
Uma fonte diplomática ucraniana revelou, esta sexta-feira, que as exigências da Rússia para um cessar-fogo na Ucrânia são irrealistas e "vão muito além de tudo o que foi discutido anteriormente". Os representantes dos dois países estão, hoje, em Istambul.
"As exigências russas estão desligadas da realidade e vão muito além de tudo o que foi discutido anteriormente. Incluem ultimatos para que a Ucrânia se retire do seu próprio território para que haja um cessar-fogo, entre outras condições inaceitáveis e não construtivas", disse a fonte à Reuters sob anonimato.
"A Ucrânia está pronta para um cessar-fogo real e para avançar com um processo de paz genuíno, sem quaisquer pré-condições."
Do lado russo, não houve ainda declarações sobre o desenrolar das conversações.
As primeiras conversações diretas de paz entre a Rússia e a Ucrâniaem mais de três anos duraram menos de duas horas e terminaram sem sinais visíveis de progresso. Uma fonte ucraniana indicou à agência France-Presse (AFP) que a delegação de Kiev "abandona hoje Istambul".
Da reunião desta sexta-feira, saíram poucas resoluções. Rússia e Ucrânia concordaram com a troca de mil prisioneiros de cada lado"como medida de construção de confiança" e "chegaram a um acordo para partilhar por escrito as condições em que um cessar-fogo poderia ser acordado", relatou o ministro dos Negócios Estrangeiros turco.
As expectativas já eram baixas e ficaram ainda mais abaladas depois de Donald Trump ter dito que só haveria avanços com uma reunião entre ele próprio e Vladimir Putin.
Entretanto, o presidente ucraniano disse que a prioridade de Kiev é um “cessar-fogo total, incondicional e honesto” para pôr fim aos combates e criar uma base sólida para a diplomacia. Caso Moscovo recuse, Zelensky defendeu a imposição de novas sanções, mais duras, que afetem os setores energético e bancário da Rússia.
A Ucrânia e os seus aliados acusam o Presidente russo de estar a ganhar tempo e de não querer realmente a paz.
Zelensky e líderes europeus já falaram com Donald Trump
Após o encontro, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e os chefes de Governo de França, Alemanha, Reino Unido e Polónia conversaram por telefone com o líder norte-americano, Donald Trump.
"A Ucrânia está pronta para tomar medidas o mais rapidamente possível para alcançar a paz real, e é importante que o mundo mantenha uma posição forte", afirmou Zelensky nas redes sociais a seguir ao telefonema conjunto.
A mensagem do líder ucraniano surge acompanhada de uma imagem que mostra o momento da ligação telefónica, com a presença do homólogo francês, Emmanuel Macron, do chanceler alemão, Friedrich Merz, e dos primeiros-ministros britânico, Keir Starmer, e polaco, Donald Tusk.
Quem marcou presença na reunião?
A delegação ucraniana, liderada pelo ministro da Defesa, Rustem Umerov, reuniu-se primeiro com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, na presença do ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, e depois com a delegação russa, chefiada pelo conselheiro presidencial Vladimir Medinsky, que também foi recebido pelo chefe da diplomacia do país anfitrião.
"Hoje foi um dia importante para a paz mundial. Graças aos intensos esforços diplomáticos, as delegações russa e ucraniana realizaram uma reunião em Istambul, com o apoio da Turquia", escreveu Fidan na rede social X.
Putin propôs negociações, mas não apareceu em Istambul
O Presidente russo, Vladimir Putin, propôs na semana passada a realização de negociações diretas, mas não respondeu ao desafio de Zelensky para se reunirem ambos em Istambul e enviou uma delegação liderada pelo seu conselheiro cultural. Zelensky lamentou que Putin tenha tido medo de visitar a Turquia.
"Estive ontem [quinta-feira] em Ancara e estava pronto para um encontro direto com Putin", disse Zelensky, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Zelensky afirmou que Putin não aceitou nada do que lhe propôs e enviou a Istambul uma delegação "de um nível muito baixo", em que nenhum dos elementos "pode realmente tomar decisões" na Rússia.
"Se os representantes russos em Istambul não conseguirem sequer concordar com um cessar-fogo, então será 100% claro que Putin continua a enfraquecer a diplomacia", acrescentou.
Com Reuters e LUSA