
A Associated Press (AP) contestou hoje os argumentos apresentados pelo Exército israelita para justificar os ataques no final de agosto a um hospital no sul da Faixa de Gaza, que mataram cinco jornalistas palestinianos, incluindo um daquela agência noticiosa.
Em 25 de agosto, 22 pessoas, incluindo cinco jornalistas, foram mortas em ataques israelitas a um edifício do Hospital Nasser, em Khan Younis, segundo as autoridades de Gaza.
O Exército israelita divulgou no dia seguinte aos ataques uma "investigação inicial" onde afirmava que estes foram realizados para "eliminar uma ameaça", depois de ter detetado "uma câmara instalada pelo Hamas", o movimento islamista palestiniano no poder em Gaza desde 2007, para "observar a atividade das suas tropas" com o objetivo de as atacar.
A agência de notícias referiu hoje que os resultados das suas próprias investigações "questionam seriamente" a versão dos acontecimentos do Exército israelita, que está em guerra com o Hamas em Gaza desde o ataque sem precedentes do movimento islamita a Israel, em 07 de outubro de 2023.
A AP reiterou de imediato que o topo do edifício atingido pelo Exército israelita é "um local conhecido" utilizado pelos jornalistas, principalmente para transmissões de vídeo em direto.
De acordo com testemunhas, o local é frequentemente sobrevoado por drones, e isso ocorreu "cerca de 40 minutos antes do ataque", acrescentou no relatório.
A agência citou um oficial militar israelita que referiu, sob anonimato, que o Exército foi levado a acreditar que uma câmara no telhado do hospital estava a ser utilizada pelo Hamas porque ela e o seu operador estavam cobertos com uma toalha, o que foi considerado suspeito.
No telhado estava um jornalista da agência de notícias britânico-canadiana Reuters, Hossam al-Masri, que frequentava regularmente o terraço do hospital e deveria ter sido facilmente identificado como tal pelo drone que sobrevoou o local antes do primeiro ataque, que lhe causou a morte, frisou a AP, referindo que não encontrou qualquer evidência de outra câmara no local nesse dia.
A agência referiu ainda que cobrir a câmara com um pano ou tecido para a proteger das intempéries é uma prática comum entre os repórteres de imagem.
A AP afirmou também ter descoberto "outras decisões preocupantes" de israelitas.
"Logo após o primeiro ataque, as forças israelitas voltaram a atacar a mesma posição, após [a chegada] de equipas de emergência [e] jornalistas [que] acorreram para cobrir o incidente", referiu a agência, afirmando ter descoberto que Israel atacou o hospital "quatro vezes" no total com "projéteis de tanques altamente explosivos" e sem qualquer aviso.
A agência observou ainda que isto expõe Israel a acusações de "duplo ataque", uma prática condenada que visa causar o máximo de baixas e que pode constituir um crime de guerra.
Mariam Dagga, fotojornalista freelancer da AP, foi morta nestes ataques secundários.
Questionado pela agência France-Presse (AFP) sobre este artigo, o Exército israelita remeteu para a sua declaração de 26 de agosto.
Nesta nota, as forças israelitas apontavam que o chefe do Estado-Maior tinha "ordenado o prosseguimento da análise de várias deficiências", incluindo "o processo de tomada de decisão no terreno" e "as armas utilizadas no ataque".
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.
A guerra no enclave palestiniano fez, até agora, pelo menos 64.300 mortos, na maioria civis, e 162.005 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.