdóttir, manifestaram a esperança de que mais países reconheçam a Palestina como um Estado e que isso aconteça em paralelo com a normalização das relações dos países árabes com os palestinianos.
"Temos de abrir caminho" para que os "grandes países" reconheçam também Israel, disse a chefe da diplomacia islandesa, um processo que considerou "vital", e a "única solução viável", devendo ser acompanhado pelo respeito do Médio Oriente pelo Estado de Israel.
"É uma boa ideia que os países árabes normalizem as suas relações com Israel", acrescentou Eide, que se disse aberto a "trabalhar com os Estados Unidos" para chegar a uma solução para o conflito que possa basear-se nos Acordos de Abraão e na colaboração.
Antes da reunião, o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestiniana, Mohamed Mustafa, apelou à intensificação da pressão que a Europa e outros países começaram a exercer sobre Israel para que termine o "inferno" em Gaza e na Cisjordânia.
"Este inferno tem de acabar imediatamente e sem condições", disse Mustafa no seu discurso na cimeira do Grupo de Madrid, que reuniu na capital espanhola representantes de 20 países europeus e árabes que promovem a solução de dois Estados.
Do seu lado, o primeiro-ministro do Qatar, Mohamed bin Abdulrahman Al-Thani, apelou a que "nenhum país" aceite os mecanismos "desumanos" que Israel está a propor para Gaza, numa aparente alusão ao convite israelita para que a Bélgica colabore na distribuição de ajuda na Faixa.
O chamado "Grupo de Madrid", na sua versão alargada ("Madrid +"), reuniu hoje cerca de duas dezenas de representantes diplomáticos de vários países europeus e árabes e até do Brasil, mais do dobro do que na sua primeira reunião, no ano passado.
Pela primeira vez, enviados da Alemanha, Brasil, França, Itália e Portugal, entre outros, participaram numa reunião dirigida por Albares, e na qual participaram dois primeiros-ministros (os da Palestina e do Qatar) e sete ministros dos Negócios Estrangeiros (Arábia Saudita, Brasil, Noruega, Portugal, Egito, França - por videoconferência - e Islândia).
Desde o início da guerra, na sequência dos ataques do Hamas contra Israel a 07 de outubro de 2023, pelo menos 53.939 pessoas morreram e 122.797 ficaram feridas no território palestiniano sitiado, segundo um balanço do Ministério da Saúde do Governo do Hamas de Gaza, considerados fiáveis pela ONU.
O ataque dos comandos do Hamas em Israel resultou na morte de 1.218 pessoas do lado israelita, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
Das 251 pessoas raptadas nesse dia, 57 permanecem em Gaza, das quais pelo menos 34 estão mortas, segundo as autoridades israelitas.