
O antigo Presidente da República Cavaco Silva lembrou esta quarta-feira que, em 1980, os ataques à pessoa do então primeiro-ministro Sá Carneiro produziram "efeitos contrários" aos pretendidos pela oposição, num aparente paralelismo com a atualidade sem nunca referir Luís Montenegro.
Na apresentação de um livro que reúne textos do fundador Francisco Sá Carneiro no ano da sua morte, 1980, Cavaco Silva recordou a forma como o antigo primeiro-ministro alcançou a primeira maioria absoluta da AD em 1979 e a reforçou meses mais tarde, bem como a "campanha de calúnias" de que considerou ter sido vítima por parte de PS e PCP.
"Os ataques à pessoa do primeiro-ministro por parte do Partido Socialista e do Partido Comunista tiveram, afinal, efeitos contrários àquilo que eles esperavam (...) Apesar das campanhas movidas pela oposição contra o primeiro-ministro Sá Carneiro, a Aliança Democrática voltou a ganhar as eleições em 5 de outubro de 1980, reforçando mesmo a sua maioria", referiu.
O antigo chefe de Estado considerou ainda que "Sá Carneiro é a prova de que, em Portugal, a escolha da pessoa do primeiro-ministro é decisiva para o sucesso do Governo e para a resolução dos problemas de Portugal".
"Quando, em 1985, cheguei a primeiro-ministro, foi ao exemplo de Sá Carneiro, como primeiro-ministro em 1980, que fui buscar os ensinamentos básicos para o exercício do cargo. Creio que os seus ensinamentos não perderam a atualidade", defendeu.
Cavaco Silva recordou que Sá Carneiro não foi "nada meigo em relação à oposição socialista e comunista" e acusou-a de "à falta de razões sérias e de substância, trazer ao debate a falsidade, a insídia, a calúnia, a suspeição e os ataques à pessoa do primeiro-ministro".
"Em 16 de agosto de 1980, face à continuação dos ataques pessoais do Partido Comunista a que se associaram os socialistas, Sá Carneiro faz uma comunicação ao país, ladeado por todos os seus ministros, refutando as acusações que lhe eram feitas de dívidas à banca nacionalizada e condenando veementemente as práticas e os métodos utilizados pela oposição", recordou, noutra aparente ligação ao discurso feito por Luís Montenegro em São Bento com todo o seu Governo a propósito da polémica com a empresa Spinumviva.
Nessa comunicação ao país de Sá Carneiro, prossegue Cavaco Silva, o então primeiro-ministro foi "categórico na afirmação de que o Governo não se deixará intimidar com as campanhas difamatórias e continuará a trabalhar para o desenvolvimento de Portugal e dar aos portugueses o bem-estar e a justiça a que têm direito".
Cavaco Silva, que foi ministro das Finanças e do Plano de Sá Carneiro salientou quatro qualidades do fundador do PSD que considerou não terem perdido atualidade.
"Primeiro, a sua determinação, a frontalidade e a coragem com que lutava pela transformação do Portugal num Estado de direito, numa democracia de tipo ocidental, num país moderno integrado na comunidade económica europeia", afirmou.
Depois, a capacidade de liderança de Sá Carneiro na forma de dirigir o Governo, a sua "preocupação em governar com justiça e lutar contra a pobreza", bem como o imperativo moral de cumprir as promessas eleitorais.
"Finalmente, a defesa da estabilidade política de um Governo de maioria resultante de um contrato de legislatura com o eleitorado. Um Governo com condições para planear, programar e executar políticas estruturais", afirmou.
Montenegro como Sá Carneiro
A este propósito, lembrou, mesmo depois de ter reforçado a maioria absoluta nas eleições de outubro de 1980, Sá Carneiro não se deu por satisfeito com o chumbo de duas moções de rejeição ao seu programa e avançou para uma moção de confiança, noutra aparente comparação com a atuação de Montenegro na recente crise política.
"Com a aprovação da moção de confiança, Sá Carneiro queria que ficasse bem vincado que a Assembleia de República, pela positiva e expressamente, considerava que o Governo merecia a sua confiança e tinha as condições para executar de forma cabal o seu programa", disse.
Na sua intervenção, Cavaco Silva nunca referiu a situação de pré-campanha eleitoral nem a do primeiro-ministro Luís Montenegro. No final, nenhum dos dois prestou declarações à comunicação social.
O primeiro-ministro e líder do PSD acompanhou o antigo chefe de Estado à saída e, no final, despediu-se com a frase "Até dia 6, se não for antes", numa aparente referência ao jantar de aniversário do partido marcado para 06 de maio, já durante a campanha eleitoral para as legislativas antecipadas de 18 de maio.
Com LUSA