O presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque (PSD), apresentou hoje os pêsames à família do padre Martins Júnior, que morreu na quinta-feira, e não quis acrescentar mais nada.

À margem de uma visita a uma empresa no concelho de Câmara de Lobos, Albuquerque foi questionado pelos jornalistas sobre a morte do padre, que também foi ex-deputado no parlamento regional eleito pela UDP e, mais tarde, pelo PS.

"Apresento os meus pêsames à família", disse apenas. Questionado se não tinha mais nada a acrescentar, Miguel Albuquerque foi taxativo: "não".

O padre madeirense Martins Júnior, que esteve suspenso 'a divinis' durante 42 anos, morreu na noite de quinta-feira aos 86 anos, indicou a diocese do Funchal. Entretanto, várias autoridades regionais reagiram, em comunicado, à morte do pároco, entre as quais o representante da República para a Região Autónoma da Madeira, Ireneu Barreto, a presidente da Assembleia Legislativa Regional, Rubina Leal, e alguns partidos políticos.

O Governo Regional não emitiu qualquer nota de pesar à morte do padre Martins, como era popularmente conhecido na região.

O representante da República, através de uma nota enviada às redações pelo seu gabinete, destacou o trabalho do padre, nascido em 1938, e salientou que foi uma "figura incontornável da história da Região Autónoma da Madeira ao longo das últimas seis décadas".

"Defensor da liberdade, da democracia e da participação cívica, antes e depois da Revolução de Abril de 1974, sempre se bateu, de forma corajosa, pela melhoria de vida dos mais carenciados e humildes da nossa sociedade, na Ribeira Seca, em Machico e na nossa região", escreveu o gabinete do represente da República.

A presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Rubina Leal, manifestou também pesar pela morte do padre Martins Júnior e destacou o seu percurso de "mérito próprio" que o torna uma das personalidades que marca a história recente da região.

"Defensor de diversas causas, com um amor incondicional a Machico, bem como à paróquia da Ribeira Seca, o padre Martins Júnior é, por mérito próprio, uma das personalidades que marca a história recente da nossa região", lê-se numa nota enviada às redações pelo gabinete da presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Rubina Leal.

Também o JPP, partido que lidera a oposição no parlamento madeirense, expressou "profundo pesar" e "sentidas condolências à família e amigos" do padre, através de uma nota enviada às redações.

O secretário-geral do partido, Élvio Sousa, recordou o histórico pároco como "um homem da liberdade, dotado de uma ousadia cívica e política avançada, a voz que se erguia a favor dos que eram privados de se exprimirem livremente contra o pensamento de sentido único".

O presidente do PS/Madeira, Paulo Cafôfo, manifestou igualmente pesar pelo falecimento de Martins Júnior, classificando o pároco como "um homem de causas, símbolo de resiliência e de luta pela afirmação dos valores democráticos".

Nascido em 16 de novembro de 1938 e ordenado padre em 15 agosto de 1962, Martins Júnior foi suspenso 'a divinis' em julho de 1977 pelo então bispo do Funchal Francisco Santana, mas nunca deixou de prestar serviço religioso naquela paróquia, para a qual fora designado em 1969.

O sacerdote dedicou-se desde cedo à política e entrou em rota de colisão com as autoridades eclesiásticas, mas continuou a ter o apoio da população local e realizava os serviços religiosos, batismos e casamentos.

Em junho de 2019, o atual bispo da diocese do Funchal, Nuno Brás, anunciou a revogação da suspensão, uma medida com grande impacto mediático ao nível regional, e nomeou Martins Júnior administrador paroquial da Ribeira Seca, situação que se manteve até à tomada de posse do novo pároco, o cónego Manuel Ramos, em fevereiro de 2023.

"Era um caso muito particular", disse na altura Nuno Brás, sublinhando que a revogação da suspensão era uma medida "exigida quase por toda a gente" e que "foi até relativamente fácil tomar essa decisão".

Martins Júnior fora suspenso por se ter recusado a entregar a chave da igreja da Ribeira Seca ao bispo Francisco Santana e participou ativamente na vida pública e política regional como presidente da Câmara Municipal de Machico pela UDP (1989) e pelo PS (1993), e como deputado na Assembleia Legislativa da Madeira, tendo sido eleito quatro vezes nas listas da UDP e três nas do PS.

Antes de celebrar a sua última missa, em 05 de fevereiro de 2023, o sacerdote declarou à imprensa regional que, durante o seu percurso, serviu o povo de Deus e não a Igreja Católica.