O Irão e os Estados Unidos, que iniciaram negociações no sábado passado sobre o programa nuclear de Teerão, têm "pouco tempo" para alcançar um acordo, alertou hoje o diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi.

"Estamos numa fase crucial destas importantes negociações. Sabemos que temos pouco tempo, e é por isso que estou aqui para facilitar este processo", afirmou Grossi, em declarações a vários 'media' estatais iranianos em Teerão, após uma reunião com o líder da Organização da Energia Atómica do Irão, Mohammad Eslami.

O Irão e os Estados Unidos realizaram uma primeira ronda de negociações na semana passada, em Omã, com o objetivo de chegar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Uma nova ronda está prevista para o próximo sábado em Roma, com os diplomatas do sultanato de Omã a manterem a função de intermediários.

O chefe da AIEA - agência que integra o sistema da ONU -- afirmou em Teerão que tem estado também "em contacto com o negociador americano para ver como a agência pode ser uma ponte entre o Irão e os Estados Unidos e ajudar a alcançar um resultado positivo nas negociações".

E frisou: "Para que um acordo seja válido, deve ser acompanhado de uma verificação por parte da agência".

O diplomata argentino, que assumiu a liderança da AIEA em 2019, chegou a Teerão na quarta-feira e reuniu-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araqchi, o negociador da República Islâmica nas conversações com o enviado especial dos Estados Unidos para o Médio Oriente, Steve Witkoff.

Após a reunião, Araqchi afirmou que a AIEA deveria afastar-se da "politização" destas negociações e concentrar-se nas questões técnicas, advertindo que as conversações com Washington poderiam ainda "descarrilar".

A AIEA tem várias questões pendentes com o Irão, nomeadamente o rápido enriquecimento de urânio até 60%, próximo dos 90% necessários para uma bomba nuclear, e o acesso limitado dos seus inspetores ao país.

A agência da ONU tenta igualmente há vários anos esclarecer a origem de vestígios não naturais de urânio detetados em três locais. Tais localizações nunca foram declaradas pelas autoridades iranianas como parte integrante do seu programa nuclear.

Já a República Islâmica tem acusado a AIEA de uma alegada politização do programa nuclear iraniano.

Sem relações diplomáticas desde 1980, Teerão e Washington descreveram a primeira reunião em Omã como construtiva, mas nos últimos dias surgiram divergências até sobre o que negociar.

O Irão só quer falar sobre a capacidade nuclear, fechando a porta ao desmantelamento ou à discussão do programa de mísseis ou do apoio a grupos regionais como os huthis do Iémen ou o Hezbollah do Líbano.

O emissário norte-americano Steve Witkoff insistiu que "o Irão deve parar e eliminar o programa de enriquecimento de urânio e de armas nucleares".

Um acordo internacional, assinado em 2015 entre o Irão e seis potências, limitava o programa nuclear de Teerão em troca do levantamento das sanções. O acordo caducou quando Donald Trump decidiu retirar os Estados Unidos do pacto em 2018, no primeiro mandato como presidente (2017-2021).