No Encontro Fora da Caixa, a decorrer no Savoy Palace, no Funchal, a investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI-NOVA), Raquel Vaz Pinto, traçou um retrato inquietante do cenário global em 2025, sublinhando que “a China quer ter aquilo que os EUA tiveram e têm durante muito tempo: a hegemonia”.

Na conversa conduzida pelo jornalista José Pedro Frazão, sob o tema ‘Portugal, Europa e o Mundo em 2025’, Raquel Vaz Pinto rejeitou a ideia de um bloco coeso entre os chamados BRICS, considerando que “não há BRICS do ponto de vista geopolítico, não há BRICS a nível geoestratégico” e frisando que “para uma estratégia tem de haver uma liderança”.

Sobre a actualidade internacional, e a recente cimeira da NATO, a investigadora afirmou que “parece que estes cinco, seis meses já lá vão para aí uns dois anos, no mínimo. Estamos cansados”, apontando para a “forma unilateral de olhar para o mundo” da actual administração norte-americana. “Os EUA têm há muito tempo problemas ou dificuldades de lidar com tribunais internacionais”, lembrou, acrescentando que o “mapa mental, a forma como Trump olha para o mundo é pré-industrial”. Segundo a especialista, “não precisa de aliados, não precisa de amigos”, adoptando uma “estratégia de manter o domínio sem ter aliados, sem ter amigos”.

Relativamente à Europa, Raquel Vaz Pinto foi clara: “a Europa vive um momento particularmente difícil”. Enumerou “menos EUA, sobretudo do ponto de vista da defesa”, “menos China” e “não contando com a Rússia” como factores que agravam a vulnerabilidade do continente.

No que toca a Portugal, deixou um aviso: “O mar que nós temos é um trunfo que nós temos, mas é um trunfo que tem de ser aproveitado”. A investigadora defendeu uma aposta estratégica no Atlântico e na valorização dos recursos marítimos como elemento-chave para a projecção do País no novo ciclo político e económico.