
A Bulgária afirmou ter fornecido armas aos Emirados Árabes Unidos que foram depois transferidas para o Sudão, apesar do embargo da União Europeia, mas negou qualquer violação das sanções internacionais, de acordo com uma investigação da France 24.
"Os produtos foram integralmente recebidos pelo ministério da Defesa dos Emirados Árabes Unidos [EAU]", lê-se num comunicado do fabricante búlgaro de material militar Dunarit, consultado pela agência de notícias France Presse (AFP), que remete para uma investigação da rede de televisão pública francesa France 24.
De modo a "dissipar quaisquer dúvidas sobre a legalidade da posição búlgara neste assunto", a empresa publicou a cópia de um certificado, datado de agosto de 2020, relativo à encomenda de 15 mil projéteis de morteiro pelas forças armadas dos EAU.
O ministério búlgaro da Economia, citado pela agência de notícias BTA, desmentiu também qualquer violação do embargo europeu.
A licença de exportação foi emitida para "uma agência governamental num país que não está sujeito a sanções da Organização das Nações Unidas [ONU]", alegou.
O Sudão está sujeito a um embargo da União Europeia à venda de armas, enquanto a ONU impôs um embargo exclusivamente à região de Darfur desde 2004.
De acordo com a France 24, estas armas, que surgem em vídeos partilhados em novembro do ano passado por combatentes sudaneses, seriam, segundo os próprios, destinadas à organização paramilitar sudanesa Forças de Apoio Rápido (RSF, sigla em inglês).
O Sudão está a ser devastado desde abril de 2023 por uma guerra entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhan, que chegou ao poder num golpe em 2021, e as RSF, do general Mohamed Hamdane Daglo.
As RSF intensificaram os seus ataques a Al-Fashir, capital do Estado de Darfur do Norte e único reduto do exército no oeste do Sudão, depois de terem perdido a maioria das suas posições no leste do país nos últimos meses, bem como em Cartum e nos seus arredores, a capital do país.
Al-Fashir é uma cidade estratégica tanto para as RSF como para o exército, que a está a defender para a utilizar como plataforma de lançamento para recapturar os cinco estados do Darfur controlados pelos paramilitares.
Por seu lado, as RSF têm vindo a sitiar e a atacar a cidade desde há um ano, numa tentativa de desmantelar a presença do exército regular na região, que tem longas fronteiras com a Líbia e o Chade, a norte e a oeste, e com a República Centro-Africana e o Sudão do Sul, a sudoeste e a sul.
Desde o início, há mais de dois anos, a guerra no Sudão matou dezenas de milhares de pessoas e deslocou mais de 12 milhões.
Mais de três milhões dessas pessoas procuraram refúgio nos países vizinhos, nomeadamente no Sudão do Sul, no Chade e no Egito, o que faz do Sudão o cenário da pior crise humanitária do mundo.