
A convenção Democrata começou esta segunda-feira, em Chicago, com uma surpresa: Kamala Harris. O primeiro dia ficou ainda marcado pelo discurso emocionado de Joe Biden e as declarações de Hillary Clinton.
A vice-presidente Kamala Harris tinha discurso agendado para quinta-feira, no encerramento da convenção, mas antecipou as primeiras declarações para o arranque da reunião.
Na primeira aparição como candidata oficial do partido Democrata às eleições de novembro, Kamala homenageou o Presidente Biden pela “sua liderança histórica”
"Quero começar por celebrar o nosso incrível Presidente, Joe Biden (...) Estamos-lhe eternamente gratos."
Harris, que apareceu de sorriso rasgado perante uma audiência que os analistas da CNN classificaram de "eletrizante", mencionou a diversidade das pessoas presentes na Convenção, que regressa a Chicago 28 anos depois.
"Olhando para todos os presentes esta noite, vejo a beleza da nossa grande nação, gente de todos os lados e com todo o tipo de historial", disse Harris.
A candidata democrata, que em menos de um mês conseguiu virar as sondagens dos estados críticos a seu favor, falou de "seguir em frente" com uma mensagem de "otimismo, esperança e fé", salientando que há muito mais que une que o que separa os americanos uns dos outros.
Biden passa testemunho a Harris e declara missão de preservar democracia
O líder norte-americano, Joe Biden, passou o testemunho a Kamala Harris durante a convenção, onde disse que o percurso ao lado da vice-presidente foi feito em defesa da democracia.
“Com gratidão no coração, digo-vos nesta noite de agosto que a democracia prevaleceu (...) E agora a democracia tem de ser preservada."
Biden foi recebido com uma ovação de mais de quatro minutos e mostrou-se energético, projetando a voz num discurso onde passou em revista todas as conquistas da sua administração e a fasquia da eleição de novembro.
"Estamos num ponto de inflexão (...) É um desses raros momentos na História em que as decisões que tomarmos agora vão determinar o futuro durante décadas."
Joe Biden passou o testemunho projetando medidas da futura administração, desde restaurar o direito ao aborto a tornar o crédito fiscal infantil permanente e aumentar os impostos das grandes corporações.
Interrompido mais do que uma vez com cânticos de "We love Joe" (Adoramos o Joe) e "Thank you Joe" (Obrigado Joe), Biden mostrou o maior vigor ao falar de Donald Trump, o oponente republicano que derrotou em 2020 e que é novamente candidato.
"Donald Trump diz que os Estados Unidos são uma nação falhada", disse, mostrando-se indignado. "Pensem na mensagem que ele envia para o mundo inteiro, quando diz que os Estados Unidos são uma nação falhada. Ele é que é o falhado. Está completamente errado."
Biden acusou Trump de mentir sobre as estatísticas de crime nos Estados Unidos, contrapondo que o crime violento está em mínimos de 50 anos.
"O crime vai continuar a descer quando pusermos uma procuradora na presidência em vez de um criminoso condenado."
O Presidente democrata abordou também o facto de Trump ter levado ao chumbo de uma legislação bipartidária para reforçar a segurança na fronteira e afirmou que Kamala Harris, ao contrário do republicano, "não vai demonizar os emigrantes".
Kamala "vai ser uma presidente histórica"
O chefe de Estado realçou a resistência da Ucrânia, garantindo que Harris não dobrará o joelho perante o Presidente russo, Vladimir Putin, e falou da sua proposta de cessar-fogo para o conflito Israel-Hamas, que criou uma catástrofe humanitária em Gaza.
"Os manifestantes lá fora têm razão, muita gente está a morrer - dos dois lados", disse Biden, mencionando as milhares de pessoas que protestam contra a guerra em Gaza nos arredores da convenção.
O discurso serviu como despedida de Biden, menos de um mês depois de desistir da corrida e apoiar Kamala Harris. Falou dos 50 anos que passou na política e declarou-se grato a todos, mostrando-se otimista.
"Selecionar a Kamala foi a primeira decisão que tomei quando fui nomeado, e foi a melhor decisão que tomei em toda a minha carreira política (...) Ela vai ser uma presidente de que todos podemos ter orgulho. Vai ser uma presidente histórica", afirmou, prometendo ser o melhor voluntário da sua campanha.
Regressando várias vezes ao assalto ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021, Biden disse que todos os norte-americanos têm a obrigação de voltar a salvar a democracia em 2024. "Foi a honra da minha vida servir como vosso presidente", afirmou. "Adoro este cargo, mas amo ainda mais o meu país".
Hillary Clinton deixa elogios a Biden e Kamala
A antiga candidata presidencial Hillary Clinton afirmou durante a convenção democrata que a nomeação de Kamala Harris para presidente e a sua corrida à Casa Branca abrem um novo capítulo na história dos Estados Unidos.
"Alguma coisa está a acontecer na América. Conseguimos senti-lo. É algo pelo qual trabalhámos e com que sonhámos durante muito tempo", afirmou na segunda-feira Hillary Clinton, depois de ser ovacionada durante dois minutos por milhares de democratas.
"Estamos a escrever um novo capítulo na história da América."
Clinton recordou vários marcos importantes no percurso político das mulheres, desde a conquista do direito ao voto às primeiras mulheres a candidatarem-se à Casa Branca. Também abordou a sua própria tentativa, em 2016, quando foi derrotada pelo republicano Donald Trump.
"Recusámo-nos a desistir da América. Milhões marcharam, muitos candidataram-se a cargos e mantivemos os olhos no futuro (...) Bom, meus amigos, o futuro chegou."
Clinton teve um dos discursos mais aplaudidos da noite e abordou diretamente o rival político Donald Trump e a sua condenação por 34 crimes em Nova Iorque. A multidão irrompeu em cânticos "Lock him up!" ("prendam-no"), ecoando as palavras de ordem que os apoiantes de Trump cantaram contra Clinton na eleição em 2016. Trump irá conhecer a sentença em Nova Iorque em setembro.
"A Constituição diz que o trabalho do presidente é garantir que as leis são executadas de forma fiel. Olhem para os candidatos", urgiu Clinton, traçando o contraste com Kamala Harris, que foi procuradora-geral da Califórnia e trabalhou para encarcerar assassinos e traficantes. "Donald só quer saber dele próprio", apontou a ex-primeira dama.
"Kamala tem a experiência e a visão para nos liderar", continuou, falando do trabalho em prol de crianças abusadas e negligenciadas, algo que ambas fizeram no início das suas carreiras. "Esse trabalho muda uma pessoa, essas crianças ficam na nossa mente".
A convenção democrata decorre até 22 de agosto com uma parada de estrelas do partido, cujo objetivo é não perder o momento propício que vive e não ter a consagração de Harris ofuscada pelos protestos pró-Palestina nos arredores do centro de convenções.
Com Lusa