Há quem diga que é "o evento cultural do ano". e o entusiasmo justifica-se, não apenas pelo tempo que levou a concretizar mas sobretudo pelo potencial de descoberta que se desvela, com a possibilidade de trazer de novo à superfície um edifício público fundado em meados do século I d.C., o que multiplica o interesse e relevância internacional do sítio arqueológico de Conímbriga.

A ambição era antiga, mas até agora não tinha sido possível garantir as condições para prosseguir as escavações arqueológicas cujo estudo começou há mais de século e meio. Agora a Museus e Monumentos de Portugal, tutelada pelo Ministério da Cultura, deu um passo fundamental que poderá permitir finalmente desenterrar o fórum romano de que atualmente muito pouco se consegue ver em Conímbriga. O Estado concretizou a compra de 18 terrenos em volta daquele que já era propriedade pública e viabilizará assim o alargamento em larga escala das zonas de continuação de escavação. Com um investimento de 230 mil euros, terrenos e imóveis que pertenciam a famílias originárias da zona passam agora para a esfera pública, permitindo ampliar a investigação arqueológica e desenterrar toda a história desse passado romano cujo património já é motivo de grande interesse  relevância patrimonial mundial.

Conhecidas as ruínas desde o século XVI, o seu estudo estruturado arrancou ainda em 1873, com a criação de uma secção de Arqueologia pelo Instituto de Coimbra e as primeiras grandes escavações a recuar a 1899, "resultando no levantamento da planta do oppidum e na documentação dos mosaicos", conforme explica a Museus e Monumentos de Portugal no anúncio feito neste início de tarde. "A partir de 1929, escavações sistemáticas foram impulsionadas pelo XI Congresso Internacional de Antropologia e Pré-História, levando o Estado a adquirir terrenos em 1930" e dando seguimento a "importantes trabalhos de reconstituição e consolidação das ruínas, especialmente dos mosaicos", nas décadas seguintes, contribuindo para a valorização deste importante sítio arqueológico, classificado como Monumento Nacional desde 1910.

Já em 1954, João Manuel Bairrão Oleiro, o primeiro diretor do Museu Monográfico de Conímbriga e grande percursor das escavações, afirmava que a cidade antiga de Conímbriga seria bem maior do que inicialmente se pensava e assumia a ambição de o Estado poder alargar a sua propriedade pelos terrenos vizinhos, de forma a conseguir-se estudar plenamente o local e desvendar mais pistas sobre os que outrora ali viveram e cujos vestígios permanecem, abrindo portas a um imenso potencial de descoberta arqueológica.

Agora, a espera chegou ao fim. "A Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E., formalizou nesta semana a aquisição dos últimos lotes de terreno para a expansão do campo arqueológico do Museu Nacional de Conímbriga (MNC), dando assim por concluído um processo que permitirá, finalmente, potenciar um património monumental e de investigação com valor histórico-arqueológico e turístico sem rival no ocidente da Lusitânia", comunica a instituição, dando conhecimento de que os cerca de dois hectares que se adicionam à esfera de Conímbriga têm "um enorme potencial de acréscimo e transformação da investigação e da musealização, tornando possível a normalização entre áreas públicas e privadas localizadas no campo arqueológico do MNC".

Este passo permitirá não apenas ampliar muto os estudos e a investigação arqueológica mas também alargar as visitas a Conímbriga, com uma notável mais-valia, somando "valor histórico, monumental e ambiental ao contexto patrimonial e turístico da região".

Para o atual diretor do museu, Vítor Dias, "a aquisição destas parcelas é um enorme motivo de orgulho, que honra o legado das boas práticas patrimoniais exercitadas por diversas gerações e que urge continuar, sob pena de não salvaguardarmos em tempo útil património que não se regenera e que corre sérios riscos de não se preservar". Uma vitória assinalada mesmo porque várias tentativas prévias de concretizar esta aquisição acabaram por não chegar a bom porto, impedindo o alargamento do trabalho e atrasando as descobertas e estudos que agora poderão ser realizados na totalidade da área da antiga cidade, o que representa "uma conquista estruturante para a historiografia do Museu e do sítio arqueológico", com possibilidade de planear a investigação e musealização do Vale Norte e do Anfiteatro romano.

As parcelas dividem-se por várias zonas próximas ou contíguas ao espaço do Museu, incluindo a área onde se localiza aquele que é o anfiteatro romano com maior potencial patrimonial localizado em território português (apenas cinco destes edifícios de espetáculos estão identificados no território da Lusitânia romana), pelo que, revela também Alexandre Nobre Pais, presidente da Museu e Monumentos de Portugal, será agora possível "desenvolver a médio-longo prazo um núcleo museológico de grande singularidade e um produto patrimonial único no país, capaz de acrescentar um imensurável valor a toda a região".

O Museu Nacional de Conímbriga, inaugurado em 1962 como Museu Monográfico de Conímbriga e elevado a Museu Nacional em 2017, integra as ruínas da cidade antiga de Conímbriga, combinando a área escavada, a reserva arqueológica e o espaço expositivo. A investigação arqueológica precedeu a criação do museu, tendo-se iniciado no século XIX e consolidado no século XX, especialmente após a classificação do sítio como Monumento Nacional.