Falando aos jornalistas antes da cerimónia de posse de José Manuel Moura como presidente da Autoridade Nacional de Emergência Proteção Civil (ANEPC), D. Américo de Aguiar começou por recusar que possa haver uma polémica nacional em torno da questão da aprovação ou não de uma amnistia para os reclusos.
"Não podemos ver polémicas e problemas em todo o lado, estamos num Estado de Direito. Alguém faz uma proposta, o parlamento acolhe depois educadamente essa proposta, avalia a proposta, pondera e toma as suas decisões", respondeu.
A seguir, procurou desdramatizar as consequências de uma amnistia no plano da justiça.
"Perdoar não altera o passado, o perdão não altera o sofrimento das vítimas, o perdão não altera tudo aquilo que aconteceu, o perdão não altera o sofrimento, nem as dificuldades que as vítimas vivem. Mas o perdão pode mudar o futuro das pessoas. E é uma decisão de enorme humanidade", sustentou Américo Aguiar, também bispo de Setúbal.
Em 06 de janeiro passado, Américo Aguiar, na qualidade de representante da Igreja Católica, entregou ao presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, um pedido para uma amnistia para reclusos, no quadro do apelo feito pelo Papa no início do Jubileu.
No entanto, para já, no plano político, esta proposta é recusada pelo Chega, Iniciativa Liberal e PAN e levanta dúvidas ao PSD.
"O parlamento é soberano nas suas avaliações, vamos deixar correr o calendário. Eu estou habituado ao jogo democrático", alegou, antes de lembrar que a mais recente amnistia apenas abrangeu os jovens e excluiu uma parte significativa da população prisional.
O bispo contou então que visita com elevada frequência as cadeias de Setúbal e do Montijo.
"Os reclusos dizem-me que, no âmbito da amnistia pela Jornada Mundial da Juventude, foram excluídos porque tinham mais de 30 anos. Essa é diariamente a situação com maior dificuldade que vivo", acentuou.
Interrogado se existem divergências dentro da Igreja Católica em relação a essa ideia de amnistia, Américo Aguiar recusou em absoluto.
"Era o que faltava. Se a Igreja Católica não tivesse consenso em relação ao perdão, alguma coisa estaria mal. O perdão é identitário dela", acrescentou.
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